Maitê Proença fala sobre Feliciano: “Assinei um manifesto contra esse senhor desajustado de sua época, violento e desnecessário”

Fábio Rocha,
17/05/2013 | 15h05

 

A atriz Maitê Proença apresenta o espetáculo ‘À Beira do Abismo Me Cresceram Asas’ no Teatro Sesc Casa do Comércio, em Salvador. A peça, que conta com texto, direção e atuação da própria Maitê Proença, será apresentada nos dias 18 e 19 de maio, às 20h. Os ingressos custam R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia).

O ponto de partida da montagem são histórias reais colhidas em diferentes asilos do Brasil. Maitê Proença vive Terezinha, uma idosa de 86 anos, de temperamento carrancudo ainda que bem resolvido. Já Valdina, vivida pela atriz Clarisse Derzié Luz, vive uma idosa de 80 anos que parece levar o dia a dia com otimismo, sem nostalgias, mas que carrega consigo um grande segredo. Em comum, elas têm a praticidade dos que aprenderam a simplificar a vida já que não há tempo para complicá-la. E têm a grande e indispensável amizade que se desenvolveu pelos anos de convívio.

Em meio às apresentações da peça “A Beira do abismo me cresceram asas”, a atriz Maitê Proença lança em Salvador seu mais novo e terceiro livro da carreira, “É duro ser cabra na Etiópia” (Editora Agir). Ela fará duas noites de autógrafos, no próximo sábado e domingo,  no Teatro Sesc Casa do Comércio,  imediatamente após às apresentações da peça.

O site Dois Terços conversou com a atriz sobre o espetáculo, a terceira idade, seu novo livro e sobre o seu pensamento em relação ao atual presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, o deputado-pastor Marcos Feliciano.

Dois Terços – Em “À Beira do Abismo Me Cresceram Asas” você trouxe para o palco as histórias de vidas e a realidade dos idosos no Brasil. Você acredita que há um descaso do governo com os idosos?

Maitê Proença – Eu acredito que há descaso começando dentro de casa, e que se estende para a ausência de medidas públicas facilitadoras para quem tem dificuldades de locomoção, entre outras. As pessoas não gostam da velhice porque as aproxima de uma realidade da qual preferem ter distância, mesmo quando se trata de um parente. É uma questão cheia de faces, mas para ser justo a gente tem que lembrar que há velhos que se abandonam antes da hora e ficam em casa de chinelão reclamando de tudo e achando que a alegria é uma grande injustiça mal distribuída, como diz uma das velhas de minha peça.

DT – Qual seu olhar hoje para os idosos? O espetáculo mexeu de alguma forma com seu modo de enxergar esse público?

MP –  Estou mais atenta, observando os idosos de meu bairro e por onde passo. Leio sobre essa fase da vida, e, particularmente gosto muito de conversar com gente que já passou por todas as idades. Eles tem muito o que contar, já não tem cerimônias desnecessárias para falar das coisas, dizem tudo na lata, são de uma objetividade cômica e cruel.

DT – Você tem medo da velhice?

MP – Não tenho. Não é do meu temperamento pensar no futuro, eu vou considerando a medida que vai chegando. Conheço velhos extraordinários, a gente olha pra eles e não pensa na decadência, e sim, em como são vibrantes, modernos, interessados, bem dispostos, experientes.

DT – Falar sempre o que vem a cabeça, já gerou alguns prós e contra ao longo deste 55 anos . Já bateu algum arrependimento por ter dito algo?

MP – Muitas vezes disse mais do que de00196via. Continuo a fazê-lo. É possível que a velhice me traga a sabedoria de aprender a calar o bico. Ando melhorando, mas só um pouquinho.
DT – Há uma queixa muito grande dos idosos no que tange o abandono pela própria família. Você ouve muitos relatos após os espetáculos?

MP – As pessoas não saem do espetáculo com vontade de reclamar, pelo contrário, saem comovidas, mas também muito motivadas para a ação, para gozar a vida. Curiosamente muita gente fica por ali querendo conversar e sempre que abrimos para bate-papos, a platéia permanece quase na íntegra, e a conversa vai longe.
DT – A comunidade LGBT vem lutando para retirar o pastor Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos. Você já participou de alguma manifestação sobre esses assuntos?

MP – Assinei um manifesto proposto por meu amigo deputado Chico Alencar. Um manifesto contra esse senhor desajustado de sua época, violento e desnecessário.