Espetáculo sobre o universo LGBT estreia em abril na estação da Lapa

Genilson Coutinho,
22/03/2013 | 13h03

Extrair da VIDA o objeto vivo da FICÇÃO, é com essa ideia que o espetáculo Casulo uma intervenção trans… apresenta o universo simbólico da população LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e o ‘s’ se refere aos simpatizantes). O projeto é vencedor do Edital 07/2012 Culturas Identitárias – Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult) e realização da Cia Teatral Abdias do Nascimento (CAN). A concepção e encenação são do ator e diretor, Ângelo Flávio, que nesta nova montagem problematiza uma discussão transversal entre direitos humanos, identidade, diversidade, cidadania, afirmação e negação dos gêneros através de uma linguagem que funde ficção e depoimentos verídicos da população LGBTs. O espetáculo será realizado na Estação da Lapa, gratuito, dias 06 e 13 de abril, às 21h.

Entre as atividades que precederam a estreia do espetáculo Casulo: uma intervenção trans…  e servem de termômetro para perceber a dialética da temática para aplicá-la no espetáculo, estão workshops de teatro com pesquisa e laboratório experimental com o público alvo LGBTs, que foram realizados nos dias 27, 28 de fevereiro e 01 de março, das 16h às 18h, No Grupo Gay da Bahia (GGB) e uma mesa redonda com especialistas sobre ‘Transgenerismo”, que aconteceu  no dia 23 de fevereiro, às 15h, na Sala Alexandre Robatto, Barris.

O diretor e ator, Ângelo Flávio, explica por que escolheu a Estação da Lapa como ambiente para encenação do espetáculo, “a Lapa é um espaço de trânsitos…Quando recebi o Prêmio Braskem em 2004 eu fui para a Estação da Lapa pegar o “pernoitão” e, fiquei de 1h30 às 3h esperando o ônibus com o Prêmio nas mãos,  todos me olhavam, inclusive eu, que pensei um ator premiado vulnerável na madruga. E foi bom, pois não houve espaço pra deslumbre a realidade gritava em minha cara  e, naquele momento eu disse, ainda venho aqui re-significar este lugar. Chegou a hora. (risos)” O espetáculo Casulo: uma intervenção trans…, propõe essa ressiginificação de lugares, de olhares, de estereótipos.

O diferencial do espetáculo Casulo: uma intervenção trans…, é a sua fonte criativa, para desenvolver o roteiro foram realizadas pesquisas de campo e análise de conteúdo midiático sobre a população LGBTs. Também foi realizado um levantamento através de entrevistas, fotografias e filmagens nos pontos de prostituição noturna da cidade de Salvador, das casas noturnas e dos profissionais da área temática.

Na fábula Zsolo que é um cantor de rock viril se apaixona pelo companheiro de trabalho chamado Dilah, no entanto, o parceiro diz que a única forma de ter seu amor correspondido é se ele se transformar em travesti, quando Zsolo atende o pedido do seu amor e se transforma em Marion, causa no parceiro estranhamento e espanto, despertando a discussão sobre dialética da estranheza que o universo LGBT causa na sociedade.

Para o diretor e ator, Ângelo Flávio, que saiu travestido no carnaval de Salvador e visitou boates LGBTs para fazer o laboratório do personagem, a novidade do espetáculo teatral é misturar ficção e realidade, em um formato de doc-ficção em teatro o espetáculo representa a história de amor entre dois homens, e do espanto de um deles ao ver seu parceiro travestido, além disso, ainda é composto por intervenções verídicas de pessoas do universo LGBTs, o que apresenta veracidade ao discurso que emerge do espetáculo.

Um dos objetivos do espetáculo é despertar o sentimento de cidadania e respeito às diferenças, é dar visibilidade ao discurso da população LGBTs, o lúdico vem acompanhado do verídico. É nesse universo imagético e cheio de poesia que o espetáculo foi montado. Trazendo à cena memórias de pessoas que tem uma ligação direta com o tema. Estas histórias irão compor a estória central da obra de criação coletiva da Cia Teatral Abdias Nascimento, contextualizando e potencializando a vida, força e re-existência das populações LGBTs que se resignificam cotidianamente no universo sociocultural.

cenário foi idealizado pelo cenógrafo e artista plástico Marcos Costa, com ambientes, como o lar, as ruas, o palco, o plano dos sonhos, a moradia dos personagens, os espaços onde a poesia da lembrança e a solidão concreta se encontram e ganham vida. A concepção do figurino de Rino Carvalho segue por essa tangente, fazendo uma releitura poética do universo da obra. A trilha sonora fica por conta de Maurício Lourenço será executada ao vivo por uma banda, com músicas autorais e músicas de compositores consagrados.

Sobre o objetivo do espetáculo, o diretor e ator, Ângelo Flávio, diz que pretende despertar nos espectadores o sentimento de cidadania e a consciência de que todos podem transitar e serem respeitados pelas diferenças, “se eu conseguir multiplicar essa consciência podemos ter um país melhor, ainda mais na Bahia que lidera pelo sexto ano consecutivo o ranking dos mais homofóbicos”.

 Estatísticas LGBT

Segundo informações do Grupo Gay da Bahia (GGB), onze homossexuais foram mortos no estado nos dois primeiros meses do ano de 2012. Em todo país, foram registrados 81 homicídios no mesmo período. No ano passado, foram 272 assassinatos de LGBTs no Brasil. Destes, 29 aconteceram na Bahia, que lidera pelo sexto ano consecutivo o ranking de estados mais homofóbicos, com o índice de 10,66% do total de casos no país. O Governo Federal já registrou em 2012, 3.692 violações contra a comunidade LGBT. O serviço Disque 100, do Governo Federal, contabilizou neste ano pelo menos 1088 denúncias de violência contra pessoas LGBTs em todo o Brasil.

Foto: Tito Casal