Exposição Fé: Fotógrafo registra olhares, gestos, lágrimas, luz e sombras de romaria de Bom Jesus da Lapa

Genilson Coutinho,
30/09/2013 | 14h09

A profundidade e a beleza da religiosidade popular traduzidas pelo olhar do fotógrafo Ricardo Prado. É esta a proposta da Exposição Fé, que registra olhares, gestos, lágrimas, luz e sombras de uma das mais autênticas representações de fé e devoção do Brasil: a romaria de Bom Jesus da Lapa. A terceira maior romaria do país estará em destaque nas 30 fotografias que compõem a Exposição Fé, em cartaz no foyer do Teatro Castro Alves a partir de 16 de setembro, às 19 horas, com visitação gratuita diariamente das 12h às 18h. A mostra reúne, ainda, poemas de José Inácio Vieira de Melo, que transformou em palavras os sentimentos que as fotos lhe transmitiam. A cidade do oeste baiano também receberá a mostra, após a exibição em Salvador, que se encerra no dia 08 de outubro.

“Busquei a manifestação espontânea e pura, o que há de mais singelo na busca individual pelo elo com a divindade, a crença no invisível”, afirma Ricardo Prado, que há três anos registra a romaria realizada no mês de agosto, no sertão baiano. O registro das expressões do sagrado é, ainda, uma maneira de documentar a manifestação popular e mostrar, através das imagens, a capacidade dos peregrinos de manter viva uma crença secular. “Presenciei momentos de epifania. É muito belo ver o profundo sentimento de pessoas que têm muito pouco, mas que revelam uma grande conexão com a divindade. E é a força desse sentimento que faz com que elas caminhem”, relata Prado.

Outro traço singular da Exposição Fé é a junção de duas linguagens artísticas. Além das fotografias, a simplicidade do sertanejo e do universo da romaria de Bom Jesus da Lapa será traduzida também pela poesia de José Inácio Vieira de Melo. “Fé não é da boca pra fora. Só se conhece quem tem fé, quando o tempo crava as esporas”, recita, em um dos versos, o poeta alagoano, radicado na Bahia. Com curadoria de Valéria Simões, a Exposição Fé tem produção assinada pela Hasta La Luna Iniciativas Culturais e patrocínio do Governo da Bahia, através do Fundo de Cultura, além do apoio do Teatro Castro Alves, Rede Bahia e Frente & Verso Comunicação integrada.

A Romaria do Bom Jesus

A terceira maior romaria do Brasil é realizada no mês de agosto, em Bom Jesus da Lapa, município da região oeste da Bahia situado a 850 km de Salvador. Milhares de fiéis participam das manifestações não apenas durante o mês festivo, mas durante todo o ano. A frequência dos fiéis é fundamental para a economia e cultura do local, que tem o turismo religioso como atividade de destaque.

 

A grande marca desta peregrinação, além do grande número de acessos, é sua relação com os aspectos geológicos da região, onde se destaca um maciço de calcário de 90 metros de altura recortado em galerias e grutas. Nesse cenário natural em que milhares de romeiros cultuam o Bom Jesus, fé e natureza se unem de forma peculiar.

O lugar tornou-se destino de romaria há mais de 300 anos. Em 1691, Francisco de Mendonça Mar descobriu a gruta que até hoje serve como Igreja do Bom Jesus da Lapa. No altar do Bom Jesus, construído na pedra, ouvem-se romeiros vindos de diversas áreas, em sua maioria pequenos agricultores de vida simples, balbuciando preces, fazendo seus pedidos e agradecimentos; outros misturam palavras com lágrimas; outros pagam promessas deixando ex-votos, como fotos, cartas, muletas, etc.

Ricardo Prado

Formado em Comunicação Social, Ricardo Prado, 38 anos, atua como fotógrafo profissional desde 97 nas áreas de fotojornalismo, documentário e foto publicitária. Seus trabalhos já foram publicados nos principais veículos de comunicação da Bahia e do Brasil. Realizou as exposições individuais Odé de Iyá (Ciranda Café/2013), Odoyá Mãe do Rio (Galeria Jaime Figura – Teatro Gamboa/2009) e Romeiros de Pedro Batista (Santa Brígida-BA/2001) e é autor das fotografias do livro Busca Vida – Um Mar de Histórias, que será lançado em 2013.

José Inácio Vieira de Melo (Poeta Convidado)

Natural do povoado de Olho d’Água do Pai Mané, Alagoas, é radicado na Bahia desde 1988. É poeta, produtor cultural e jornalista formado na UFBA, com cinco livros de poemas publicados, dos quais destacam-se “A Terceira Romaria” (Aboio Livre / 2005; Anome Livros / 2011), “A Infância do Centauro” (Escrituras / 2007) e “Roseiral” (Escrituras / 2010). É também coordenador e curador de vários eventos literários, sendo um dos principais ativistas da poesia na Bahia. Foi o organizador da coletânea “Sangue Novo – 21 Poetas Baianos do Século XXI” (Escrituras / 2011), participou de antologias e sua poesia tem sido publicada em jornais, revistas, sites e blogs do Brasil e do exterior, com traduções para espanhol, francês, inglês e finlandês. Em 2011 lançou o livro “50 Poemas Escolhidos pelo Autor”, que faz parte da coleção de antologias publicadas pela Edições Galo Branco (RJ), da qual participam poetas como Lêdo Ivo, Gilberto Mendonça Teles e Ildásio Tavares. Mantém o blog Cavaleiro de Fogo: www.jivmcavaleirodefogo.blogspot.com

 

Data: 16/09/2013 a 08/10/2013

Valor: Gratuito