Música

No Circuito

III Festival Internacional da Sanfona começa amanhã (14)

Genilson Coutinho,
13/07/2015 | 16h07

Chico Chagas

Acordeon, sanfona, gaita, concertina, bandoneón, harmonia, fole, botoneira… Não importa qual o nome usar. Este instrumento de fole, teclado e botões, tocado junto ao peito, que surgiu de forma rudimentar na China, há mais de 5.000 anos, evoluiu, cruzou todos os continentes, e virou tradição na música de dezenas de países. Na Bahia, ele é o grande protagonista da terceira edição do Festival Internacional da Sanfona, que acontece de 14 a 18 de julho, em Juazeiro e Petrolina.

Sob a curadoria do cantor, sanfoneiro e compositor Targino Gondim e direção geral de Celso de Carvalho, o evento acontece em cinco dias com oficinas, workshops, concurso, exposição, concertos musicais e shows abertos na Orla Nova de Juazeiro e na Concha Acústica de Petrolina. Grandes instrumentistas oriundos das cinco regiões do país e também do exterior já estão confirmados na programação que homenageia dois grandes mestres da sanfona brasileira: o mato-grossense Dino Rocha e o pernambucano Mestre Camarão, que faleceu recentemente.

Entre atrações internacionais desta edição estão João Frade (Portugal), que traz como convidado o guitarrista (violonista) brasileiro Munir Hossn; Natanael Souza (Portugal) e Alexander Hrvstevich (Ucrânia). Das cinco regiões do Brasil estão Toninho Ferragutti (SP), Bebe Kramer (SP) e Oswaldinho do Acordeon (RJ) representantes da Região Sudeste; Chico Chagas (AC), representante da Região Norte; Dino Rocha (MS) representante da Região Centro-Oeste; Quinteto Persch (RS) representante da Região Sul; Targino Gondim (PE), Beto Hortis (PE), Quinteto Sanfônico da Bahia (BA), Rennan Mendes (BA), Daniel Itabaiana, Silas Souza (BA), Wanderley do Nordeste (BA), Flávio Baião (BA), Raimundinho do Acordeon (BA) e Elba Ramalho (PB) representantes da Região Nordeste.

O III Festival Internacional da Sanfona também apresentará uma exposição de sanfonas da marca LETTICE, produzida em Campina Grande, na Paraíba, e considerada uma das melhores do país. Será promovido um concurso (inscrições pelo site oficial) onde o vencedor, após três dias de apresentações em disputa, ganhará uma sanfona LETTICE no valor de R$18 mil reais.

O público ainda poderá se aprofundar no universo do instrumento através das oficinas práticas de sanfona, e de dois workshops: um sobre a sanfona na música mundial com João Frade (Portugal) e Munir Hossn, e música de câmara com o Quinteto Persch (RS).

Objetivos – A riqueza e a intensidade da programação do FESTIVAL, além de beneficiar as comunidades locais e os artistas, têm a ambição de consolidar este evento como um elo brasileiro no importante e movimentado circuito internacional da sanfona, que é formado por dezenas de eventos realizados todos os anos, em todos os continentes.

A terceira edição do projeto fortalece a singularidade da música brasileira no mercado musical, lançando luz sobre as formas de tocar sanfona em todo país e no mundo, além de potencializar a cadeia produtiva da sanfona e instrumentos assemelhados.

Realizado pela Conspiradoria Projetos e Produções, em parceria com a produtora Toca Pra Nós Dois, o Festival Internacional da Sanfona conta com o patrocínio do BNDES via Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.

O público do festival é bem variado, formado principalmente por famílias que comparecem juntas às atividades. Há um contingente grande de pessoas que já curtiram as edições anteriores e manifestaram grande desejo de participar de novas edições.

Também há vários músicos que vão espontaneamente de todo o Brasil e de outros países, dentre outros artistas, pesquisadores, produtores culturais, estudantes e pessoas de todas as classes sociais, idades e gêneros. Em toda programação estima-se a circulação de mais de 50.000 pessoas nas atividades do Festival.

O instrumento – Citado na carta de Pero Vaz de Caminha e atendendo por vários nomes como gaita ou acordeom, foi como sanfona que ficou conhecido o instrumento utilizado na típica musica nordestina. Há indícios de um instrumento primitivo, que utilizava o mesmo princípio sonoro das palhetas do acordeom, chamado Cheng, na China do século 12 a.C.

A história oficial, porém, conta que a sanfona chegou à Rússia no século XVIII e foi patenteada em Viena no ano de 1827. O instrumento teria chegado ao Brasil entre 1836 e 1851, através dos imigrantes alemães do Rio Grande do Sul, onde é mais conhecido como ‘gaita’. Há informações dessa época de que já havia tocadores de foles de oito baixos na região Nordeste, provavelmente obtidas por nordestinos que foram ao Sul para lutar na Guerra do Paraguai.

De lá para cá, a sanfona se transformou em um dos principais instrumentos das festas tradicionais brasileiras, presente em todas as regiões. O instrumento é ideal para acompanhar bailes pela amplitude sonora e por permitir ao executor cantar com facilidade. Por vezes, substitui o violão e a rabeca, de pouco volume sonoro, em muitas manifestações da cultura popular. Luiz Gonzaga levou a sanfona ao estrelato, lançando o baião com sua sanfona branca em 1946. Fã confesso de Gonzagão, a sanfona foi, por exemplo, o primeiro instrumento de Gilberto Gil quando ainda era criança.

Influente em uma enorme variedade de vertentes musicais, o instrumento mantém-se sempre atual, acompanhando a evolução da linguagem musical, interpretada por novas gerações, ricas em grandes instrumentistas. Há um grande circuito internacional do acordeom, com dezenas de eventos em todos os continentes e um festival como esse no Brasil é fundamental para discutir e valorizar este instrumento.

Juazeiro e Petrolina – O local escolhido para realizar este evento não poderia ser mais simbólico: duas cidades que unem dois estados, ambas situadas em pleno centro do sertão nordestino, Juazeiro e Petrolina, e que abrigam muitos e bons instrumentistas.

As cidades oferecem infraestrutura adequada para abrigar eventos deste porte e a distância entre elas e as capitais nordestinas não passa de 800km, facilitando deslocamento de público e artistas interessados, além de contarem com aeroporto.

 Os homenageados

Dino Rocha – Dino Rocha começou a tocar sanfona aos nove anos de idade. Desde então, sua paixão pelo instrumento só aumentou. Filho de músicos, sua mãe era alemã e o pai, paraguaio. Em 1971, mudou-se para a cidade de Campo Grande em Mato Grosso do Sul. Aos dezesseis anos de idade apresentou-se com seu primeiro grupo, “Los 5 Nativos”, da cidade sul-matogrossense de Ponta Porã.

Hoje, aos 64 anos, o artista possui considerável conjunto de obras musicais formado por 21 álbuns, entre vinis e CDs, que consolidaram sua carreira calcada em quatro décadas de música regional. Seu amadurecimento musical acompanhou a evolução da própria tecnologia no Brasil.

Seu primeiro trabalho foi gravado em 1973. Além de seus próprios discos, ao longo de tantos anos de estrada, Dino já participou, como convidado, de vários trabalhos de outros artistas. Entre os que fizeram parceria com o sanfoneiro estão Almir Sater, Renato Teixeira, Chitãozinho e Xororó além dos cantores e compositores Campograndenses, Paulo Simões e Guilherme Rondon. Hoje, além de trabalhos solo, Dino Rocha e sua sanfona, fazem parte do grupo Chalana de Prata.

Mestre Camarão – Reginaldo Alves Ferreira, mais conhecido como Camarão, é um importante sanfoneiro de Pernambuco O apelido Camarão foi dado pelo compositor e amigo Jacinto Silva que notou as bochechas avermelhadas do sanfoneiro e falou: “Pronto, chegou o Camarão”.

Camarão dedicou a maior parte de sua vida à música, sobretudo, à sanfona. O interesse pelo instrumento surgiu dentro da própria família. O oito baixos do seu pai, que era deixado na cama quando ele ia para a roça, foi descoberto por Camarão. “Maria Bonita” foi tocada pelo menino aos sete anos de idade. Aos 20 anos, Camarão ingressou na Rádio Difusora de Caruaru, onde grandes músicos como Sivuca e Hermeto Pascoal também estiveram. Camarão recebeu grande influência de Luiz Gonzaga, inclusive na produção de seus primeiros discos.

Reconhecido por ventilar o ritmo regional por sopros de sax, trompete e trombone, Camarão tem grande importância na efervescência musical do Estado de Pernambuco. Em 1968, ele cria a primeira banda de forró do Brasil, a Banda do Camarão. Entre os discos, podemos citar: Camarão, Forró pra Frente, Na Toca do Camarão – Camarão e seu Acordeon, A Bandinha do Camarão, Camarão plays Forró, Banda do Camarão, Forrofando em Caruaru. Foi homenageado no São João de Caruaru em 1999 e de Recife no ano de 2007. Camarão obteve o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2003.

Curadoria e direção artística

Targino Gondim e a Toca Pra Nós Dois – Targino Alves Gondim nasceu em Salgueiro (PE), a 100 km de Exu, a terra do Rei do Baião. Criado em Juazeiro da Bahia desde os dois anos de idade, ainda pequeno acompanhava de perto o “veio” Lua agarrado ao fole, cantarolar as poesias do nordeste e aos 12 anos já carregava o peso da sanfona.

Em 2001, após participar das filmagens de “Eu, Tu, Eles”, foi premiado pelo Grammy Latino e Troféu Caymmi com seu grande sucesso “Esperando na Janela”, que tornou-se um clássico joanino ao lado de “Pula a Fogueira” e “Asa Branca”.

Hoje com 22 CDs gravados e dois DVDs, Targino continua o legado de Luiz, divulgando o melhor da música nordestina pelo país e exterior. Ao final de 2007, o forrozeiro fez uma breve turnê por Portugal onde gravou um especial para o canal Música Brasil – exibido pela Rede Brasileira de Televisão Internacional (RBTI) para toda a Europa. Já pilotou um especial de TV sobre o nordeste exibido e gravado pelo Canal Futura – “O Tom da Caatinga” e arrebatou o prêmio de melhor cantor regional, no 21º Prêmio de Música Brasileira com o álbum “Canções de Luiz”.

Celso Carvalho e a Conspiradoria – Fundada em Junho de 1997, a Conspiradoria Projetos e Produções Ltda atua nas áreas de planejamento, elaboração técnica, administração de projetos e produção executiva.

Fundador e Diretor Executivo da Conspiradoria, Celso de Carvalho é o Diretor Geral do FESTIVAL INTERNACIONAL DA SANFONA, projeto idealizado por ele em parceria com Targino Gondim. Produtor Executivo e Curador dos Festivais Umbuzada Sonora e Conexão Vivo Juazeiro. Produtor Executivo e Flautista do projeto Jam no João. Membro do coletivo artístico Mundamundistas. Co-produtor dos filmes longas metragens Jardim das Folhas Sagradas, de Póla Ribeiro, e Trampolim do Forte, de João Rodrigo Mattos.

Responsável pelo planejamento geral, elaboração técnica e administração de mais de 100 projetos culturais da Conspiradoria e de terceiros, em diversas áreas (livros, CDs, artes cênicas, patrimônio, artes plásticas, audiovisual, bienais, etc), na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, destacando-se realizações com Daniela Mercury, Lucélia Santos, Paulo Betti, Teresa Seiblitz, Marcio Meirelles, Targino Gondim, Tomzé, Moraes Moreira, Gabriel Priolli, Ivan Isola, Solange Farkas e Barry Schwartz, entre outros. Coordenador geral e curador dos programas Select com Arte e Combustível Cultural, desenvolvidos em parceria com a Shell Brasil, com mais de 150shows de música instrumental realizados na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Já atuou em cargos de Diretoria e Gerência de grandes empresas como Shell Brasil (10 anos), Brasil Telecom (3 anos) e IRDEB (TVE-Bahia e Rádio Educadora da Bahia), entre outras.