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Jovem de Salvador escreve projeto para reduzir LGBTfobia em escolas

Genilson Coutinho,
01/11/2017 | 11h11

Vanessa – Embaixadora de Salvador

Entre os projetos que foram desenhados nesses meses está um programa de capacitação de professores e alunos sobre orientações de gênero e sexual, em Salvador. A autora do projeto é Vanessa Cerqueira, 21 anos, estudante de letras na Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

O objetivo de Vanessa é levar às escolas estaduais de ensino básico de Salvador oficinas e rodas de conversa sobre a comunidade LGBT+, envolvendo professores, alunos e gestores.

Segundo a Pesquisa Nacional Sobre o Ambiente Educacional no Brasil, realizada pela Secretaria de Educação da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), em 2016, estudantes LGBTs+ que sofreram níveis elevados de agressão relacionada à orientação sexual ou expressão de gênero tinham duas vezes mais probabilidade de faltar à escola.

 

No entanto, se o ambiente escolar estiver preparado para lidar com as diferenças e o ensino ao respeito da diversidade esse quadro pode mudar bastante. A violência na escola não parte apenas de estudantes, mas também de alguns professores e diretores que ao reprimirem estudantes por serem LGBTs+ e deixarem de abordar questões de gênero e sexualidade de forma orientada colaboram para a discriminação dentro do ambiente escolar.

“Devemos pensar em uma educação que promova o respeito à diversidade, o direito à educação e a não discriminação por orientação sexual”, afirma Vanessa. De acordo com a pesquisa realizada pela ABGLT, 60,2% de estudantes afirmaram ter insegurança na instituição educacional por causa de sua orientação sexual, e 42,8% devido a sua identidade de gênero. “Há uma extrema necessidade do enfrentamento da LGBTfobia nas escolas”, pontua. “Isso é absolutamente diferente de doutrinar pessoas, como alguns grupos costumam se referir às discussões. Trata-se de educá-los pelo respeito e pelo entendimento das diferenças”, conclui.

 

O projeto deve contar com a participação de 15 pessoas, divididas em duplas que irão planejar os conteúdos e ficarão responsáveis pelas rodas de conversa e oficinas. O projeto deve ter duração de um ano e em breve deve ser apresentado à Secretaria de Educação.

O projeto ainda prevê a criação de um site para disponibilizar conteúdos e materiais didáticos e a gravação de um documentário média-metragem com alunos que já sofreram LGBTIfobia no ambiente escolar.

Incentivo Financeiro

Vanessa Cerqueira concorrerá com os outros jovens “embaixadorxs” a um auxílio financeiro para colocarem em prática os projetos que desenvolveram durante o Programa.

A fase “IMPACTO” do programa deve ser lançado em janeiro de 2018. O valor ainda deve ser definido e a TODXS busca parcerias para o financiamento.

Ainda em novembro, os “embaixadorxs” irão apresentar seus projetos na Conferência de Jovens Líderes LGBT+”, evento que acontecerá em São Paulo e contará com palestras e consultorias para os jovens.

“Conseguimos atingir um público muito diverso, de diferentes identidades de gênero e orientações sexuais. Alcançamos pessoas das cinco regiões do país, sendo as regiões sudeste, nordeste e sul as que tiveram maior número de participantes”, afirma Tamila Santos, gerente de projetos da TODXS, também de Salvador.

A maioria das pessoas que participaram do programa estavam no ensino médio ou na graduação e tinham renda familiar entre um e três salários mínimos. “Saímos desses cinco meses de programa fortalecidos com a construção de uma rede de líderes LGBTs+ no Brasil”, avalia.

 

A criação da TODXS

A TODXS foi criada em março de 2016, com objetivo de coletar e processar dados sobre a população LGBT+ e desenvolver iniciativas de alto impacto social, focadas em três pilares: sociedade, governo e empresas. A organização conta atualmente com 58 membros voluntários divididos em dez estados brasileiros e três países e se mantém através de investimentos de seus cofundadores, da venda de ingressos de eventos  e editais de financiamento de organizações internacionais.

Além do programa Embaixadorxs, a ONG desenvolveu o primeiro aplicativo brasileiro que compila mais de 700 normas brasileiras de proteção à população LGBT+, o TODXS App, disponível para ser baixado gratuitamente em sistemas Android e IOS. A organização também realiza eventos de capacitação online e consultorias a empresas.

Em outubro, a organização esteve junto à ABGLT e outras 10 organizações da sociedade civil organizada e 17 partidos políticos para entregar uma carta de reivindicações de pautas da população LGBT+ ao presidente do Congresso Nacional e da Câmara dos Deputados.