Livro coloca na berlinda gênero e sexualidade nas escolas
No dia 28 de junho é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, data que marca a luta pelos direitos em todo o mundo. E para contribuir com a minimização de preconceitos e defender as discussões de gênero e sexualidade nas escolas, o doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Ronaldo Alexandrino lançou o livro “A suposta homossexualidade”, pela editora Appris.
O documento oficial para construção curricular, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), excluiu a palavra gênero do documento. Mas qual é o impacto disso nas escolas? Se não está no documento, não é mais uma possibilidade de discussão. Diante de desafios como esses, o livro constrói possibilidades e práticas de discussão para a formação de professores sobre o tema.
“Quando analiso as questões educacionais, percebo que não tivemos avanços, apenas retrocessos. As tentativas que existiam antes do veto do Projeto Escola sem Homofobia (conhecido vulgarmente como kit gay), foram negadas e silenciadas. E os professores também trazem suas angústias, receios, tabus e preconceitos para sala de aula. Assim, a formação centrada na escola narrada no livro considera a maneira como ela se apresenta, com todas as suas contradições. É a partir disso que podemos dialeticamente produzir possibilidades de ação, quiçá mudanças. A tentativa é de que o ambiente escolar seja um lugar que valorize a vida, em todas as suas potencialidades”, explica Ronaldo Alexandrino.
A obra, resultado da pesquisa de mestrado do autor, explicita e analisa a formação de educadores da Educação Infantil e Ensino Fundamental I. E também indica pistas de como realizar práticas formativas, sem ter a intenção de ser um modelo, mas explicitando que é possível discutir a temática nas instituições de ensino.
Para o autor, o Brasil vive hoje um cenário de negação da discussão da temática nos colégios em relação às questões de gênero. “A escola sempre refletirá o contexto social onde ela está inserida. Precisamos, primeiramente, assumir que a sociedade brasileira é homolesbotransfóbica, esse é o problema central. Quando a escola e as políticas públicas educacionais negam essa discussão, elas apenas corroboram para perpetuação de uma homolesbotransfobia estrutural e institucional”, relata o doutor e mestre em Educação, na área de Psicologia Educacional.
O livro também mostra que o conceito de homossexualidade que temos hoje é uma construção, portanto como uma representação social. Esse conceito também foi criado em outras sociedades, em outros momentos. O que a gente chama hoje de homossexualidade já foi chamado, por exemplo, de homofilia na Grécia e Roma Antiga, sodomia no período da Idade Média e pederastia no movimento higienista na Europa nos séculos 17 e 18.
”A suposta homossexualidade” se destaca por ser o primeiro estudo da América Latina, e o único no Brasil até o momento, que conseguiu efetivar um processo de formação de professores a partir da temática da homossexualidade, dentro do contexto da escola. Fato que contraria os discursos produzidos pelas políticas públicas nacionais desde 2011”, explica Ronaldo Alexandrino.
Sobre o autor: Doutor e mestre em Educação na área de Psicologia Educacional pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), vinculado ao grupo de pesquisa DiS (Diferenças e Subjetividades em Educação) como professor colaborador. Pós-doutorando em Psicologia pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), associado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Educação (GEPPE).