Livro une fotografias e textos a partir da palavra vulgar
Há 10 anos André Medeiros Martins dava início ao seu projeto de fotografar pessoas nuas. 640 pessoas depois, um livro e algumas experiências audiovisuais, o ator e pornógrafo lança, de forma independente, o livro VULGAR, um diálogo entre as suas fotografias e mais de 50 textos das áreas das Artes, Ciências Humanas e Educação sobre questões de gênero, raça, sexualidade, pornografia, classe, fetichização, violência e interdição.
Com 370 páginas, capa dura (21×30 cm) e um pôster do Jogo Vulgar, o livro tem editoração e organização de Hudson de Carvalho e arte gráfica de Betinho Neto. VULGAR mescla fotos de 190 pessoas com mais de 50 textos, onde são abordadas questões sobre o corpo trans, negritude, pornografia, moda, gordofobia e HIV/AIDS em textos de Renata Carvalho, Janaína Leite, Carolina Bianchi, Estela Lapponi, Ronaldo Serruya, Bruna Kury, Fause Haten e Marcelo Denny, entre outros.
Para André Medeiros Martins, que desenvolveu a publicação em conjunto com o professor Hudson de Carvalho, da Universidade Federal de Pelotas, VULGAR pretende unir a escopofilia – processo de erotização do olhar – com a produção de literatura por meio de contradisciplinas sexuais. “Nesses 10 anos como fotógrafo de nus, o meu olhar passou por uma série de corpos, de padrões a dissidentes, que não são elegantes ou domados. O simples fato de tirar a roupa já deflagra várias coisas”, explica ele.
Conceito de erro
Criado artesanalmente e de forma independente, VULGAR foi pensado nas várias atribuições da palavra vulgar, atribuída tanto ao que se refere ao comum ou popular até o uso para designar atitudes e corpos de procedência ruim, de natureza baixa, grosseira.
As fotografias escolhidas para estarem no livro partem do conceito de erro, mas com a prerrogativa de não afirmarem um erro. “Escolhi fotos que não seriam publicadas em nenhum lugar, não pelo conteúdo erótico, mas por estarem embaçadas, cortadas, com olhos entreabertos ou fechados. Quero entender os motivos dessas fotos não poderem chegar ao público. São fotos que ficam sempre escondidas”, conta André.
VULGAR também foi criado como um livro diálogo, onde o leitor possa ver as imagens e ler os textos de forma a criar outros diálogos sobre os assuntos abordados. “Livros de fotografia são elitizados e o meu objetivo é que o leitor tenha uma experiência diferente com a minha obra focando nas pessoas retratadas”, argumenta o artista.
Sem uma divisão hierárquica, contos pornográficos, posts de redes sociais e artigos acadêmicos coabitam a publicação entre nudez e conteúdo pornográfico.
Jogo do Vulgar
Uma surpresa acompanha VULGAR . Dentro do livro está um pôster do Jogo Vulgar – tabuleiro feito a partir da vivência de 18 pessoas. “É um jogo da vida dissidente”, brinca André. O jogo foi criado para criar múltiplas experiências com os relatos e textos dos autores, sendo um ótimo propositor de temas para gerar mais empatia.
Sobre André Medeiros Martins
Ator e pornográfo. Em seu site estão reunidos mais de 800 ensaios fotográficos ou experimentos audiovisuais. É organizador do livro Flexões – um estudo sobre sexualidade plural e Vulgar. Diretor dos longas-metragens Alfredo não Gosta de Despedida e Alfabeto Sexual. Co- idealizador do Coletivo Ele Quer um Nome.