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Mãe de alunas faz campanha para que escola não eleja diretor homossexual

Genilson Coutinho,
22/11/2019 | 14h11

Do Ndmais

A mãe de duas alunas do 5º ano da EEB Professora Dolores Luzia dos Santos Krauss Gaspar em Santa Catarina  enviou, na última  quarta-feira (20), áudios e texto em um grupo que reúne pais de estudantes. Neles, disse que Lodemar é afetado (por usar vestes femininas) e que o ideal seria que ele atuasse em uma universidade ou escola secundária.

Além disso, ela afirmou ter se reunido com a direção para evitar a indicação de Lodemar, mas sem sucesso. Por isso, pediu que outros pais fossem contrários ao professor na votação, marcada para esta sexta-feira (22).

Ela apagou o conteúdo momentos após o envio, mas já era tarde. O material chegou ao conhecimento do professor, de profissionais da escola, e ganhou repercussão nas redes sociais.

O docente conta que diversas entidades manifestaram apoio a ele, como o Sinte-SC (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina), que divulgou uma nota sobre o assunto (leia abaixo).

Luta contra o preconceito
Com mais de 25 anos de profissão, o professor de matemática e física revela que já passou por diversos episódios de preconceito, mas nunca algo tão evidente como o ocorrido nesta semana.

Lodemar entrou em contato com uma advogada, que pediu que a mãe das alunas se retratasse em público. Na manhã desta sexta-feira, a mulher se pronunciou em seu perfil em redes sociais.

“Me expressei de forma errada e estou muito envergonhada e arrependida de falar tudo que falei, quem me conhece sabe que não sou preconceituosa, até porque tenho vários amigos gays”, escreveu em um dos textos.

Processo como alerta
O professor diz que tentou resolver o caso internamente, mas que, com a proporção que a história tomou, decidiu entrar em contato com a advogada como forma de lição a outras pessoas. Ele não descarta a possibilidade de entrar com uma ação judicial contra a mulher.

“Não gostar é uma coisa, fazer campanha para destruir uma pessoa é outra. Sei que não vou acabar com o preconceito, mas pelo menos que sirva para inibir. Que sirva de exemplo para as pessoas pensarem duas vezes antes de fazer algo”, desabafou.

Agora, Lodemar espera que a atitude da mãe não o prejudique na eleição, já que ele precisa de pouco mais da metade dos votos dos alunos, pais e professores para se tornar diretor. O resultado será divulgado na noite desta sexta-feira.

A reportagem tentou contato com a mulher, mas não teve sucesso.

Nota do Sinte-SC
O SINTE-SC, através da secretária de Gênero e Direitos Humanos Anna Julia Rodrigues e do Coordenador do Coletivo Estadual LGBTI Fazendo a Diferença, Sandro Luiz Cifuentes, repudia veemente a campanha homofóbica que vem sendo feita.

O professor Lodemar foi da coordenação municipal do SINTE de Gaspar, atualmente é um dos Conselheiros Estaduais eleitos da entidade. Tem a vida dedicada a docência, a educação e a luta pelos direitos humanos e dos trabalhadores, não tendo qualquer comprometimento em sua carreira ou vida pessoal, que o desabone enquanto profissional e pessoa.

O SINTE-SC lembra a esta mãe, e aos demais pais ou responsáveis que seguem nessa campanha de ódio, que desde 13 de junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) considera que a homofobia é crime, equiparando as penas por ofensas a homossexuais e a transexuais às previstas na lei contra o racismo.

O Ministro Fachin disse em seu voto que “Nenhuma instituição pode deixar de cumprir integralmente a Constituição, que não autoriza tolerar o sofrimento que a discriminação impõe”.

Vamos fazer a denúncia em todas as esferas e órgãos de direitos humanos. É inaceitável dentro das escolas, no âmbito da educação, as práticas da intolerância, do preconceito e do ódio, estas que todos os dias matam LGBTIs através da violência, depressão e suicídio.

O SINTE-SC se solidariza com o Professor Lodemar e reafirma que vai continuar na luta contra qualquer tipo de preconceito contra os(as) trabalhadores(as) em educação, tanto nos municípios, quanto no Estado. Basta de LGBTIFOBIA!