Lucival sem medo de ser feliz

Genilson Coutinho,
20/05/2011 | 11h05

“Sem medos”. Assim se define o jornalista Lucival, de 29 anos. O jornalista, filho de pais separados, conta que se surpreendeu ao ser escolhido para o BBB11. “Acabei me inscrevendo e não sei porque fui selecionado. Nunca imaginei participar de um reality show”, se diverte.

O jornalista, que estará hoje (20) na boate San Sebastian juntamente com Ariadna e Diana, deu uma entrevista super interessante para o Dois Terços. Veja abaixo.

Dois Terços: Essa é primeira que você vai aparecer em púbico em Salvador após o BBB. Quais são as expectativas para esse momento?

Lucival França: Nada disso. Saí do reality antes do carnaval e todo mundo me viu. No chão, nos camarotes, nos blocos e nos trios, ou seja, nos mesmos lugares onde sempre estive. O que mudou foi que muitas pessoas vieram cumprimentar-me e parabenizar-me pela participação no BBB. Óbvio que tiveram aqueles que teceram críticas. Eu filtrei e admiti as opiniões que eram plausíveis. Essa vai ser a primeira vez que eu vou ao clube San Sebastian depois que a casa mudou de local e depois que saí do confinamento. Acompanho o sucesso da San desde sua fase embrionária e torço pelo sucesso da casa. Portanto, foi natural o convite dos sócios José Augusto e André Magal para que eu, junto com as gatas Diana e Ariadna, participasse da festa Armengado. A festa, aliás, é a nossa cara: alternativa, pop, leve e ‘fritex’. Quem não for vai perder as inúmeras surpresas que vão acontecer na sexta, dia 20.

DT: A sua entrada na casa do BBB abriu as portas da sua vida profissional e pessoal. Como você tem administrado essas questões pós BBB?

LF: Participar de um reality por si só já é algo que muda a vida de qualquer pessoa. Quando esse reality acontece na maior emissora do país, as implicações são muito maiores. Não é a toa que, a cada edição, milhares de pessoas tentam passar pela peneira do Big Brother Brasil. Até quem critica, no fundo, pode guardar um recalque, um desejo de participar. Agora que recomeçaram as inscrições para a 12ª edição eu tenho recebido inúmeros contatos por meio de minhas redes sociais pedindo dicas. Até pessoas reconhecidas na cidade de Salvador por seus trabalhos referenciais nas áreas artísticas e da comunicação, que eu nunca poderia imaginar que elas desejassem entrar para um jogo como o BBB, vieram me pedir dicas. Eu achei o máximo! Pois, assim como aconteceu comigo, caso essas pessoas tenham esse privilégio, terão suas vidas profissional e pessoal alteradas. Recebi convites de trabalho em minha área de atuação – jornalismo – em São Paulo, Rio e, claro, aqui em Salvador. Ainda tenho contrato com a Rede Globo, mas estou avaliando as propostas.   

DT: A saída de Ariadna foi motivo de revoltas e protesto por uma parcela significativa da população. Você também acredita que a saída dela foi preconceito?

LF: Não tenho essa medida. Não sei se foi preconceito do ‘público’, pois existiram inúmeras controvérsias nesse BBB. Olha o perfil da campeã Maria? Avalie o que o que o ‘público’ comentava do comportamento do Daniel. O fato é que quando eu entrei no BBB tinha a plena consciência de que poderia sair no primeiro paredão, bem como poderia sagrar-me campeão. Independente de ser gay, jornalista, negro, baiano. 

Tratava-se de um jogo. Todo jogo implica em riscos. Eu fui para o BBB disposto a assumir riscos presumidos ou não e a me expor publicamente. Aliás, sem modéstias, eu sempre fui muito corajoso, em manter minhas opiniões, em afirmar minhas atitudes… Não é qualquer pessoa que tem essa coragem. No geral, as pessoas têm coragem de criticar o comportamento alheio. Tem uma frase que eu sempre ouço, mas nunca reproduzi, mas agora está valendo. “Falar é fácil, difícil é ser eu”. (Risos).

DT: A sua participação gerou muitos comentário sobre a sua afinidade com Daniel lhe dando inclusive a fama de fofoqueiro. Como foi a reação do público com a sua saída?

LF: Confesso que adorei as vinhetas do Maurício Ricardo. Quando fui eliminado, um admirador que se tornou amigo, me mandou DVDs com todas as minhas aparições no reality e eu fiquei muito feliz com meu desempenho. Quem convive comigo, sabe do meu humor. E eu sou acima de tudo jornalista, né? Fiz diversos comentários sobre a convivência com os outros brothers, inclusive, sobre mim mesmo e do próprio Daniel. Não eram comentários ofensivos, nem tínhamos intenção em fazer polêmica. Eram observações que fazíamos e nos divertíamos muito com isso. Era também uma forma de passar o tempo. Ademais, num programa como o BBB é necessário que coloquem etiquetas nos participantes. O público já espera ansiosamente por isso. Quem será o ogro, a burra, a gostosona, o gostosão, o gay, o bonitão, são perguntas que pairam na cabeça dos telespectadores quando são reveladas as identidades dos participantes. Em parte, essas etiquetas são colocadas pela produção do jogo e o público compactua ou não. O fato é que, quando saí, fui abordado por pessoas que me diziam que adoravam o “Tricotando com DaLu”, que me achavam culto e inteligente.  

DT: A sua passagem pelo Domingão do Faustão foi algo muito rápido e com pouco interesse do apresentador  durante a entrevista.  Você também teve essa impressão?

LF: Os programas televisivos têm suas características próprias. Eu adorei ter participado do Domingão do Faustão. Achei o apresentador Fausto Silva gentil e atencioso. Além de fazer a contumaz apresentação do entrevistado, ele ainda foi além contando um pouco do meu histórico de vida. Nem era necessário, pois o Brasil já me conhecia. Fiquei até surpreso em não ser interrompido por ele enquanto falava ao microfone. A entrevista comigo e com a analista criminal Natália Castro durou um quadro, que é a duração da participação dos BBB’s. Para nós que estávamos no olho do furacão naquele momento, o tempo parece interminável. E eu falei tanto que tive de pedir água a produção. Eles ainda tiveram a sensibilidade de colocar em pauta o assunto homossexualidade com muito respeito, foram até Salvador novamente para entrevistar minha mãe, num depoimento emocionante, pelo menos para mim. Confesso que sou avesso aos holofotes, mas amei ter participado do Domingão.

DT: Muitos militantes acreditam que a participação dos gays nestes programas pouco agrega para a comunidade gay. O que você pensa sobre esse assunto?

LF: O papel dos militantes é questionar sempre. Assim como nós jornalistas. Faz parte do jogo. Se não põe gay, eles reclamam. Se põe gay caricato, os gays não caricatos reclamam. Um programa com 18 participantes nunca vai atender a todas as demandas da população brasileira. Os portadores de dificuldades de mobilidade lutam há anos para entrar no reality. Seja maioria ou minoria sempre haverá uma grita para ser mais representado na televisão, e isso está mais acima do que o BBB pode oferecer de contribuição social. Eu acho que essa edição foi emblemática no tocante às sexualidades. Foi um marco. As próximas podem gerar retrocesso como também podem superar em muitos aspectos.

Para mim, o que ficou de mais importante foi o fato de ter recebido uma mensagem de um adolescente no meu perfil no Facebook. Na mensagem ele dizia que se sentia orgulhoso por minha participação, por tornar o assunto homossexualidade corriqueiro e normal durante o jantar dele com os pais. Reproduzo abaixo o que ele escreveu:

“Lucival, muito obrigado por tudo. Não nos conhecemos, mas você deu uma ajuda e tanto para mim e minha família. Moro no interior de São Paulo, sou negro e gay. Sempre fiquei mega constrangido quando apareciam gays caricatos nas novelas. Minha mãe fazia comentários reprovativos. Já com você foi diferente. Ela elogiou sua inteligência, sua beleza, sua forma ímpar de se expressar, seu sorriso, sua relação com sua mãe. Ela teve orgulho de um gay pela primeira vez na vida. E eu tive orgulho de ser o que sou, pela primeira vez na vida…”

DT: O que você pretende fazer após esse período de badalações e assédio da mídia?

LF: Sempre fui notívago. Sempre preferi à noite ao dia. Depois que atingi meu objetivo ao me formar jornalista, me dei a oportunidade de aproveitar plenamente a vida. Por isso, sou figura fácil da noite baiana, paulista ou carioca. Amo teatro e cinema e tenho muitos amigos do meio. Por ser jornalista, sempre recebi convites dos mais diversos para todos tipo de evento. Esse estado de coisas só fez aumentar ainda mais por conta da participação no BBB. As pessoas querem tocar na gente, tricotar, querem de alguma forma nos mostrar que elas existem e que foram elas as responsáveis por nossa permanência na casa. E eu só tenho a agradecer os convites. E não tenho nenhum receio de que um dia os convites não sejam mais feitos. Nada na vida dura para sempre.  

DT: O STF aprovou no último dia 5 de maio a união estável entre pessoas do mesmo sexo. E você o que pensar sobre esse assunto?

LF: Não é segredo para ninguém que eu sou um entusiasta pelo direto à liberdade de expressão. Portanto, eu vibrei quando o Supremo Tribunal Federal reconheceu (esse é o termo correto), por unanimidade que a união homossexual pode ser considerada entidade familiar no Brasil, em plena igualdade de direitos com relação às vinculações heterossexuais estáveis (que o legislador denominou de união estável). Os casais de pessoas do mesmo sexo formam uniões estáveis aptas ao usufruto de todos os direitos e ao exercício de deveres decorrentes do mesmo sentimento que unem heterossexuais: o amor. Fico muito feliz em fazer parte desse contexto social. Fui convidado pelo governador do Estado do Rio de Janeiro, o Sr Sérgio Cabral, para participar de uma comemoração a ser realizada na quarta-feira (18), mas não pude comparecer por questões de agenda. Mas, sem dúvidas, nos contextos sociais e políticos, o Brasil está apresentando avanços impensáveis nessa nova década que se inicia.