Gays e os encontros casuais por Regina Navarro Lins

Genilson Coutinho,
15/12/2013 | 13h12

A questão da semana é o caso do internauta que não aceita sua homossexualidade e não se relaciona com ninguém, passando a maior parte do tempo trancado em casa.

O fato de ser homossexual afeta a vida de alguns homens a ponto de não conseguirem nem trabalhar. O internauta introjetou de tal forma os valores da sociedade em relação à homossexualidade, que se transformou num homofóbico — quem odeia os homossexuais — tornando-se o mais cruel algoz de si mesmo.

Ele não está sozinho. Numa grande pesquisa de opinião nos Estados Unidos cerca de 25% dos homossexuais declararam lamentar sua homossexualidade e desejar ter recebido uma pílula mágica de heterossexualidade ao nascer. Mas como vivem os outros 75% da população gay?

Em algumas cidades americanas como Nova York e São Francisco, no final da década de 60, os gays começaram a sair do silêncio e levar a vida que desejavam. Mas em todas as outras regiões, tanto da Europa, América do Sul e mesmo dos Estados Unidos, a aceitação cresce cada vez mais, embora ainda seja restrita a alguns grupos e lugares.

O Relatório Kinsey sobre a homossexualidade, publicado em 1978, apresenta o resultado de uma pesquisa sobre o estilo de vida dos homossexuais de São Francisco, em que foram entrevistados 3.854 gays. O estudo concluiu que 64% dos homens homossexuais não eram promíscuos, 39% mantinham um vínculo amoroso estável e 25% eram homossexuais assexuados que, por não se aceitar como homossexuais, mantinham relações sexuais esporádicas.

Alguns casais gays tentam legalizar sua situação com casamentos formais, reivindicando os mesmos direitos e vantagens concedidas aos heterossexuais. Os gays se organizam de várias maneiras. Grupos militantes lutam pelo fim da discriminação e grupos de discussão crescem nas grandes cidades.

Como qualquer grupo minoritário, os gays são discriminados e por isso criam pontos de encontro onde podem compartilhar suas próprias preferências, problemas e estilos de vida, sem o olhar crítico do heterossexual. Em bares, boates e saunas, procuram contatos com outros homossexuais, que podem durar apenas uma noite ou se transformar numa relação longa.

Para o sociólogo inglês Anthony Giddens, seria errôneo considerar-se uma orientação para a sexualidade episódica apenas em termos negativos. Assim como as lésbicas, os gays questionam a tradicional integração heterossexual entre o casamento e a monogamia. Ele argumenta que da maneira como é compreendida no casamento institucionalizado, a monogamia sempre esteve ligada ao padrão duplo – homem pode, mulher não pode – e, por isso, ao patriarcado. Quando os encontros episódicos, mesmo que impessoais e passageiros, não constituem um vício podem ser uma forma positiva de experiência do cotidiano.

Pela falta de conhecimento direto que se tem dos hábitos das minorias, há uma tendência a se atribuir aos gays práticas sexuais excêntricas ou perversas. Entretanto, vários dados científicos indicam que, como grupo, os homossexuais não apresentam maior índice de dificuldades psicológicas do que os heterossexuais.

A questão é que as pressões familiares e a discriminação social e econômica que enfrentam tendem a aumentar bastante as tensões do dia-a-dia. Muitos estudos defendem atualmente que a homossexualidade não é um comportamento desviante, situando-se dentro do âmbito normal da expressão sexual humana.

O homossexual que realmente se aceita vive como as outras pessoas, sem necessidade de se ocultar ou de se exibir, mesmo porque acredita que ser homossexual não significa infelicidade, da mesma forma que ser heterossexual não garante felicidade a ninguém.

Texto publicado originalmente no blog da Regina Navarro Lins

Regina Navarro Lins

E psicanalista e escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda” e “O Livro do Amor”