Estreia de Drácula marca a celebração dos 40 anos de carreira do diretor teatral Marcio Meirelles

Genilson Coutinho,
16/08/2012 | 15h08


Drácula – obra de Bram Stoker – é o mais novo espetáculo do diretor Marcio Meirelles. O romance, contado através de cartas, recortes de jornais, escritos de diários pessoais e de bordo, convida o público para uma reflexão sobre o lugar da mulher, a evolução das sociedades, o crescimento do capital versus o crescimento humano. A estreia é dia 17 de agosto, às 20h, no Teatro Vila Velha, em Salvador.

Embora montada 6 vezes no Brasil, esta encenação de Meirelles traz linguagem inovadora à obra: o lugar do protagonista é revisitado, pois nenhum ator interpreta o Conde Drácula. O personagem é constituído por projeções que contracenam com os atores Ciro Sales, Igor Epifânio, Lis Luciddi, Luisa Proserpio, Rafael Medrado e Will Brandão e percorrem a sala do teatro através de imagens, palavras e sons.

Tal concepção visa dar conta dos escritos de Stoker diante da construção do mito. Ao encenar Drácula, Meirelles tenta nos fazer ver que “o mito do vampiro nada mais é que uma imagem que projetamos fora de nós para ocultar nossa própria monstruosidade”. Na nova abordagem, não há sangue nem caninos latentes. O célebre romance é recontado de modo atual e estabelece contrapontos entre Oriente e Ocidente, homem e mulher, ciência e magia, questionando, a todo momento, os monstros que nos habitam.

Drácula é um clássico por estar sempre mostrando novos pontos de vista às pessoas, evidencia o quanto a ciência e o capitalismo avançaram, mas não resolveram os problemas da humanidade. Diante disto, Meirelles afirma que “Se ficamos presos ao crescimento do capital, mas não desenvolvemos o ser humano, corremos o risco de criar muitos monstros”.

Inserções midiáticas

Meirelles busca uma nova leitura para o próprio teatro, pois acha que este deve dialogar com as novas tecnologias e comunicação para transformá-lo em uma arte mais dinâmica e atual.

Imagens são projetadas no teatro, vezes funcionando como cenário, ilustração, ou encenação. Um sistema de som espacializado preenche todo o ambiente e amplifica ou modifica as vozes dos atores, que, por sua vez, manipulam computadores e tocam instrumentos como guitarra, baixo, teclado, bateria e percussão.

Gravações em off compõem diálogos do espetáculo. Alguns personagens são representados por vozes e o elenco contracena com áudios gentilmente gravados por Antônio Pastori, César Oliveira, Chica Carelli, Espedito Magrini, Sérgio Laurentino e Sônia Robatto.

Outro recurso para a releitura do clássico literário é o uso de uma webcam que grava a fala do personagem Dr. Seward e a projeta na peça. Na obra original, este registro foi feito através de um fonógrafo, equipamento que havia sido criado poucos anos antes de Bram Stoker, fascinado por tecnologias da comunicação, escrever o livro.

Um projeto engavetado há 35 anos

A ideia de montar Drácula surgiu em 1977, quando Meirelles, então em Salvador, liderava o grupo “Avelãz y Avestruz”. Já havia tido sua primeira bem sucedida montagem (Fausto, de Goethe – 1976), mas, por desistência de um outro parceiro, a ideia ficou adormecida por décadas. Após a realização de oficinas sobre “Teatralidade digital – potencialidades e desafios da cultura digital nas artes cênicas” e com a entrada do Grupo Supernova Teatro na realização do espetáculo no ano passado, é que diretor e realizadores conseguiram recursos financeiros, através do Fundo de Cultura da Bahia, para concretizar o proejeto.

Marcio Meirelles
Diretor teatral, cenógrafo e figurinista, inicialmente ligado às áreas de arquitetura e artes visuais, completa este ano 40 de carreira.

Ganhador de vários prêmios como diretor, cenógrafo e figurinista, fez estágio na Circle Repertory Company (Nova York), participou do Colóquio Brasil-Alemanha de Teatro como palestrante, a convite do Instituto Goethe. Codirigiu, Sonho de Uma Noite de Verão em 1992, com Werner Herzog, no Rio de Janeiro. Em Londres, dirigiu Zumbi, com o Black Theatre Co-op, como parte do Lift (London International Theatre of London), em 1995.

No Brasil, foi fundador do grupo Avelãz y Avestruz (1976-1989), e criador/diretor do espaço cultural A Fábrica (1982). Durante os anos de 85 e 86, assumiu a chefia dos núcleos de cenografia, figurino, direção e elenco da TV Educativa da Bahia e, paralelamente, criou o Projeto Teatro para a Fundação Gregório de Mattos (1986).

Meirelles foi ainda diretor do Teatro Castro Alves entre 1987 e 1991. Em 1990 criou, com Chica Carelli, o Bando de Teatro Olodum, o qual dirige até hoje. Em 1994, coordenou o projeto de reforma e revitalização do Teatro Vila Velha, sendo seu diretor artístico até 1998. De 2007 a 2010, foi nomeado Secretário de Cultura do Estado da Bahia, revitalizando diversas preciosidades da cultura baiana, principalmente na área cinematográfica. De 2011 para cá dirigiu Bença (2011); Olho de Deus (2012) e agora Drácula.

Mais destaques em Drácula
Além do diretor, nomes de peso integram a equipe da montagem. Na direção musical, João Milet Meirelles, que hoje participa do grupo Baiana System, e cuida também das fotos de divulgação do espetáculo. Numa parceria inédita, CH Straatmann (Retrofoguetes), Glauber Guimarães (ex-Dead Billies) e o diretor musical João Milet compuseram o “Tema do Castelo”.

No elenco, a participação especial de Fernando Fulco, interpretando Van Helsing. Experiente no teatro e no cinema, Fulco já atuou nos longas O Homem Que Não Dormia, de Edgard Navarro; Central do Brasil, de Walter Salles; e Cidade Baixa, de Sérgio Machado. Já foi dirigido por Meirelles em outras montagens, sendo Bença a sua mais recente participação nos palcos baianos.

Os diretores de produção, Ciro Sales e Luisa Proserpio – atores que compõem o Núcleo Supernova Teatro – estabeleceram parceria com o Teatro Vila Velha e assinam juntos a realização do espetáculo. Pela competência demonstrada, são apontados por Meirelles como “atores grávidos da vontade de realizar este desafio. Estão no palco e nos bastidores ao mesmo tempo”.

Supernova Teatro

O Supernova Teatro é um núcleo de criação e produção artística criado em 2010 pelos jovens artistas empreendedores Ciro Sales, Luisa Proserpio e Will Brandão. Pautados na reunião de diferentes profissionais para a execução de projetos próprios, seus trabalhos são marcados pela experimentação, curiosidade e ousadia. O Supernova é um grupo em residência no Teatro Vila Velha e, além de Drácula, novo trabalho dirigido por Marcio Meirelles, realizou os seguintes espetáculos teatrais: “Os Enamorados” com direção de Antonio Fábio e “Alugo Minha Lingua”, dirigido por Fernando Guerreiro.

Redes sociais – um diálogo direto com o público
Durante o processo de construção da peça e ensaios da mesma, a produção lançou mão da concepção de comunicação integrada e diálogo com o público e, pela internet, compartilhou com as pessoas detalhes do projeto, através do site http://www.materialdracula.com, Facebook http://www.facebook.com/materialdracula, Vimeo e Flickr e demais redes sociais.

FICHA TÉCNICA

Direção: Marcio Meirelles
Texto: Marcio Meirelles – a partir do romance de Bram Stoker
Assistência de direção: Bertho Filho e Martin Domecq
Elenco: Ciro Sales, Igor Epifânio, Lis Luciddi, Luisa Proserpio, Rafael Medrado e Will Brandão
Participação especial: Fernando Fulco como Van Helsing e Bertho Filho como Renfield
Vozes convidadas: Antônio Pastori, César Oliveira, Chica Carelli, Espedito Magrini, Sérgio Laurentino e Sônia Robatto
Direção musical: João Milet Meirelles
Composição de trilha sonora: João Milet Meirelles e elenco
Composição de “Drăculești” (tema do castelo): Glauber Guimarães e CH Straatmann
Engenharia e operação de som: Gabriel Franco
Coordenação de projeções: João Rodrigo Mattos e Kico Póvoas (Doc Doma Filmes)
Equipe de produção de conteúdo: David Pádua, Fábio Grisi, Iansã Negrão, João Milet Meirelles, João Rodrigo Mattos, Kico Póvoas, Rex e Thiago Gomes
Registro audiovisual do processo: Rafael Sacramento e Rogério Vilaronga (Estúdio do Vila)
Desenho de luz: Pedro Dultra
Montagem: equipe técnica do Teatro Vila Velha
Operação de luz: Vinicius Bustani
Concepção cenográfica: Marcio Meirelles
Execução cenografia: André Cruz (Da20 Cenografia)
Cenotécnicos: Anderson Miranda, Levi Sansi, Luiz Santana e Pepeu Oliver
Concepção figurino e adereços: Marcio Meirelles
Execução de figurino: Dora Moreira
Costureira: Letícia Santos
Adereços: Luiz Santana
Conservação: Edinalva Alves
Projeto gráfico inicial: Belmiro Neto (Lado B)
Projeto gráfico: David Pádua, Iansã Negrão e Rex (Santo Design)
Editoração DVD: Ciro Sales, Rafael Sacramento e Rogério Vilaronga
Direção de produção: Ciro Sales e Luisa Proserpio
Produção executiva: Thayná Lima
Assistência de produção: Luísa Saad
Colaboração: Moara Rocha
Assessoria de comunicação: Alê Pinheiro e Jamile Amine (Comunika Press)
Fotografia: Marcio Meirelles e João Milet Meirelles
Curadoria exposição “Material Drácula”: Ciro Sales
Correalização: Quattro Mani, Doc Doma Filmes e Santo Design
Realização: Supernova Teatro e Teatro Vila Velha

Serviço:
Espetáculo Teatral Drácula
Temporadas: de 17 a 26 de agosto e de 14 a 23 de setembro de 2012
Quando: de sexta a domingo, sempre às 20h
Onde: Teatro Vila Velha [Av Sete de Setembro, s/n, Passeio Público, Campo Grande, Salvador] Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia entrada válida para idosos, estudantes e demais casos previstos em lei)
Lotação: 180 lugares
Classificação indicativa: 15 anos
Duração: 2 horas
Tel da bilheteria: (71) 3083-4600

O público pode acompanhar detalhes do projeto através do site: