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Estudante morto no Rio Vermelho tinha sinais compatíveis com agressão, afirma perito; veja fotos

Genilson Coutinho,
21/07/2016 | 09h07

Mão inchada também chamou a atenção de familiares, que suspeitam que Leonardo tenha tentado se defender (Foto: Evandro Veiga/Reprodução)

Olhos com coágulos de sangue, pálpebras roxas e inchadas, arranhões nos braços e mãos inchadas. As marcas no corpo do estudante e produtor de eventos Leonardo Santiago Moura, 30 anos, antes de morrer no Hospital Geral do Estado (HGE), no último dia 11, são, para a polícia, resultado de queda acidental de uma balaustrada, dois dias antes, na Praia do Alto da Sereia, no Rio Vermelho.

No entanto, para um perito do Departamento de Polícia Técnica (DPT), que preferiu não se identificar, as imagens registradas pela família, às quais o CORREIO teve acesso com exclusividade, são compatíveis com agressão.

Para o advogado da família de Leonardo, o criminalista Leite Matos, isso indica que a suspeita dos parentes, de que o produtor de eventos foi vítima de um ataque homofóbico, após deixar uma boate gay no mesmo bairro, não pode ser descartada. A Polícia Civil, por sua vez, cita moradores, policiais militares, socorristas e outras testemunhas, que sugerem que Leonardo caminhava sozinho no calçadão, por volta de 5h40, quando se desequilibrou e caiu de uma altura de mais de 3 m.

Marcas no braço de Leonardo podem ser decorrente de tentativa de defesa durante briga, diz perito (Foto: Evandro Veiga/Reprodução)

Imagens

As fotos dos ferimentos em Leonardo foram tiradas no HGE pelos parentes e entregues para Leite Matos. “As imagens estão aqui, à disposição da Polícia Civil e do Ministério Público. O que eu e a família queremos é a verdade absoluta dos fatos”, comentou o defensor, que aguarda o laudo do caso do Departamento de Polícia Técnica (DPT).

A certidão de óbito consta como causa da morte anemia aguda, devido à lesão renal e hematoma retroperitonial e trombose cardíaca. “Uma lesão renal? Uma queda não faria isso. Acredito que ele tomou pancadas violentas, como chutes”, comentou Matos.

Perito

O CORREIO procurou um perito do DPT, que analisou as fotos. Segundo ele, os hematomas são resultado de agressão utilizada de força física. “Na verdade, nós utilizamos o termo de instrumento contundente para esse caso, porque consideramos que um murro também causa contusão. Nesse caso, a mão seria o instrumento contundente”, citou o perito. Ainda segundo ele, “existem outros instrumentos contundentes, mas pode-se utilizar também o termo agressão utilizando a própria força física”.

O especialista também observou que houve rompimento dos vasos sanguíneos nos olhos. “O termo que usamos para essas lesões provocadas por instrumento contundente é equimose, que produz essas manchas roxas em função do rompimento de vasos sanguíneos, produzindo também um edema (inchaço). Tanto nos olhos quanto nos braços, são equimoses”, explicou.

Foto de Leonardo, quando ele ainda estava internado, mostra olhos com hematomas e coágulos sanguíneos (Foto: Evandro Veiga/Reprodução)

O perito também sugere que Leonardo tentou se defender de um ataque. “Nos braços, as equimoses são sinais de tentativa de defesa e, por conta de arranhões, que podem ter acontecido na briga, ou alguém que segurou o braço dele de modo mais forte”, comentou. Ele destacou, porém, que as lesões mais extensas no braço “podem ter sido produzidas por raladura em alguma superfície áspera que estava perto, como uma parede, que tenha atritado com a pele”.

Delegada

O CORREIO procurou ontem a assessoria da Polícia Civil, que informou que a responsável pelo inquérito que apura a morte do produtor de eventos, a delegada Mariana Ouais, titular da a 1ª/DH, só vai se pronunciar no final do inquérito.

Em nota, divulgada anteontem, a delegada afirma que o próximo passo para concluir a investigação é ouvir os médicos que atenderam Leonardo no HGE e os demais integrantes da família e amigos – o pai, uma prima e dois amigos já foram ouvidos.

A delegada espera também por imagens próximas ao local do acidente, os laudos de perícia, perícia local complementar e o cadavérico, os três do DPT. A assessoria do DPT informou que os laudos ainda não estão prontos.

Resgate

Encontrado na praia por moradores e PMs, e socorrido pelo Samu, Leonardo deu entrada às 8h no HGE, com relato de intoxicação por bebida alcoólica e perda da consciência.

Foram pedidos exames de trauma, mas, por conta própria, ele deixou a unidade às 10h. Foi para casa, mas, após se queixar de dores, voltou ao HGE, às 15h30. Foi direto para o centro cirúrgico e, na operação, perdeu um rim. Após dois dias internado, teve dispneia — dificuldade para respirar — e morreu após parada cardiorrespiratória.

Boate

Horas antes de ir para a boate, Leonardo estava na Barra com a irmã, a designer de interiores Adriana Moura, 33. “Estávamos no Farol, com duas amigas, quando ele decidiu ir para a boate com amigos”, contou.

Leonardo entrou na San Sebastian por volta das 3h. “Vi quando ele entrou. Já tinha parado o fluxo de gente entrando”, disse um funcionário ao CORREIO. Segundo ele, o produtor chegou a ter um problema na consumação, mas  foi resolvido com a gerência. A assessoria da boate, no entanto, diz não ter registrado nenhum incidente com ele naquela noite.

Tiago, um dos amigos, contou que se despediu de Leonardo, na frente da boate, às 4h50. Menos de uma hora depois, a 1 km dali, o produtor foi achado ferido e desacordado.

Materia originalmente do Correio 24h