Espetáculo sobre universo LGBT”s será apresentado na Estacão da Lapa

Genilson Coutinho,
19/02/2013 | 01h02

Extrair da VIDA o objeto vivo da FICÇÃO, é com essa ideia que o espetáculo Casulo uma intervenção trans… apresenta o universo simbólico da população LGBTTTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e o ‘s’ se refere aos simpatizantes). O projeto é vencedor do Edital 07/2012 Culturas Identitárias – Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult). A concepção e encenação são do ator e diretor, Ângelo Flávio, que nesta nova montagem problematiza uma discussão transversal entre direitos humanos, identidade, diversidade, cidadania, afirmação e negação dos gêneros através de uma linguagem que funde ficção e depoimentos verídicos da população LGBTTTs. O espetáculo será realizado nos dias 09 e 16 de março, às 22h, na Estação da Lapa, gratuito.

O diretor e ator, Ângelo Flávio, explica por que escolheu a Estação da Lapa como ambiente para encenação do espetáculo, “a Lapa é um espaço de trânsitos…Quando recebi o Prêmio Braskem em 2004 eu fui para a Estação da Lapa pegar o “pernoitão” e, fiquei de 1h30 às 3h esperando o ônibus com o Prêmio nas mãos,  todos me olhavam, inclusive eu, que pensei um ator premiado vulnerável na madruga. E foi bom, pois não houve espaço pra deslumbre a realidade gritava em minha cara  e, naquele momento eu disse, ainda venho aqui re-significar este lugar. Chegou a hora. (risos)” O espetáculo Casulo: uma intervenção trans…,propõe essa ressiginificação de lugares, de olhares, de estereótipos.

O diferencial do espetáculo Casulo: uma intervenção trans…, é a sua fonte criativa, para desenvolver o roteiro foram realizadas pesquisas de campo e análise de conteúdo midiático sobre a população LGBTTTs. Também foi realizado um levantamento através de entrevistas, fotografias e filmagens nos pontos de prostituição noturna da cidade de Salvador, das casas noturnas e dos profissionais da área temática.

Na fábula um músico se apaixona pelo companheiro de trabalho, no entanto, o parceiro diz que a única forma de ter seu amor correspondido é se ele se transformar em travesti, quando ele atende o pedido do seu amor, causa no parceiro estranhamento e espanto, despertando a discussão sobre dialética da estranheza que o universo LGBTTTs causa na sociedade.

Para o diretor e ator, Ângelo Flávio, que saiu travestido no carnaval de Salvador e visitou boates LGBTTTs para fazer o laboratório do personagem, a novidade do espetáculo teatral é misturar ficção e realidade, em um formato de doc-ficção o espetáculo representa a história de amor entre dois homens, e do espanto de um deles ao ver seu parceiro travestido, além disso, ainda é composto por intervenções verídicas de pessoas do universo LGBTTTs, o que apresenta veracidade ao discurso que emerge do espetáculo.

Um dos objetivos do espetáculo é despertar o sentimento de cidadania e respeito às diferenças, é dar visibilidade ao discurso da população LGBTTTs, o lúdico vem acompanhado do verídico. É nesse universo imagético e cheio de poesia que o espetáculo foi montado. Trazendo à cena memórias de pessoas que tem uma ligação direta com o tema. Estas histórias irão compor a estória central da obra de criação coletiva da Cia Teatral Abdias Nascimento, contextualizando e potencializando a vida, força e re-existência das populações LGBTTTs que se resignificam cotidianamente no universo sociocultural.

O cenário foi idealizado pelo cenógrafo e artista plástico Marcos Costa, com ambientes, como o lar, as ruas, o palco, o plano dos sonhos, a moradia dos personagens, os espaços onde a poesia da lembrança e a solidão concreta se encontram e ganham vida. A concepção do figurino segue por essa tangente, fazendo uma releitura poética do universo da obra. A trilha sonora fica por conta de Maurício Lourenzo será executada ao vivo, com músicas autorais e músicas de compositores brasileiros.

Sobre o objetivo do espetáculo, o diretor e ator, Ângelo Flávio, diz que pretende despertar nos espectadores o sentimento de cidadania e a consciência de que todos podem transitar e serem respeitados pelas diferenças, “se eu conseguir multiplicar essa consciência podemos ter um país melhor, ainda mais na Bahia que lidera pelo sexto ano consecutivo o ranking dos mais homofóbicos”.

Fotos:  Tadeu Miranda

  Espetáculo Casulo | 09 e 16 de março | 22h

Local | Estação da Lapa