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Homem trans com Doença de Chron consegue fazer a transição de gênero depois de acertar sua bolsa de estomia

Genilson Coutinho,
27/06/2022 | 22h06

Segundo a ABCD, Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn, existem pouquíssimos dados estatísticos sobre as Doenças Inflamatórias Intestinais no país, mas cerca de 65 mil pessoas recebem tratamento para a Doença de Crohn pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O jovem Michel Romão, de 22 anos, é uma delas. Sua história quebra dois tabus ao mesmo: do uso da bolsa de colostomia e da transição de gênero.

Com 15 anos (em 2015), começaram os primeiros sintomas de diarréia, cólica abdominal, febre e sangramento retal e, por quatro anos, Michel passou por sete médicos até chegar ao definitivo e atual que, na primeira consulta, diagnosticou a Doença de Chron e a necessidade de operação para uso da bolsa de estomia. Em 2019, ao chegar no médico que o trata até hoje, ele já estava apenas com 38kg, deprimido, sem vida social e houve época em que ficou até três meses seguidos deitado antes de operar o intestino.

Três meses depois de operado, quando passou a usar uma bolsa de ileostomia, veio a possibilidade de fazer uma cirurgia de reversão e, aos 19 anos, isso parecia ser a melhor solução para uma juventude livre e saudável. Mas não foi. Michel teve que passar por mais quatro cirurgias e, em uma delas, ficou dois dias em coma. No final das contas, tudo só se resolveu em julho de 2021, quando ele ficou com apenas um pedaço inicial do intestino e voltou a usar bolsa, dessa vez para sempre.

“A Doença de Chron nem sempre leva ao uso da bolsa, mas, se for o caso, os cuidados são os mesmos de qualquer pessoa com estomia. Para conforto e segurança dos usuários, é fundamental escolher uma bolsa que se encaixe perfeitamente ao seu corpo. Desta forma, não há vazamentos para a pele, que se mantém saudável, sem irritações e facilita a troca da bolsa”, reforça a enfermeira estomaterapeuta Joyce de Souza, Gerente do Programa Coloplast Ativa (SP), iniciativa da empresa Coloplast (que desenvolvedora de produtos de saúde para quem tem necessidades íntimas de saúde) que oferece atendimento gratuito e personalizado a pessoas com estomia e/ou incontinência urinária.

Cinco anos haviam se passado (desde os primeiros sintomas em 2015), quando, finalmente, Michel viu que sua vida seguiria um ritmo normal, com o uso da bolsa definitiva. Ele resolveu que era hora de, uma vez por todas, ser feliz!

Até 2020, Michel era Thalita. “Desde os 15 anos, eu sabia que era trans, mas, com tudo que eu passei, eu não tinha condições de tomar qualquer decisão a respeito disso. Quando minha vida se estabilizou, me senti forte para mudar”. Decidiu fazer uma transição de sexo e tornou-se um homen trans. “Depois que passei a usar a bolsa definitiva, minha vida mudou. Foi a oportunidade que eu tive de continuar vivo e seguir os meus sonhos”, diz o jovem que hoje tem 22 anos e está estudando para fazer Medicina e seguir a carreira de coloproctologista, especialista em Doença de Chron.

Em seu instagram @themichelromao, com pouco mais de 1800 seguidores, ele assume a bolsa, a mudança de sexo e reforça jamais ter deixado de fazer qualquer atividade por causa da bolsa: “Tive uma namorada que até achava fofo”.