In Moda

Gordofobia: até quando a moda fechará os olhos?

Coletivo Minissaia,
12/01/2016 | 23h01

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Estávamos no quarto dia do ano de 2016, quando uma consumidora viveu uma experiência lamentável com uma das mais famosas marcas de “moda carioca” do Brasil. Através do Facebook, a vítima compartilhou o preconceito que acabara de sofrer quando, ao adentrar numa das lojas acompanhada da filha, obesa, foi alvo de risadas por parte das vendedoras – que, em determinado momento, chegaram a ignorar as clientes, retirando-se para o fundo da loja.

Ao relatar o ocorrido na fanpage da marca, a consumidora recebeu uma resposta padrão. Mas até quando será considerado padrão o olhar desinteressado da moda sobre os corpos que não obedecem às regras?

O assunto já foi debatido exaustivamente mídia afora. Como defesa, as empresas alegam que criar peças em numerações muito elevadas é complicado em termos mercadológicos, porque o caimento começa a diferir muito do original e, por isso, seria necessário praticamente recriar a roupa – coisa que exige um tempo não disponível no corre-corre da entrega de coleções. Assim, as marcas preferem continuar nadando entre os tamanhos 36 e 44, enquanto clientes que vestem números acima têm, obrigatoriamente, de buscar lojas específicas que atendam aos seus corpos.

Não vou entrar na discussão da magreza das modelos nas passarelas. O mais grave é aquilo que está nas araras, perto de nós, pronto para ser consumido. Segundo pesquisas recentes, 52,2% dos brasileiros está acima do considerado “peso ideal” (um termo que deveria ser revisto, por sinal). Isso representa mais da metade do país: uma metade que, assim como a outra, gosta de entrar numa loja e, simplesmente, levar uma roupa pra casa. Sem precisar de discriminação, olhares tortos, risinhos de canto de boca. E sabe o que mais? Uma metade que tem dinheiro pra gastar. E está pronta pra isso.

Há o discurso do aspiracional. Afinal, todo mundo deseja ser magro e as lojas, é claro, têm de se associar a esse desejo. Errado. Acabou a época em que todo mundo queria vestir 38. O que as pessoas sonham, agora, é em poder fazer dos seus corpos o que bem entendem e, consequentemente, vestir aquilo que acham que lhes cai bem. Balança não é indicativo da imagem fashion de ninguém. Poderia passar algumas horas citando exemplos que provam essa verdade.

Essa conversa rende fácil um dia inteiro de argumentos. Não temos tanto tempo, mas uma coisa é certa: chegou a hora de a moda parar de fugir da raia. De fingir que o assunto não é com ela, que ainda dá para oferecer uma resposta padrão, um cala-te-boca. Não dá. Ou as marcas se posicionam agora, ou vão acabar com a magia em torno de suas criações – e aí, meu bem, o tal do aspiracional vai para as cucuias.

Acorda, pessoal. A gente está de olho.

Vanessa Ventura é integrante do Coletivo Minissaia e criadora do Belicia Blog.

Relações Públicas, Redatora Publicitária, Blogueira, veste 38 e adora poder vestir o mesmo que qualquer uma de suas amigas acima do 46.

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