Estudo abre novo caminho no trabalho de descoberta de vacina contra a aids

Genilson Coutinho,
05/10/2012 | 10h10


Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, abriu novo caminho no trabalho de descoberta de uma vacina contra a aids. A pesquisa teve como base as pessoas que possuem o vírus da doença, mas que por algum motivo impedem que ele se reproduza no organismo, embora possam infectar outras pessoas. Uma em cada trezentas pessoas no mundo infectadas pelo vírus HIV tem essa característica genética que impede o desenvolvimento da aids. Elas são chamadas de controladoras de elite. A diferença desse estudo para outros é que agora os pesquisadores estão trabalhando em cima das células, e não de anticorpos.
Participam do estudo quatro pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde. Eles usaram a vacina contra a febre amarela, desenvolvida no Brasil, como base para criar uma vacina contra a aids em macacos. Quase cem macacos foram vacinados e expostos ao vírus, mas a aids não se desenvolveu. Essa vacina estimulou a produção de células que matam os glóbulos brancos contaminados com o vírus da aids, evitando que ele se reproduza.
É o que explica a pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz e uma das colaboradoras do estudo, Myrna Bonaldo. ”Essas células reconhecem a célula na qual o vírus está crescendo, proliferando e atacando essas células. É como se ela estivesse destruindo o mal pela raiz, atacando a fabricação do vírus. Então ela reconhece qual é a célula que está infectada pelo SIV ou pelo HIV. SIV no caso do macaco e o HIV no caso do homem, e ela ataca especificamente essa célula. Então a carga viral diminui, e isso implica em que a pessoa não desenvolva a doença aids, apesar dela ser portadora do vírus. Mas isso é importante porque ela não vai em um quadro da doença.”
O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, conta que o estudo está em fase inicial e que uma vacina contra aids poderá se tornar realidade talvez só daqui a dez anos. Ele reconhece a importância do estudo, mas diz que essa possível vacina não vai eliminar a doença e, sim, o desenvolvimento da aids em pessoas infectadas com HIV.
Por isso, Greco lembra da importância da prevenção. “Em toda conversa científica, queremos saber quando vamos ter uma vacina eficaz, e quase sempre o número é mágico: daqui a dez anos. Mas já se fala nisso há muitos anos. Isso só mostra para nós que hoje a nossa vacina é a prevenção. Se nós pensarmos que vamos controlar a infecção esperando que uma bala mágica venha, que seja medicamentosa ou seja uma vacina, nós vamos continuar correndo risco. Lembrando que o HIV/Aids não é a única doença sexualmente transmissível. Mesmo que a controlemos, ainda tem a hepatite, HPV, sífilis. Todas elas doenças graves que podem trazer problemas. Nós precisamos continuar sempre discutindo a prevenção”, ressalta.
Além disso, o diagnóstico precoce é extremamente importante. ”Nós continuamos, cada vez mais, investindo no diagnóstico. É importantíssimo a pessoa saber se está infectada ou não para facilitar o tratamento e a eficácia dos medicamentos”, destaca o diretor. Estima-se que existem hoje no Brasil cerca de 630 mil pessoas vivendo com o HIV, o vírus da aids. Dessas, 255 mil nunca teriam feito o teste e por isso não conhecem sua sorologia. E o diagnóstico é fundamental para o controle da epidemia.
Desde 2003, o Ministério da Saúde realiza uma estratégia de mobilização para incentivo ao diagnóstico precoce: o Fique Sabendo. Ele atua em Unidades Básicas de Saúde, Centros de Testagem e Aconselhamento e ambulatórios ou em locais como praças, feiras e eventos específicos. Em 2012, o Fique Sabendo começou, também, a oferecer medicamento à pessoa no momento em que tem diagnóstico positivo para sífilis.Com informações do Blog da Saúde
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