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“Humilhações e violência física são constantes contra gays nos banheiros das estações de metrô de Salvador’, diz Presidente do GGB

Genilson Coutinho,
25/04/2018 | 00h04

Marcelo Cerqueira /presidente do Grupo gay da Bahia

Marcelo Cerqueira 
Pegação em banheiros públicos não é uma exclusividade da CCR Metrô Salvador. Ocorre no mundo inteiro e em todos os lugares onde há circulação de pessoas, principalmente nas estações de metrô, shoppings, boates, terminais rodoviários… enfim. A palavra “pegação” significa o que chamamos de “azaração”, “paquera”, “flerte”, namoro mesmo, nesse caso, nos banheiros públicos masculinos e femininos, portanto, precisamos conhecer socialmente esse fenômeno, essa tara, desejo, fetiche para não criarmos preconceitos sobre esse assunto, tão comum ou presente nas sociedades, sejam elas ocidentais ou orientais.

A pegação masculina é assim: os indivíduos entram nos banheiros públicos, seguem até o vaso para fazer xixi, e ficam ali, por algum tempo, se estimulando. O desfecho ocorre nos boxs reservados dos banheiros, em espaços fechados e livres de olhares curiosos, portanto não é considerado crime de atentado ao pudor ou coisa do gênero, como bem observou a delegada de Polícia Civil, Dra. Carmen Bittencourt.

Voltando nossos olhares para as ciências humanas, em uma perspectiva antropológica, essas práticas são bastante comuns em territórios de circulação e de construção de identidades eróticas, nas metrópoles brasileiras.
Qualquer estação de metrô mundo a fora, inclusive as estações do Metrô CCR daqui de Salvador, se inserem nessa perspectiva como um circuito, inclusive de afirmação, dessa identidade urbana. Esse fenômeno social, portanto, humano, ocorre excepcionalmente por alguns aspectos que consideramos importantes, que são as dificuldades de que gays masculinos possuem em encontrar locais para namorar e para beijar livremente, como fazem os heterossexuais nos centros urbanos.

Esses espaços se constituem como uma possibilidade de encontros e momentos para exercerem essa sexualidade entre iguais, livres dos preconceitos e olhares lascivos e discriminatórios do resto social.
Outros aspectos importantes, e que devemos considerar, referem-se à cultura heteronormativa, tradicionalista, judaico cristã e conservadora. Essa espécie de cultura, mesmo em que pesem os avanços favoráveis aos LGBTs nos últimos anos, estabelece um conflito de moralidade e empurra LGBTs a viverem suas experiências sexuais de forma clandestina, expostos a subordinação, violências e práticas insalubres. Essa, em especial, é uma prática que se relaciona com o desejo, o medo, a homofobia interna, externa e práticas violentas dispensadas por entes autoritários a estes indivíduos, que se expõem a essa atividade nos centros urbanos.

Salvador, como capital da diversidade, das artes e música, não pode conviver com esse tipo de censura, portanto, é inadmissível que o Consórcio CCR, na sua condição de prestadora de serviço público, um comedimento para exploração de um serviço voltado à população, devendo oferecer serviços de atendimento, respeitando sempre os critérios de urbanidade e humanidades em relação aos seus usuários, possa, de uma forma ou outra, agir com violência ou constranger, tratando esse assunto como caso de polícia. É caso de orientação e convencimento social.

Só para lembrar ao CCR Metrô Salvador, o Governo da Bahia reconhece, por exemplo, a utilização do nome social por mulheres trans e travestis no serviço público, mesmo governo que criou o Conselho Estadual LGBT, Centro de Referência LGBT, inclusão de transexuais masculinos e femininos no Concurso da Polícia Militar da Bahia. Portanto querido, a criatura “CCR Metrô Salvador” não pode ser ou querer mais que o criador “o Governo do Estado da Bahia”.

Lamentável que, em pleno século XXI, uma empresa como esta ande totalmente na contramão da história, e ignore as conquistas, se colocando indiferente ao Movimento LGBT baiano, que muito contribuiu e contribuirá para essas e outras conquistas.

Que, diante dessa situação apresentada, relacionada à “pegação nos banheiros” entre seres humanos, optou para o uso de prática violentas e perseguição aos gays, em seus circuitos de circulação e identidades, ao invés do diálogo com os movimentos sociais LGBT, com a finalidade de encontrar um caminho que não fosse a prática da violência.

Os relatos ouvidos são de aplicação das humilhações e diversas violências físicas, além de ofensas públicas, utilizando para isso o serviço de sonorização do Metrô. O Grupo Gay da Bahia (GGB), através do seu presidente Marcelo Cerqueira, desaprova esse comportamento, utilizado pelos seguranças do Metrô em relação a essa situação.

O GGB não recomenda a prática, mas pede cautela, ao tempo que compreende a especificidade desse local, mas reconhece que os banheiros são públicos, frequentados por pessoas de diversas orientações sexuais, e que o exercício de determinada prática pode causar constrangimento. Marcelo Cerqueira