Teatro

Gil Vicente Tavares celebra 15 anos de teatro com nova montagem

Genilson Coutinho,
01/05/2014 | 04h05


Para comemorar os 15 anos de trajetória no teatro baiano como diretor e dramaturgo, Gil Vicente Tavares encena a obra Quarteto, de Heiner Müller, uma versão teatral do romance francês As Ligações Perigosas (Les Liasons Dangereuses). A mais nova montagem do grupo Teatro NU traz os atores Marcelo Praddo e Bertrand Duarte se desdobrando em vários personagens, de uma história onde as relações humanas são revistas e a sexualidade é refletida. A estreia acontecerá no dia 8 de maio, às 20h, no Teatro ICBA, ficando sempre de quinta-feira a sábado.

Em 1999, Gil Vicente Tavares foi bem recebido pela crítica e pelo público com o espetáculo Quartett, fazendo um diálogo com a mesma obra. A montagem de formatura em Direção Teatral na UFBA lembrava os salões da nobreza francesa antes da Revolução Francesa. Agora, Tavares olha para o mesmo tema numa perspectiva apocalíptica, refletindo para onde iriam as relações humanas após uma catástrofe mundial. Até onde chegaria a decadência humana e a sexualidade nesse contexto.

Mais do que alterar o cenário da montagem, o diretor pretende estabelecer um novo diálogo com a Salvador e seu momento histórico. “A cidade hoje vive um momento bastante distinto do que há 15 anos atrás quando fiz minha primeira montagem. Em alguns aspectos, Salvador retrocedeu e aprofundou sua decadência. Como artista, me interessa fazer uma provocação a partir da montagem para questionar sobre nosso endurecimento nas relações humanas, a nossa decadência. Estou curioso para saber qual será a recepção da cidade para o espetáculo”, revela Gil Vicente. Para o encenador, esses 15 anos marcam também um début, uma adolescência criativa, onde há espaço para as inquietações e a provocação artística.

“Quinze anos depois, minha encenação aproxima-se muito mais do bunker que do salão. Ainda havia, na primeira montagem de Quarteto, alguma elegância, alguma resistência ao declínio sexual, cultural e político do homem. Agora, são dois seres como restos de humanidade. Talvez a bomba já tenha explodido e não tenhamos nos dado conta. Não é preciso passar por uma devastação para se chegar à decomposição. Somos nós, com nossos desejos, fraquezas e anseios de poder e destruição, responsáveis pelo mofo e pelo podre” afirma o diretor.

A nova montagem do Teatro NU mantém a característica de explorar de forma radical o trabalho dos atores, desnudando a cena, a cenografia, os artifícios e até mesmo a ilusão teatral. Em cena, dois nomes experientes do teatro baiano: Bertrand Duarte e Marcelo Praddo, integrante do grupo e participante da maioria das montagens da companhia. Quarteto marca também o retorno aos palcos de Duarte, ator com uma trajetória rica também no teatro e no cinema, afastado do ofício há mais de 20 anos. Juntos os dois intérpretes percorrerão os vários personagens da obra, encarnando homens e mulheres, contudo numa perspectiva mais andrógina e híbrida.

A equipe de Quarteto renova a parceria do Teatro NU com a Multi Planejamento Cultural, que assina a produção de mais esta montagem, e convoca novamente Eduardo Tudella, cenógrafo e iluminador integrante do grupo e responsável pela luz e cenários da montagem de 15 anos atrás. Agora o artista e colaborador do grupo de longa data propõe uma ambientação de atmosfera futurista e decadente, numa aproximação com a metáfora de um bunker. A direção musical é de Luciano Bahia, que também foi integrante da primeira montagem. Pela primeira vez, Rino Carvalho concebe figurinos para a companhia e propõe a caracterização dos personagens.

Début – Embora considere 15 anos pouco para o tempo do teatro, Gil Vicente Tavares decidiu celebrar sua carreira como diretor e dramaturgo. “Acho um momento de revisar a carreira, celebrar o tempo em atividade, mas também estabelecer marcos. Compreendo que estou sendo um debutante mesmo, como um adolescente que vai conquistando maturidade e compreendendo melhor o mundo” explica o artista.

De fato, Gil Vicente Tavares alcança uma marca de produção invejável dentro do cenário baiano, onde ano a ano são formados diretores teatrais, muitas vezes considerados revelação dada criatividade e inventividade, mas que não conseguem se manter no mercado. Além da estreia de Quarteto, o encenador, talvez ainda em 2014, irá dirigir um novo espetáculo, assinando também a dramaturgia: Sade, contemplado pelo Setorial de Teatro da Funceb.

Brasil afora, o trabalho do diretor teatral e dramaturgo também poderá ser conferido.Os Javalis ganhará uma montagem carioca, protagonizada pelo ator baiano Emiliano D’Ávila. Já a premiada Sargento Getúlio circula no projeto Palco Giratório, levando o monólogo de Carlos Betão aos mais diferentes palcos do país. Tavares assinou a dramaturgia do espetáculo Destinatário desconhecido, encenado por Zeca de Abreu e um dos destaques do Festival de Teatro de Curitiba, realizado no início de abril. Outro texto do autor, que chegará em breve aos palcos, é Canto seco, que terá a direção de Rino carvalho.

Serviço
Quarteto
Estreia: 8 de maio, às 20h, no Teatro ICBA.
Temporada de quinta a domingo, até 31 de maio.
Ingressos: R$40 (inteira) e R$20 (meia entrada)