Hollywood mudou? por Filipe Harpo

Redação,
06/02/2019 | 00h02

Por Filipe Harpo 

Dos oito filmes indicados na categoria melhor filme, no Oscar deste ano, três tem personagens LGBT como protagonista. São eles, A Favorita, Green Book e Bohemian Rhapsody. Estes, diferente de outros com personagens iguais, não tem a homofobia ou a homossexualidade como tema central da trama. São produções sobre outros caminhos…
Por um lado, mostram algo óbvio, mas preciso atualmente, que sujeitos homossexuais não tem sua sexualidade como foco de vida. Perpassa por nossas estradas outros tipos de vivencias, alegres ou tristes. A Favorita é sobre intrigas, relacionamentos abusivos, poder e a crítica ao modelo de aristocracia antiga. Green Book, sobre amizade, transformação, redenção, racismos implícitos e explícitos, não é novidade pra ninguém o amor dos membros da academia a este tipo de filme. E Bohemian Rhapsody é sobre o Queen… melhor, sobre Freddie Mercury do ponto de vista do Queen com um belo corte nas partes podres da banda e também do astro do rock.

Por outro, se você não se deixar levar por esta onda arco íris, vai enxergar um borro nessa bandeira. Uma homossexualidade a conta gotas! A primeira vez que eu vi o trailer de Bohemian, por exemplo, fiquei com um pé atrás justamente na cena do show apoteótico em estádio todo feito em CGI! Leia-se, grande orçamento, estúdio gigante, censura branda, filme fraco. Dito e feito, o roteiro do filme é tão quadrado, colocando pra debaixo do tapete o Freddie humano e deixando o gênio perpassar em tela, quase sem defeitos ou de falhas leves… É como se fizessem uma cinebiografia de Daniela Mercury aprovada por Malu…
A Favorita, ao MEU ver, é um filme machista mais do mesmo. Olha como mulher gosta de intriga, entre elas é quase um esporte esse joguinho absurdo, abuso de pequeno poder. Olha, quando elas se metem em assuntos realmente importantes, impostos, guerras, governar com justiça, observe como metem os pés pelas mãos… Fora as personagens lésbicas envoltas de machos zero à esquerda e por isso a única alternativa é viver sexualmente entre elas… Sono…
E Green Book, com a chance de desenvolver melhor um personagem negro e gay, ou sem tanta superficialidade e… dá vazão ao personagem branco. Green é um filme para todos os públicos, mas perfeito para o espectador branco “liberal” se enxergar e se ver na redenção perante o racismo. O filme é bonito, bom, mas feito para determinado tipo de público… E faz isso direitinho.
Mas o primeiro aspecto, de falar sobre personagens homossexuais envoltos em outras questões poderia ser o ponto chave e satisfatório desses filmes. Hum… Se você comparar com o desenvolvimento de personagens heterossexuais NÃO! Compare os personagens de Bohemian aos de Nasce Um Estrela, por exemplo, vai notar um abismo surreal entre eles! A heterossexualidade do casal principal é evidenciada em TODOS os takes e ângulos possíveis! Já a homossexualidade do roqueiro é posta em segredo, deixando pra imaginação do espectador, que muitas vezes prefere não pensar nisso, a cena do seu ídolo se esfregando em outro homem… beijando ou chupando o pau de um desconhecido em banheiro a beira de estrada!
Hollywood não mudou! É a mesma do “boom gay” evidenciada com filmes “antigos” como Será Que Ele É? ou A Gaiola das Loucas onde produtores estavam interessados no filão do gay para toda família… Ela molda o LGBT ao seu contexto, para liberais frustrados gostarem da gente… e nós nos sentirmos aceitos… saímos do armário e tropeçamos no mais escroto buraco no meio da estrada…

Filipe Harpo é diretor da SOUDESSA Cia de Teatro, historiador pela UNEB, realizador audiovisual pelo Projeto Cine Arts – UNEB – PROEX e apaixonado por cinema.