Instituto Memória Roberto Pires é lançado em Salvador

Genilson Coutinho,
25/09/2011 | 22h09

Na noite da próxima terça-feira, 27 de setembro, será lançado o Instituto Memória Roberto Pires, organização dedicada à preservação e divulgação da obra de cineastas baianos. O lançamento acontecerá no Cinecena Unijorge, durante a programação da Mostra Uranium Bahia, que acontece entre 27 e 30 de setembro. O cineasta, homenageado pelo evento, é falecido há 10 anos e completaria 76 anos no dia 29 de setembro.

O Instituto é uma iniciativa de Petrus Pires, filho de Roberto Pires, em parceria com o produtor cultural Tiago TAO e o jornalista e escritor Aléxis Góis, que escreveu a biografia do cineasta. A trajetória do grupo começou em 2009, com o projeto de restauração de “Redenção”, primeiro longa-metragem filmado na Bahia e primeiro trabalho de Pires para o cinema. Em 2011, foram aprovados os projetos de restauração de “A Grande Feira” e “Tocaia no Asfalto”, duas obras da primeira fase da carreira de Roberto Pires. Os três longas-metragens devem ser lançados em um box comemorativo no primeiro semestre de 2012.

“O objetivo principal do Instituto Memória Roberto Pires é trabalhar na preservação de todas as obras do cinema baiano que correm o risco de se perder. Além dos filmes de meu pai que restam ser restaurados, queremos resgatar trabalhos de Alexandre Robatto, Leão Rosemberg, Agnaldo Siri, e todos os outros cineastas cujas obras não recebem o devido cuidado”, explica Petrus Pires. “Restaurar películas com quarenta, cinqüenta anos de idade não é um processo simples. Queremos aproveitar a experiência que ganhamos com os filmes de Roberto para ajudar a conservar a memória do cinema baiano para as próximas gerações”.

A solenidade acontecerá na sessão de abertura oficial da mostra, no dia 27 (terça), às 20h, no Cinecena Unijorge. No mesmo dia, será exibido “Abrigo Nuclear” (1981), de Roberto Pires, ficção científica brasileira gravada em Salvador e lançada há 30 anos. A Mostra Uranium Bahia é um dos projetos do Memória Roberto Pires, que promove ainda sessões semanais de filmes baianos no Cineclube Roberto Pires, na sede da Associação Camujerê, em Itapuã.

MOSTRA URANIUM BAHIA

No ano em que se comemoram os 25 anos do acidente nuclear de Chernobyl, maior desastre nuclear da história, e com toda a discussão em torno dos últimos acontecimentos no Japão, a Mostra busca exibir produções independentes audiovisuais sobre a temática da energia nuclear. Os filmes abordam todo o ciclo nuclear, os riscos da radioatividade, especialmente sobre a exploração, mineração e o processamento de materiais radioativos, que acontecem com muita frequência, ainda hoje em todo o mundo.

No dia 28 (quarta), às 20h, o projeto Quartas Baianas exibirá especialmente a produção alemã “O Futuro Irradiante do Brasil – A Exploração do Urânio em Caetité” (2011). O filme denuncia os abusos cometidos pelas Indústrias Nucleares do Brasil, que há 20 anos iniciou o projeto para minerar urânio em Caetité, no sudoeste baiano.

O evento promoverá um debate com ONGs ambientais, no dia 29 (quinta), às 15h, no Ciranda Café Cultura & Artes, após sessão do curta “Fala do cacique” (2008), com a presença dos diretores do filme Nobert Suchanek e Márcia Gomes.

No aeroporto de Salvador, em parceria com a Exposciense, a mostra realizará sessões direcionadas a alunos de escolas, além da exposição “Mãos de Césio”, com fotos, matérias de jornal, trechos de roteiro, e estudos produzidos pelo Roberto Pires, além de uma instalação artística do GIA – Grupo de Instalação de Intervenção Ambiental da Bahia.

A Mostra Uranium Bahia é realizada pelo Programa Memória Roberto Pires, produzido pela Cambuí Produções, e co-produzido pela Iglu Filmes, Iglu Photos, Fórum Pró-Cidadania, Instituto de Permacultura da Bahia, Cardim Projetos. A mostra tem apoio da Dimas, do projeto Quartas Baianas, do Cinecena Unijorge, do Cineclube Roberto Pires, do Ciranda Café Cultura & Arte, e da Exposciense.

URANIUM FILM FESTIVAL

A Mostra faz parte do Uranium Film Festival – 1º Festival Internacional de Filme sobre Energia Nuclear – Urânio em Movi(e)mento, que já passou pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, João Pessoa, Natal e Fortaleza.

O URANIUM FILM FESTIVAL – 1º Festival Internacional de Filme sobre Energia Nuclear – Urânio em Movi(e)mento exibiu mais de 40 filmes internacionais, documentários de curta e longa metragem sobre o ciclo nuclear de todos os continentes. “Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia”, de Roberto Pires, e o curta “Césio 137, O Brilho da Morte”, de Luiz Eduardo Jorge receberam os prêmios o júri popular. Durante o Festival, aconteceu a première mundial do documentário “O Futuro Irradiante do Brasil – A Exploração do Urânio em Caetité”.

ROBERTO PIRES E A ENERGIA NUCLEAR

Roberto Pires, cineasta pioneiro no cinema de longa-metragem baiano, desde a década de 1970, militava contra a energia nuclear e seus malefícios, e contou com o apoio do cientista César Lattes.

O diretor realizou documentários sobre o tema, além da ficção científica “Abrigo Nuclear” (l1981), ao mesmo tempo em que o governo militar anunciava a construção das usinas de Angra. Para “Abrigo Nuclear”, Roberto Pires chegou a construir um estúdio com material reciclável que simulava todo o abrigo.

Na década de 1980, o diretor se muda com sua família para Brasília com o objetivo de realizar o projeto do filme “Inverno Nuclear”. O roteiro do filme previa uma nuvem nuclear que faria nevar em Brasília, infelizmente, o projeto não foi aprovado e acabou sendo arquivado.

Ainda com a energia nuclear na cabeça, Roberto Pires não perdeu tempo quando soube do acidente radiológico ocorrido em Goiânia, em 1987. O acidente com o césio – e suas milhares de vítimas – é a maior tragédia radioativa acontecida no Brasil.

O cineasta foi até a cidade para ter contato e entrevistar os sobreviventes da radiação do Césio 137. Com um roteiro que buscou ser fiel aos fatos, em 1990, foi lançado o filme “Césio 137 – O pesadelo de Goiânia”. No mesmo ano, o filme levou seis candangos no Festival de Brasília, demonstrando não só a sua força como registro da tragédia, mas também como excelente obra cinematográfica. Até hoje, o filme serve como referência para escolas e movimentos ecológicos.

Em 2001, Roberto Pires morre vítima de um câncer, que se acredita ter sido contraído quando o cineasta resolveu filmar sozinho o local onde foi encontrada a cápsula radioativa de césio, no antigo aterro de lixo hospitalar, em Goiânia.

Programação completa da Mostra Uranium Bahia disponível aqui