Notícias

Ilustradora gaúcha cria cartilha de saúde sexual para lésbicas e bissexuais

Genilson Coutinho,
20/12/2019 | 18h12
Nicolle Sartor, 21 anos, apresentou o trabalho de conclusão do curso de Publicidade e Propaganda na UFSM — Foto: Walesca Timmen / Divulgação

G1 RS

A ilustradora gaúcha Nicolle Sartor, 21 anos, é mulher e lésbica. E, como mulher e lésbica, não se via representada nas cartilhas que tratavam a saúde sexual das mulheres lésbicas e bissexuais. Por isso, decidiu criar, ela mesma, um informativo que indicasse formas de prevenção e dicas de comportamento seguro em seu trabalho de conclusão do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na Região Central do estado.

“Existe uma vasta demanda de informações sobre este assunto, mas elas não existem. Estão engatinhando para existir”, comenta a publicitária, conhecida nas redes sociais como Nicolle Velcro, ou vlkrr, sua assinatura digital.

A ideia surgiu enquanto confeccionava um trabalho na disciplina de Comunicação e Cidadania, em 2018, para a qual precisou criar um fanzine sobre grupos minoritários. Era apenas o embrião do que se tornaria, este ano, em o “Velcro Seguro — O Guia de Saúde Sexual para Mulheres Lésbicas e Bissexuais com Vulva”.

“Ele foi quase uma monografia com projeto experimental junto, porque teve muita parte de análise e construção de contexto para chegar na conclusão de que não tínhamos acesso a este material de forma acessível e didática disponível”, relata Nicolle.

Velcro Seguro é uma cartilha sobre saúde sexual de lésbicas e bissexuais — Foto: Nicolle Sartor / Divulgação

O guia foi desenvolvido em três partes ao longo de todo 2019. Na primeira, Nicolle fez um levantamento sobre cartilhas e informativos sobre o tema sexo. A então estudante verificou que, embora houvesse campanhas direcionadas a gays desde os anos 1980, o debate sobre a saúde de lésbicas não aconteceu até 2010.

Na segunda fase, ela criou a cartilha de 10 páginas. “O esforço foi contemplar a maior quantidade de informação no menor espaço. Se faço uma cartilha muito longa, ela não se torna atrativa e dificulta a reprodução. Um dos principais objetivos é que este material circule”, defende Nicolle.

Todo conteúdo foi criado em parceria e revisado por Thaís Machado Dias, médica da família e membro do Coletivo Íris. Ela ajudou a construir o roteiro e condensar o material que não poderia ser deixado de fora, informações que não são encontradas com facilidade na internet.

“Se procurar no Google, não aparece na primeira página, na segunda, então é difícil dizer que esteja de acesso livre e facilitado”, comenta Nicolle. “Tem diferença entre existir e ser acessível. Não adianta tratar de maneira rasa ou publicar e nunca mais dar respaldo.”

Entre descobertas e mitos desfeitos, Nicolle conta que aprendeu muito com a elaboração do material. “Fora o que eu sabia sobre a possibilidade de transmissão de IST pelo sexo entre vulvas e a necessidade de exames como o papanicolau, que aprendi na construção do primeiro material, o resto foi bem novo.”

Velcro Seguro é uma cartilha sobre saúde sexual de lésbicas e bissexuais — Foto: Nicolle Sartor / Divulgação

Teste com mulheres

A fase derradeira e redentora, para ela, foi testar a eficácia da cartilha entre o público-alvo. A ilustradora entrevistou mulheres lésbicas de etnias diferentes em Santa Maria com o objetivo de entender o contexto delas, como foram suas experiências pessoais e com o sistema de saúde, como procuravam informações, entre outras questões. E, pela recepção, o trabalho foi aprovado.

https://www.instagram.com/p/B6LfHNkn4mc/?utm_source=ig_embed

“Eu acredito que esse material pode servir de motivador para o desenvolvimento de materiais específicos para outros grupos que precisam também”, diz Nicolle.

A banca de avaliação do trabalho de conclusão também aprovou: a nota foi 10. A ideia, agora, é deixá-lo disponível na biblioteca da UFSM em 2020. Enquanto isso, o material já circula na internet e entre os grupos interessados.

Nicolle não pretende levar o traço para outros grupos minoritários. Em relação a homens transgênero, por exemplo, ela acredita que precisem ser abordados com uma linguagem distinta, já que eles demandam práticas e questões identitárias diferentes.

“Para que possamos tratar de maneira efetiva e completa, precisamos considerar que esses grupos têm diferenças entre si. Foi desenvolvida por uma lésbica para uma mulher lésbica, porque este material não existe, ao contrário de uma cartilha para homens trans, que já existe”, diz.