Mais que ferveção: Comunidade LGBTQ gera emprego e fortalece o turismo no Carnaval de Salvador

Redação,
07/03/2019 | 13h03

Mais de 50 novos empregos foram gerados com a abertura da loja da San Folia no Shopping da Bahia (Foto: Genilson coutinho

Por Genilson Coutinho

Há alguns anos que Salvador vem se transformando no território mais desejado pela comunidade LGBTQ durante o Carnaval. Vale lembrar que, dessa sopa de letrinhas, a predominância na festa soteropolitana é dos gays, que anualmente aumentam as cifras carnavalescas através do consumo de abadás e dos demais gastos comuns a festas e viagens.

Este ano acompanhei in loco a movimentação da chegada de turistas que escolheram o cast das divas gays do SAN Folia, projeto do grupo SAN Sebastian que agrega alguns dos blocos mais desejados pelos gays. Eles gastam de 200 a 1 mil reais para curtir apenas um dia em um dos blocos. Agora, multipliquem o valor médio por 6 mil pessoas a cada desfile, como foi anunciado no bloco puxado pela cantora Cláudia Leitte, que após esgotado chegou a ser comercializado por cambistas por valores entre 700 e 800 reais.

 Mas o pink money não circulou apenas nos blocos; ele também alegrou muitos hotéis da capital baiana. De cada dez pessoas na fila para retirada do abadá na loja da SAN Folia, seis estavam hospedadas em hotéis da cidade. Também encontrei aqueles veteranos de Carnaval que, de tanto virem a Salvador, já têm os amigos que sempre arrumam um cantinho pra ficarem.

 E nessa rota dos hotéis, o Wish Hotel da Bahia, no coração do circuito do Campo Grande, foi um dos preferidos. Conversei com alguns hóspede casados e solteiros de diversos estados. Com porte menor, outro hotel bastante procurado, que atingiu lotação 100%, foi o Hotel Villa Bahia. Seu público foi, na sua maioria, de turistas estrangeiros, muitos deles casais LGBTQ.

Daniela Mercury foi uma das primeiras artistas a atrair os turistas  gays  para o Carnaval .

Você deve estar se perguntando se eu me tornei economista ou membro do IBGE. Não que não seja algo interessante, porém, meu intuito foi mesmo apurar o quanto nós, LGBTQ, fomos e somos importantes nesta instituição chamada Carnaval. E desafio quem disse que viu os blocos gays vazios a comprovar, uma vez que a ocupação/dia mínima desses blocos foi de 3 mil pessoas.

Observem que estou apenas pontuando blocos, não incluí aí os camarotes. Tudo isso representa cifras e giros para a economia, mostrando a nossa força também enquanto consumidores. Além de sermos um público alegre e pacífico, fazemos a diferença, e muita, para a saúde financeira de Salvador.

Quanto aos preconceituosos de plantão, tenho apenas um recado: enquanto desfilamos nossa alegria e você grita do lado de fora do bloco coisas como “lá vai os viado(sic)”, nós celebramos a alegria de saber que um filho, um irmão ou amigo está trabalhando e sendo pago graças ao dinheiro investido por nós, não apenas nos blocos, mas em diversos setores da economia.

Essa nossa conversa poderia durar dias, mas vou parar por aqui, com uma resposta dada por mim durante uma entrevista sobre a nossa presença crescente no Carnaval.

O repórter perguntou:

– “Você não acha que tem muitos gays no Carnaval de Salvador?”

E eu respondi:

– Isso não é questão de achismo, nem apenas deste Carnaval. Nós sempre estivemos e continuaremos, pois vamos além do arco-íris. Somos professores, garis, médicos, maquiadores, que fazem o dia a dia dessa cidade.

*O pink money é a grana que os LGBTI gastam em consumo geral dando às marcas que investem em produtos específicos para o público.

 

Genilson Coutinho é editor chefe do Dois Terços e ativista LGBTQ