Não sabemos se futebol é tão homofóbico, diz ex-jogador que assumiu ser gay

Genilson Coutinho,
13/01/2014 | 16h01

O ex-meio-campista da seleção alemã e de times como Wolfsburg, Aston Villa e Everton – que se aposentou em setembro do ano passado – deu uma entrevista a um jornal alemão nesta semana assumindo ser gay.

Outros jogadores e ex-atletas já assumiram sua homossexualidade no passado, mas não há casos entre atletas que atuaram nas primeiras divisões da Inglaterra e Alemanha (a Premier League e a Bundesliga).
No ano passado, o americano Robbie Rogers anunciou sua homossexualidade ao se aposentar do Leeds (segunda divisão inglesa), mas acabou voltando à atividade ao ser contratado pela equipe Los Angeles Galaxy.
Em duas entrevistas à BBC, Hitzlsperger falou sobre as contradições entre a imagem que as pessoas têm de um jogador gay e a realidade.
“Já ouvi pessoas dizerem que no futebol profissional você tem que ser forte e poderoso, e acham que ser gay não é isso. Que você é o oposto: que é mole, que não gosta de dar carrinho, que é fraco”, disse o ex-jogador.
“Mas quando vejo o meu caso, eu era apelidado de ‘O Martelo’ porque tenho um chute forte com a esquerda e sou forte. Eis ai uma contradição. Por que as pessoas acham que ser gay é ser fraco? Eu acho que provei o contrário.”

Nesta quinta-feira, a Fifa destacou a atitude do ex-jogador. Por meio de um comunicado oficial, a entidade máxima do futebol mundial declarou apoio à decisão de Thomas Hitzlsperger e disse que seguirá tomando medidas contra a discriminação e o racismo no futebol.
“A Fifa e o seu presidente (Joseph Blatter) apoiam a decisão de Thomas Hitzlsperger de anunciar sua orientação sexual. Infelizmente, ainda existe preconceito dentro do futebol. A Fifa está trabalhando duro para acabar com isso e espera que o depoimento de Thomas aumente o respeito”, dizia a nota.
“Durante muitos anos, a Fifa tomou medidas contra qualquer forma de discriminação, inclusive contra orientação sexual.”
Confira abaixo um trecho da  entrevista de Hitzlsperger à Radio 4, da BBC.

BBC: Que reação você esperava quando decidiu anunciar que é gay?

Hitzlsperger: Eu não sabia o que esperar. Eu simplesmente havia decidido que era a hora certa para fazer isso, sem pensar muito na reação.

Há dois anos eu estava neste mesmo ponto, em que eu queria falar, mas na época fui alertado por várias pessoas de que seria demais, jogar futebol e lidar com isso ao mesmo tempo. E eles estavam certos. Nas últimas semanas tive que trabalhar bastante para me preparar para hoje. Não consigo imaginar jogar futebol e fazer isso ao mesmo tempo.

BBC: Você se aposentou em setembro e obviamente já sabia que era gay há alguns anos.

Hitzlsperger: Sim, no final da minha carreira eu já tinha certeza de que era gay e de que queria viver com outro homem. Mas nunca senti a necessidade de falar abertamente sobre isso no vestiário ou publicamente enquanto eu jogava. Foi só recentemente que pensei que teria tempo para lidar com isso.

Eu nunca tive vergonha (de ser gay) e achei que era o momento certo. Uma vida minha acabou – a de jogador de futebol – e estou prestes a começar uma nova vida. Espero que isso vá me fazer sentir melhor. Com certeza já me sinto bem, é uma sensação ótima. Com informações da BBC Brasil