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Mostra homenageia pintor francês Yves Klein

Genilson Coutinho,
09/06/2014 | 16h06

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O francês Yves Klein (1928- 1962) conseguiu conciliar a sua fé em Santa Rita de Cássia com a posição de precursor da arte contemporânea na Europa pós-Segunda Guerra Mundial. “Conceda a mim, a mim e a todas as minhas obras, a invulnerabilidade“, orou à protetora. O artista que criou a cor IKB (International Klein Blue) é homenageado na mostra Altar para Santa Rita de Cássia, que será aberta nesta terça-feira, dia 10 de junho, na Igreja do Pilar (Comércio). A exposição integra a 3ª Bienal da Bahia, realizada pela Secretaria da Cultura do Estado da Bahia (Secult – BA).

Pigmentos importados da França foram manipulados pelo artista feirense Juraci Dórea, ao meio dia da sexta-feira, dia 6 de junho, para a reprodução do azul criado por Klein. A tinta foi colocada em um relicário que será posto em um altar lateral da nave central da igreja. Durante o período da mostra, que fica exposta até 7 de setembro, o texto Oração à Santa Rita, do autor europeu, será lido antes de cada missa realizada. Do pintor ainda será exibido uma cópia original do livro de artista Le Dépassement de la Problématique de L’art (A superação da problemática da arte), de 1959.

Na Igreja do Pilar também serão expostas esculturas do potiguar Mestre Ambrósio Górdula representando Santa Rita de Cássia. São Peças em madeira, vidro e tinta. E ali o público ainda confere Gota de Lágrima do Olho Direito, do libanês Charbel-Joseph H, que trabalha com vídeo, plástico e fluido lacrimal. Charbel foi um dos artistas convidados da Bienal para residência no Instituto Sacatar, na Ilha de Itaparica, e o foco de sua pesquisa é o ausente, o inacessível.

Causas impossíveis

O enigmático Klein também buscava o imaterial. Em fevereiro de 1961 o artista escreveu em sua oração: “Santa Rita de Cássia, santa das causas impossíveis e desesperadas, obrigado por toda ajuda poderosa, decisiva e maravilhosa que me destes até agora – um obrigado infinito – mesmo se eu não sou uma pessoa digna, me conceda sua ajuda agora e sempre em minha arte, e proteja sempre tudo aquilo que criei para que, mesmo apesar de mim, seja sempre a grande beleza”.

O pintor francês ofereceu à santa um ex-voto – uma caixa de plexiglas com pigmentos dourados, rosa e azul, que contém uma cartela enrolada na qual Klein declara que dedica toda a sua atividade artística à santa – porque se sentia particularmente ligado a ela. Para Marcelo Rezende, curador chefe da 3º Bienal da Bahia e diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM – BA) o artista explica no volume Verso l’immateriale dell’arte o sentido profundo das suas escolhas, desde a fase monocromática até à busca daquele azul particular que terá o seu nome (YKB), até a ceder a zonas pictóricas imateriais: “Agora quero superar a arte, superar a sensibilidade, superar a vida, quero alcançar o vazio”.

Um vazio que ele procura alcançar com a sua tentativa de vôo da janela de sua casa. “Sejamos honestos, para pintar o espaço tenho o dever de ir in loco, a este mesmo espaço”, justificou a aventura. Klein morreu aos 34 anos em Paris, de infarto, sem conhecer o filho com a amante, Roze Mary.

SERVIÇO

Altar para Santa Rita de Cássia

Com obras de Yves Klein e Charbel-joseph H. Boutros

Quando: a partir de 10 de junho (terça-feira). Visitação de seg a sex, das 9h às 15h)

Onde: Igreja do Pilar (Comércio)