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Mateus Solano e Wanessa Camargo estrelam campanha do UNAIDS pelo fim da discriminação

Genilson Coutinho,
07/03/2017 | 09h03

O UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) lança uma campanha publicitária pelo respeito e pelo fim da discriminação: #EseFosseComVocê. Os quatro filmes, que são apoiados pela Globo e serão exibidos nos intervalos da programação a partir de 7 de março, contam com a participação dos Embaixadores de Boa Vontade do UNAIDS Mateus Solano e Wanessa Camargo. O lançamento da campanha acontece no programa Encontro com Fátima Bernardes desta segunda-feira (6/), que traz como um dos temas de debate a discriminação com pessoas vivendo com HIV.

A ação é apoiada por meio da plataforma de defesa de direitos humanos Tudo Começa pelo Respeito, lançada pela Diretoria de Responsabilidade Social da Globo em 2016. Criados pela Ogilvy Brasil, os filmes provocam a reflexão e o debate sobre as diferentes formas de discriminação que ainda existem na sociedade, em pleno século XXI: contra cor, raça, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, religião, deficiência e até mesmo sorologia positiva para o HIV, entre tantas outras.

“O pano de fundo para a campanha é uma sala de cinema em uma grande capital do país. Em formato de experimento social, os filmes simulam situações reais que ocorrem diariamente nos mais diversos momentos da vida cotidiana dos brasileiros”, conta Georgiana Braga-Orillard, Diretora do UNAIDS no Brasil. “O objetivo é realmente provocar desconforto em quem assiste aos filmes e provocar uma reflexão construtiva sobre como cada pessoa reagiria caso se deparasse diretamente com uma situação dessas de envolvendo preconceito e discriminação.”

Através de lentes de câmeras escondidas instaladas na bilheteria de um cinema, o vendedor é flagrado colocando os clientes diante de situações evidentes de discriminação em relação à pessoa que se sentará na poltrona ao seu lado durante o filme. Ao incitar a reflexão com a pergunta “E se fosse com você?”, Mateus Solano e Wanessa Camargo encerram os filmes com uma mensagem inspiradora, com o objetivo de promover a empatia e o respeito para a construção de uma sociedade livre da discriminação.

Situações retratadas nos filmes – e seus desdobramentos

Dentre todas as formas de discriminação vivenciadas até os dias de hoje por todo o Brasil, nos mais diversos ambientes e situações, os criadores da campanha escolheram retratar especificamente quatro delas: a discriminação contra pessoas vivendo com HIV, contra negros, contra pessoas com deficiência e contra nordestinos – esta última ainda muito comum nas regiões Sul e Sudeste do país. O objetivo é o de que essas histórias representem, mesmo que de forma simbólica, o conjunto das situações discriminatórias reportadas por diversas outras populações e grupos.

Pessoas vivendo com HIV

Matheus Solano e Wanessa Camargo, embaixadores da Boa Vontade do UNAIDS, participam da nova campanha da agência da ONU contra a discriminação. Foto: UNAIDS

Nessa situação, o atendente do cinema, de forma discriminatória, avisa ao comprador que sua poltrona será ao lado de uma pessoa soropositiva. A reação do cliente segue a linha discriminatória do caixa ao dizer que não aceita a poltrona sugerida. Dados da PCAP (Pesquisa de Comportamentos, Atitudes e Práticas) de 2013, do Ministério da Saúde mostram que 90,8% das pessoas afirmam saber que uma pessoa com aparência saudável pode estar infectada pelo HIV. Contudo, cerca de 26% dos entrevistados ainda acreditam que uma pessoa pode ser infectada pelo HIV ao compartilhar talheres ou ao usar banheiros públicos. E quase 67% deles não sabem que uma pessoa que esteja tomando medicamento para HIV tem menos risco de transmitir o vírus para outra pessoa.  De acordo com pesquisa realizada pelo Índice de Estigma sobre Pessoas Vivendo com HIV (People Living with HIV Stigma Index), pessoas que vivem com HIV têm altas probabilidades de sofrerem insultos verbais, assédio e ameaças.

População afrodescendente

Nesse filme, o atendente faz comentário discriminatório parecido e deixa o casal da fila perplexo, sem reação. No Brasil, estatísticas apontam que a violência contra jovens homens negros é crescente e com elevada disparidade em relação aos jovens homens brancos – o que sugere que a população negra tem expectativa de vida menor (2011, fonte).  Em estudo feito no município do Rio de Janeiro, observou-se que mulheres negras e pardas são majoritariamente atendidas em estabelecimentos públicos, 58,9% e 46,9%, respectivamente, e nas maternidades conveniadas com o Sistema Único de Saúde (SUS), 29,6% e 32%, respectivamente. Por outro lado, quase metade das brancas, 43,7%, tiveram seus partos realizados em maternidades privadas. A mesma pesquisa mostrou que um terço das mulheres negras e pardas não conseguiu atendimento no primeiro estabelecimento procurado e, no parto vaginal, recebeu menos anestesia (2005, fonte).

Pessoas com deficiência

O terceiro filme mostra o atendente do cinema comentando com uma cliente que a poltrona dele é ao lado de um deficiente. Ela reage imediatamente ao ato discriminatório perguntando de volta “qual o problema?” – e o atendente tenta justificar sua posição. O Censo 2010 apontou que a taxa de alfabetização para a população total foi de 90,6%, enquanto a do segmento de pessoas com pelo menos uma das deficiências foi de 81,7%. Em 2010, 6,7% das pessoas com deficiência possuíam diploma de curso superior, enquanto 10,4% das pessoas sem deficiência o possuíam (2010, fonte). Em 2010 havia, sem instrução e fundamental completo, um total de 61,1% das pessoas com deficiência, entre as pessoas sem nenhuma deficiência, esse número era 38.2% (2010, fonte).

 Discriminação regional

Para simbolizar a discrimnação geralmente praticada até os dias de hoje pelas pessoas das regiões Sul e Sudeste do país contra aquelas vindas das regiões Norte e Nordeste, o quarto filme mostra o vendedor de bilhetes do cinema dizendo a uma senhora que a poltrona escolhida por ela fica ao lado de um nordestino. Essa situação também deixa a pessoa sem entender o que se passa: “Como assim?”, indaga. As desigualdades regionais ainda são marcantes no país. Em 2004, a média de anos de estudos da população nordestina era de 5,5, contra 7,5 anos no Sudeste (2011, fonte). O segundo maior motivo de denúncias na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância de São Paulo é relacionado à discriminação contra nordestinos (2016, fonte).