Luiz Mott: Não vou a conferência Nacional LGBT

Redação,
15/12/2011 | 09h12

Luiz Mott, Decano do movimento LGBT no Brasil e grande líder LGBT na
Bahia, disse não ao convite recebido para participar da  2ª Conferência Nacional LGBT que terá inicio nesta quinta feira15,  em Brasília. Mott enviou carta do Grupo Gay da Bahia (GGB) onde se diz descontente com a política do Governo Federal com relação a população LGBT, e avisa que vai parar de contar os assassinatos de homossexuais.

“Recuso o convite para participar desta 2ª Conferencia Nacional porque não quero ser conivente com mais esta encenação bufa do atual Governo e de seus sequazes, que se contentam com migalhas e vendem sua dignidade por um prato de lentilhas”, diz Mott na mensagem que você lê na íntegra logo abaixo.

“Torço para que eu esteja errado e serei o primeiro a reconhecê-lo se após mais esta conferência milionária, o Brasil deixar de ser o campeão mundial de crimes homofóbicos”, completa o decano. Ele anuncia ainda que o GGB deixará de fazer seu levantamento anual de assassinatos de pessoas LGBT – o único do tipo no Brasil – e passa a responsabilidade pela contagem à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Confira:

 

Nunca antes, na história desse país, tantos homossexuais foram assassinados, espancados e morreram de Aids. Nunca, como nos últimos dez anos, o Governo Federal fez tanta propaganda, prometeu maravilhas, fez conferências e grupos de trabalho e não obstante, como disse duas vezes a Senadora Marta Suplicy, “a situação piorou para os homossexuais no Brasil: na Argentina tem casamento gay, aqui tem espancamento!” Quando Lula iniciou seu governo, matava-se um gay ou travesti a cada 3 dias. Com Dilma a imprensa noticia um “homocídio” a cada 36 horas. Enquanto apenas 1% dos homens heterossexuais são HIV+, os gays atingem 11%, recebendo apenas 0,9% do orçamento para a prevenção da Aids.

Na qualidade de Decano do Movimento Homossexual Brasileiro, há 31 anos na frente dessa luta, líder do Grupo Gay da Bahia e Professor Titular da UFBa, tenho vivência, competência e independência para denunciar: estamos no fundo do poço! Tenho sido o crítico mais contundente, desmascarando os equívocos do Governo e das lideranças pelegas no enfrentamento da homofobia. É absolutamente inaceitável que o primeiro Conselho LGBT tenha como presidente um preposto governamental heterossexual; é ultrajante que a Presidenta da República tenha vetado o Kit Antihomofobia Escolar e continue a se referir a nossa a orientação sexual com termos do senso comum; é vergonhoso que nossas lideranças partidarizadas sejam tão submissas ao faz de conta estatal, sem ouvir o clamor do povo LGBT que não aguenta mais tanta humilhação.

Recuso o convite para participar desta 2ª Conferencia Nacional porque não quero ser conivente com mais esta encenação bufa do atual Governo e de seus sequazes, que se contentam com migalhas e vendem sua dignidade por um prato de lentilhas. Torço para que eu esteja errado e serei o primeiro a reconhecê-lo se após mais esta conferência milionária, o Brasil deixar de ser o campeão mundial de crimes homofóbicos.

E aviso aos navegantes pela última vez: transfiro à Secretaria de Direitos Humanos a responsabilidade pela manutenção do banco de dados sobre assassinatos de LGBT no Brasil. 235 “homocídios” até novembro. Quem pariu Mateus, que o embale!

Luiz Mott