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Exército diz que vai punir autor de vazamentos de dados da jovem trans

Genilson Coutinho,
30/09/2015 | 10h09

Fotos de Marianna Lively na base militar foram feitas por soldado que a atendeu para resolver problemas relativos ao alistamento militar; capitão confirmou suspeita (Foto: Reprodução/Facebook)

O Exército Brasileiro afirmou que um Inquérito Policial Militar foi instaurado para apurar e punir os responsáveis pelo vazamento da ficha de alistamento obrigatório da transgênera Marianna Lively, 18 anos.

O caso aconteceu em São Paulo na última quarta-feira (23) e repercutiu depois que a jovem fez uma denúncia no Facebook. O posicionamento oficial do Exército veio cinco dias depois do registro do boletim de ocorrência na delegacia.

Em nota, a corporação afirmou que “não discrimina qualquer pessoa em razão da raça, credo, orientação sexual ou outro parâmetro. O respeito ao indivíduo e à dignidade da pessoa humana, em todos os níveis, é condição imprescindível ao bom relacionamento de seus integrantes com a sociedade”.

Segundo Marianna, ela não foi hostilizada enquanto era atendida dentro do quartel, mas em casa, depois de ser liberada, ela começou a receber ligações de diversos lugares do país, nas quais as pessoas caçoavam dela por ser trans; outras diziam ter gostado dela e que queriam manter contato.

“Me trataram normalmente, sem preconceito e com educação [no quartel]. Porém, no mesmo dia quando era 14h começaram algumas ligações estranhas em minha residência, pessoas desconhecidas do RJ, SP, Brasília e Ceará, procuravam por David (meu nome de registro)”, escreveu.

Pelas fotos que a amiga mandou, Marianna concluiu que foi o soldado que a atendeu nas dependências do quartel quem tirou as fotos e viralizou o caso. No dia seguinte, a jovem resolveu pedir esclarecimentos sobre o caso na base militar onde havia feito o alistamento.

O capitão admitiu o acontecido, pediu desculpas pelo transtorno e prometeu punir o responsável. Como conselho, sugeriu que a garota “trocasse o número do telefone”.

Insegura, Marianna prestou queixa na delegacia, mas foi advertida pelo delegado que não teria muito o que se fazer, uma vez que o ocorrido foi dentro de uma unidade militar e ela teria que procurar a Polícia do Exército.

Na ocasião em que as fotos e os dados da jovem foram postadas na internet por militares, ela ainda tinha 17 anos. A jovem não usa o nome de registro desde os 15 anos. Ao G1, ela disse que desde a repercussão do caso não fica mais na casa onde vivia com a mãe. “Estou com medo de que façam alguma coisa comigo. Estou ficando na casa de parentes”.

Ainda de acordo com ela, dois militares do Exército passaram na casa dela e informaram à mãe que as duas deveriam comparecer ao batalhão.

Como Marianna não estava em casa, a condução não ocorreu. Segundo a jovem, a abordagem foi “estranha” e os militares a procuraram pelo nome de registro, David.