Líder evangélico admite que caso Palocci foi usado contra kit gay

Genilson Coutinho,
04/06/2012 | 08h06

 

O deputado João Campos (foto), do PSDB-GO, líder da Frente Parlamentar Evangélica, admitiu pela primeira vez que o chamado caso Palocci foi usado para pressionar a presidente Dilma Rousseff a cancelar a distribuição do material do Projeto Escola Sem Homofobia, o kit gay. 

Antônio Palocci, que foi o primeiro ministro da Casa Civil do governo Dilma, foi atingido no ano passado por denúncias da imprensa que davam conta do rápido enriquecimento dele logo após as eleições. A oposição propôs a criação de uma CPI para investigá-lo, mas não obteve apoio suficiente por falta de adesão dos 74 deputados da Frente Evangélica.

Em entrevista publicada ontem (23) pelo portal Terra, Campos disse que o caso Pallocci não serviu “necessariamente” para cancelar o kit gay, “mas forçar a presidente a nos receber, nos ouvir, já que buscávamos falar com ela há algum tempo sobre esse assunto”.

Após esse encontro, Dilma anunciou, no dia 25 de maio, a suspensão do kit por considerá-lo “inadequado” e de possuir vídeos “impróprios para seu objetivo”. Na época, além da ameaça de dar quórum para a abertura da CPI do Palocci, os deputados evangélicos estavam prometendo obstruir a pauta do Congresso.

Campos disse agora que o cancelamento do kit gay não foi uma vitória só da bancada evangélica, mas também da sociedade brasileira. “O poder público não pode financiar um programa que ia estimular os adolescentes a serem homossexuais”, disse ele à repórter Angela Chagas. “Questão de orientação sexual é algo que diz respeito à vida privada, não à escola.”

O ministro da Educação na época era Fernando Haddad, que atualmente, como candidato do PT à prefeitura de São Paulo, tem rejeitado o kit gay, para não perder o voto dos evangélicos.

O kit permanece como ponto de atrito entre a liderança do movimento de defesa dos homossexuais e a bancada religiosa.

 

O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) está exigindo do governo uma explicação mais convincente para a suspensão do projeto, na expectativa de que a campanha nas escolas contra a homofobia seja retomada. Já para o deputado Campos, conforme disse na entrevista, não faz sentido eleger um único tema para uma campanha. “Por que não busca um programa para diminuir a discriminação como um todo, inclusive religiosa, contra deficientes físicos, indígenas e quilombolas?”

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