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Jornal faz série especial sobre a vida das travestis e transexuais de Salvador

Genilson Coutinho,
28/11/2015 | 13h11
Paulete Furacão é a primeira travesti a assumir um cargo público da Secretaria de Justiça (Foto: Joá Souza l Ag. A TARDE)

Paulete Furacão é a primeira travesti a assumir um cargo público da Secretaria de Justiça (Foto: Joá Souza l Ag. A TARDE)

A jornalista Andrezza Moura e o fotografo Euzeni Daltro entraram no cotidiano da comunidade trans de Salvador para mostrar a vida das  travestis e transexuais de Salvador. A matéria especial trouxe para o público as dificuldades , lutas e conquistas como a de Paulete Furacão, primeira transexual a ocupar um cargo no governo do estado da Bahia, além de Paula, Rosana Salvatory e Nickelly Nascimento . Na reportagem contam detalhes sobre o preconceito e a falta de políticas para elas. Confira as histórias.

Nickele Nascimento, de 31 anos, garçonete no restaurante Savanna Steakhouse, no bairro de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas. Rosana Salvatore, 49, cabeleireira e artista performática. Além de travestis, as duas têm em comum o desejo de mostrar à sociedade que elas podem ser muito mais que corpos transformados nas esquinas das áreas de prostituição.

“Não vou dizer que nunca precisei, porque já fiz. Mas vi que isso não é para mim, que eu não nasci para me prostituir, mas para trabalhar, mostrar para que eu vim ao mundo.  Não vim só por vir. Vim para fazer a diferença. Gay tem que fazer a diferença”, afirma Nick.

Apesar de já ter dormido na rua e passado fome, Rosana nunca se prostituiu. “Nunca fiz vida. Eu não conseguiria me deitar com qualquer pessoa. O cheiro do outro é muito importante para mim. Acho humilhante alguém chegar para você e perguntar o preço”.

Para elas, a ausência de apoio da família, a falta de oportunidade no mercado de trabalho formal e a baixa remuneração são os principais motivos do ingresso das travestis na prostituição.

Rosana ganhou o concurso de melhor dublagem em 1987, no Teatro Vila Velha (Foto: Joá Souza Ag. A TARDE)

Nick conta que, por duas vezes, perdeu a vaga de emprego por ser travesti. Nos dois casos, ela conversou e marcou entrevista com os responsáveis por telefone. “Já estava tudo certo para eu começar a trabalhar. Mas quando viram que se tratava de uma travesti, rapidamente mudaram toda a história e me dispensaram”, lembra.

Nick é a primeira travesti a trabalhar no Savanna Steakhouse, em Vilas do Atlântico, e é apontada pelos donos e por clientes como uma das melhores funcionárias da casa.

Um dos donos, o empresário Luiz Leão, 50, revelou ter ficado um pouco receoso, pois o restaurante está situado em um bairro de perfil conservador.

“As pessoas pensam que, por se tratar de uma travesti, vai se comportar de uma forma diferente. Mas não é isso que acontece. Nick é bem-educada, sabe atender, sabe se expressar. Só tenho elogios”, afirma Leão.

O profissionalismo da garçonete chama a atenção em situações inusitadas, como quando um cliente quis apertar os seios dela. “A todo o instante ela manteve uma postura profissional”, conta Leila Leão, dona e chefe do restaurante.

Uma vida de militância

Paulete Furacão, coordenadora do Núcleo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), acredita que a falta de oportunidade profissional para as travestis é um problema cultural.

“Elas precisam se alimentar, são expulsas de casa, ficam à mercê da sociedade. Então não há uma perspectiva de vida. É o único mercado que, na verdade, consegue absorvê-las, e isso acaba sendo cultural no meio das travestis. O mercado profissional não as absorve”, afirma.

Ela foi convidada para assumir a pasta em 15 de março de 2012 e, desde então, desenvolve um trabalho de formação de políticas públicas para igualdade de gênero e combate à violência. Mas desde os 15 anos de idade, Paulete milita na causa LGBT com o intuito de dar visibilidade aos casos de discriminação e garantir inserção social desse grupo.

Confira a o especial completo.

Do A Tarde