Música

Música: Elba arrasa absoluta no São João do Pelourinho

Genilson Coutinho,
22/06/2015 | 12h06

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Lindíssima, vestida de cigana, com um sapato que parecia ter sido feito sob medida, a cantora soltou a voz em Salvador com sucessos antigos, com bailarinos baianos e uma banda mal vestida, mas afiada.”

Por Elenilson Nascimento

No período das festas juninas, no ano passado, a cantora paraibana Elba Ramalho declarou: “Em 35 anos de carreira eu nunca fui tão massacrada em outros estados como no meu próprio Estado”, disse. Ela, na ocasião, reclamava das pessoas que não a veem pelo ângulo bom de artista e de pessoa. Mas isso reflete, infelizmente, na falta de cultura, educação e posicionamento político do nosso povo. Com 64 anos de idade, corpinho de 40, mente tinindo e quase 10 milhões de discos vendidos, Elba ainda se ressente das críticas que recebe dos conterrâneos.

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Esse ano, a cantora já saiu em defesa da redução dos dias de festa no São João de Campina Grande e criticou os cachês de artistas que não tem “identificação” com os festejos juninos. Elba afirmou que o governo deveria economizar e se dedicar mais à seca no Nordeste. Ela afirmou ainda que ter festa é muito importante, mas é preciso achar o equilíbrio. Pode ser até um contrasenso, visto que, artistas como ela, fatura mais nesse período do ano, mas, para a cantora, diminuir os dias de festa seriam uma alternativa, escolher dias chave e fazer uma “coisa de qualidade focando nos artistas da terra”.

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Mas como tudo muda… os pensamentos, as convicções, as estações, as caras, os ventos, menos a vanguarda medíocre e a vergonha desse País, Elba sabe muito bem que a melhor forma de levar adiante a música nordestina — ou qualquer movimento artístico — é simplesmente sendo ela mesma, embaixadora, soldado, militante e pensadora que sempre foi das sanfonas, triângulos, zambumbas e guitarras de sua Paraíba e de toda região. E, talvez por isso, no início do ano, Elba lançou o seu 33º álbum, “Do Meu Olhar Pra Fora”, um disco onde brilha com uma voz madura, antenada, se enturmando com bons músicos, produzindo um disco bacana, sempre soando confortável.

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O disco trouxe uma canção chamada “Olhando o coração”, parceria inédita de Dominguinhos (*morto em 2013) e Climério Ferreira, que parece que foi feita sob medida para o canto valente da Leoa do Norte. E, mantida na pressão, toda essa sonoridade pop contemporânea parece que também foi por mérito do filho, agora promovido a produtor, Luã Mattar e do pernambucano Yuri Queiroga. E, é claro que, embora seja difícil a competição com o trio sanfona-zambumba-triângulo, o lado romântico de Elba também dá as caras no disco, e bem. A canção “Árvore”, de Edson Gomes, é um bom exemplo disso: “Vem me regar mãe/Vem me regar/Vem me regar mãe/Vem me regar…” Pura poesia!

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Mas, na noite do último domingo(21), Elba foi a principal atração no Pelourinho, Salvador (BA), anunciando a chegada dos festejos de São João. O show no Terreiro de Jesus serviu para lembrar quem é uma das maiores cantoras populares do Brasil e também uma homenagem à cidade do Salvador, mal tratada nos últimos oito anos pela incompetência dos poderes públicos, e onde a cantora não se apresentava há 16 anos. “É um momento de reencontro, de amor, de paz, de gratidão, afinal tudo começou aqui. Estou muito feliz”, disse. Mesmo com um chuva irritante o público compareceu e o Largo do Pelourinho lotado viu uma cantora cheia de energia e feliz. “Ela se consagrou como artista brasileira e todos os anos nos presenteia com uma festa muito bonita. Não perco mais nenhuma show da Elba”, disse um dos muitos fãs na beira do palco.

Com mais de trinta anos de carreira e sucessos que embalam os apaixonados por forró, Elba orquestrou um arrasta pé de primeira e abriu os festejos juninos em Salvador. Lindíssima, vestida de cigana, com um sapato que parecia ter sido feito sob medida, a cantora soltou a voz com sucessos antigos, com bailarinos baianos e uma banda mal vestida, mas afiada. Em alguns momentos a cantora interagiu tão bem com o público que chegou ao ponto de deixar uma “pintosa” desesperada subir ao palco e dançar com ela – tanto que os seguranças tiveram de arrancá-la de lá, educadamente, é claro. Mas o momento mais bonito foi quando a cantora, atendendo um pedido de um fã, disse que iria cantar só um trecho de “Chão de Giz” – “Eu não aguento mais essa música”, disse – e, depois da participação do público, não teve jeito, levou a música até o final. Linda!

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Apenas duas músicas do disco novo foram apresentadas, “Patchuli”, do Chico César, e “Árvore”, do já citado Edson Gomes. Em todos os momentos, Elba mostrou uma pegada pop e uma bem temperada mistura de ritmos que vão do forró ao rock, passando pelo manguebeat, o maracatu, a chanson francesa, o samba e pelos modernos sintetizadores eletrônicos, presentes no seu novo trabalho que traz uma sonoridade contemporânea sem perder a animação e o sotaque nordestino característicos.

O público soteropoliano foi contemplado com um dos melhores shows desse período. “Cantar em Salvador é sempre um grande prazer. Ainda mais com a presença de amigos queridos. Esse show expressa uma pegada da minha vida. E a Bahia é o lugar certo para este espetáculo”, revelou a artista que sempre pautou por essa renovação sonora no repertório do show que também visitou músicas da fase inicial da sua carreira como “Nó Cego” (Pedro Osmar) e “Banquete de Signos” (Zé Ramalho).

O público ainda foi brindado com o resgate do manguebeat “Caranguejo Dance” (Moraes Moreira), e também com “Ave Anjo Angelis” (Jorge Ben Jor), “Gaiola da Saudade” (Jam da Silva e Maciel Salu), “Estrela Miúda” (João do Valle e Luiz Vieira), e muitas mais. E pra fazer a galera dançar bem coladinha, um pot-pourri forrozeiro com “Sebastiana” (Rosil Cavalcanti), “Do Jeito Que a Gente Gosta” (Severo e Jaguar) e “Na Base da Chinela” (Jackson do Pandeiro e Rosil Cavalcanti), sem falar nos grandes sucessos da artista que fecham a apresentação com muita animação!

A direção do show foi assinada pela própria Elba, com direção musical também de Yuri Queiroga, e figurino de Lino Villaventura. O CD “Do Meu Olhar Pra Fora” foi lançado em março pela Acauã Produtora em parceria com a Coqueiro Verde Records e vale muito a pena! Showzão!

Fotos: Genilson Coutinho