Teatro

Espetáculo inédito “Sortilégio II – Mistério Negro de Zumbi Redivivo” de Abdias Nascimento será montado com exclusividade nacional no mês da consciência negra em Salvador

Genilson Coutinho,
20/11/2014 | 10h11

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Marcando a celebração dos 10 anos da Cia de Teatro Abdias Nascimento (CAN) e do centenário de Abdias Nascimento, o espetáculo inédito Sortilégio II – Mistério Negro de Zumbi Redivivo, texto homônimo de Abdias Nascimento, ícone maior do Teatro Negro Brasileiro, têm direção e adaptação de Ângelo Flávio, assistência de direção de Elinaldo Nascimento e Vanessa Damásio, coreografia de Zebrinha, figurino de Zuarte Júnior, cenário de Marcos Costa e equipe de direção musical formada por Maurício Lourenço, Daniel Vieira e Elinaldo Nascimento, estreia dia 21 de novembro e segue em temporada até o dia 30 de novembro (sextas, sábados às 20h e domingo às 19h), mês que marca a luta anti-racista em todo o país.

“A montagem traz aos palcos questões como deslocamentos identitários, integracionismos culturais, imaginários e comportamentos sociais que nos levam a pensar a construção de um corpo brasileiro erguido através das inquietudes de um personagem atormentado pela culpa”, diz o diretor Ângelo Flávio.

“A coreografia do espetáculo tem função de legendar o texto, as cenas são muito visíveis e descritivas. Por se tratar de assuntos afro-religiosos, estou fazendo isso da maneira mais contemporânea possível, sem trazer para à cena rituais ou atos religiosos”, destaca o coreógrafo José Carlos Arandiba, mais conhecido como Zebrinha.

A premiada Cia Teatral Abdias Nascimento é a única Cia do país a receber os direitos exclusivos para montar este Clássico do Teatro Negro Brasileiro. A montagem é parte de um projeto idealizado por Ângelo Flávio, vencedor em primeiro lugar do edital nº 17/2012 do Fundo de Cultura da Secretaria de Cultura (SECULT- BA) através do Setorial de Teatro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), que ainda este ano montou o bem sucedido projeto “Abriu de Leituras”.

SINOPSE

Sortilégio II – Mistério Negro de Zumbi Redivivo acontece em um terreiro de candomblé, espaço de misticismo e religiosidade e explora o conflito de emoções e a dificuldade de enquadramento social do advogado negro Dr. Emanuel, que sofre com o preconceito racial. Ele é casado com uma mulher branca chamada Margarida, que na ocasião do casamento não era mais virgem e isso gera ciúmes e desconfiança nele. Durante um momento de fúria ao questionar a fidelidade da mulher, Emanuel a estrangula com intenção de assustá-la e acaba matando-a, após o ato ele foge para um terreiro de candomblé e é neste momento que se reintegra a sua cultura e religiosidade, negada anteriormente pela formação cristã.

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CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DA PEÇA À ATUALIDADE

Tendo a primeira versão escrita no início da década dos 1950, a peça só foi liberada pela censura em 1957, e hoje continua muito atual. Para a pesquisadora e viúva de Abdias do Nascimento, Elisa Larkin Nascimento, “a questão da intolerância religiosa que ela trata constitui hoje um tema da maior importância para a sociedade baiana, brasileira e mundial. A peça ajuda a colocar essa questão em perspectiva ao traçar o histórico da agressão violenta contra o povo de santo ao mesmo tempo em que mostra a força mítica e social do candomblé, fundada em uma relação fértil, dinâmica e respeitosa entre o ser humano e a natureza”.

Larkin, explica em um artigo chamado A Questão de Gênero na Peça Sortilégio (Mistério Negro) de Abdias Nascimento, que “Sortilégio ficou durante seis anos banida do palco pela proibição da censura. Uma nova versão da peça, Sortilégio II: mistério negro de Zumbi redivivo (Nascimento, 1979) foi escrita após a estada do autor na Nigéria como professor visitante da Universidade de Ife em 1977”.

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Larkin destaca também a importância a contribuição da montagem para a cena do teatro baiano, nacional e mundial. “A apresentação de Sortilégio II vem coroar essa iniciativa de resgate e valorização da história do teatro negro. Contribui para a cena teatral baiano, brasileiro e do mundo ao enriquecer o legado do teatro negro, um fenômeno local, nacional e internacional estudado por vários autores. Esse fenômeno demonstra profunda coerência com a tradição africana ao fazer uma arte engajada na vida e nas peripécias de seu povo e sua comunidade”, afirma Larkin.

EXPOSIÇÃO

Em comemoração aos 10 anos da Companhia Teatral Abdias Nascimento (CAN) será realizada no dia 21 de novembro (sexta-feira), às 19h, no foyer do teatro Vila Velha, uma exposição para mostrar a trajetória da Companhia, com fotos dos espetáculos já realizados, matérias de jornais, figurinos e vídeos. A curadoria da exposição é de Luis Augusto Sacramento e Ângelo Flávio, com produção de George Bispo.

ELENCO

A CAN resolveu abrir uma audição para selecionar atores e atrizes da nova geração adotando uma política de vitrine e difusão de novos talentos do teatro baiano. Foram mais de 200 inscritos para a audição, e foi uma decisão difícil escolher os talentosos artistas para integrar o elenco que conta com os atores, Cleiton Luz, Jean Pedro, Marcos Dias, Pedro Albuquerque, Renan Motta e Sérgio Laurentino, além das atrizes, Fernanda Silva, Savannah Lima, Mariana Borges, Telma Souza e Zitta Carmo.

O DIRETOR – ÂNGELO FLÁVIO

Ângelo Flávio é um artista de reconhecido talento e notório já no Brasil, é um virtuose como interprete, diretor teatral e dramaturgo.  Este ano o artista acumula 20 anos de carreira dedicados às artes cênicas e com ele muitos prêmios no teatro, cinema e televisão. Ângelo é bacharel em direção teatral pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em 2002 fundou a Cia Teatral Abdias Nascimento na UFBA, primeiro grupo de Teatro Negro de formação superior na Bahia.  No teatro como ator, tem relevante participação nos espetáculos O evangelho segundo Maria (Prêmio Braskem como ator 2004), Os Iks (Montagem do Núcleo do TCA), Mãe Coragem (Montagem da Cia de Teatro da UFBA), Os Velhos Marinheiros, Hamlet Machine entre outros… Como diretor, dramaturgo e adaptador montou os espetáculos As irmãs de Brecht (destaque Acadêmico de público e crítica), A Casa dos Espectros ( 2 indicações ao Prêmio Braskem), O Dia 14 ( 6 indicações ao Premio Braskem) e  Casulo: Uma Intervenção Trans… (3 indicações ao Prêmio Braskem e ganhou o prêmio Braskem de Melhor  Texto), recentemente monta Tributo ao Ilê Aiyê e Sortilégio II: Mistério Negro de Zumbi Redivivo. Também é roteirista e diretor de TV com produções em curtas-ficção  pela TVE- BA. No cinema, atuou em Fora do Rumo, Eu me Lembro, Quincas Berro D’água, O Fim do Homem Cordial, Trampolim do Forte, Estranhos (favorito a prêmio como ator) e A beira do Caminho. Na televisão, marcou presença em Dona Flor e seus dois maridos e a protagonizou um episódio na A Grande Família da Rede Globo de Televisão. Ângelo Flávio é um agitador cultural e também um ativista do Direitos Humanos, tem problematizado as questões das desigualdades  sociais sejam através das suas montagens artísticas ou através da sua participação e construção ativa em  seminários, fóruns, mesas de debates e trabalhos beneficentes.

 A CIA TEATRAL ABDIAS NASCIMENTO

A premiada Cia Teatral Abdias Nascimento (CAN), nasceu na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2002, por estudantes negros e negras, que passaram a discutir a constante ausência do protagonismo negro na cena baiana, assim como, o ausente conteúdo epistemológico dos negros brasileiros e da Diáspora na grade curricular da Universidade. Participantes ativos nas lutas sociais contra todas as formas de discriminação e genocídio cultural – características presentes nas montagens – a CAN, adquire respeito não só estético, também, social. A CAN, tem se destacado na cena teatral contemporânea da Bahia por um trabalho que prima pela pesquisa e a qualidade cênica, características que lhe conferem um crescente respeito da academia, da crítica especializada e do público em geral.

ABDIAS NASCIMENTO

Escritor, artista plástico, teatrólogo, político e poeta, Abdias Nascimento foi um dos maiores ativistas pelos direitos humanos e deixou um legado de lutas pelo povo afrodescendente no Brasil. Fundou no Rio de Janeiro, em 1944, o Teatro Experimental do Negro, que rompeu a barreira de cor nos palcos brasileiros e formou a primeira geração de atores e atrizes dramáticos negros do teatro brasileiro, além de propiciar a criação de uma literatura dramática afro-brasileira. Organizou eventos históricos como o 1o Congresso do Negro Brasileiro (1950) e a Convenção Nacional do Negro (1945-46), que propôs à Assembleia Nacional Constituinte de 1945 políticas afirmativas e a definição da discriminação racial como crime de lesa-Pátria. Em 1978, ele recebeu a primeira indicação ao Prêmio Nobel da Paz.

Após 12 anos no exílio, Abdias Nascimento retornou ao Brasil e participou do processo de redemocratização do país. Como deputado federal Abdias Nascimento elaborou, em 1983, a primeira proposta de legislação instituindo políticas públicas afirmativas de igualdade racial. Continuou defendendo essa proposta, no período de 1991 a 1999, como senador e como titular fundador da Seafro (Secretaria de Defesa e Promoção da População Afro-Brasileira) e da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Autor de poesias, peças teatrais, ensaios e pesquisas, ele foi autor e organizador de vários livros e publicações, entre suas obras mais expressivas estão Axés do Sangue a da Esperança (orikis) (poesia, 1983); Sortilégio (Mistério Negro) (peça teatral, 1959, nova versão publicada em 1979); O genocídio do negro brasileiro (1978), Quilombismo (1980, 1ª edição).

A Universidade Obafemi Awolowo, de Ilé-Ifé, Nigéria, outorgou-lhe, em 2007, o título de doutor em letras, Honoris Causa. O Conselho Nacional de Prevenção da Discriminação, do Governo Federal do México, outorgou a Abdias Nascimento o seu prêmio em reconhecimento à contribuição destacada à prevenção da discriminação racial na América Latina (2008). O Ministério da Cultura outorgou-lhe a Grã Cruz da Ordem do Mérito Cultural (2007), e em 2009 ele recebeu do Ministério do Trabalho a Grã Cruz da Ordem do Mérito do Trabalho Getúlio Vargas. Ambas são as mais altas honrarias do Governo Federal do Brasil em suas respectivas áreas. Ainda em 2009, recebeu o Prêmio de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo e o Prêmio de Direitos Humanos na categoria Igualdade Racial da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil.

Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York e Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Brasília, Federal e Estadual da Bahia, do Estado do Rio de Janeiro, e Obafemi Awolowo da Nigéria, Abdias Nascimento foi oficialmente indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2010, em função de sua defesa dos direitos civis e humanos dos afrodescendentes no Brasil e no mundo. Conheça toda a história da indicação de Abdias Nascimento ao Prêmio Nobel da Paz, e consulte as cartas de personalidades e instituições que apoiaram a indicação.

Abdias Nascimento faleceu no Rio de Janeiro em 23 de maio de 2011, aos 97 anos. O reconhecimento de sua obra foi expresso pelas inúmeras mensagens de condolências vindas de todas as partes do Brasil e do mundo.

SERVIÇO

Espetáculo Sortilégio II – Mistério Negro de Zumbi Redivivo

Local – Teatro Vila Velha

Temporada – 21 a 30/11 – Sextas, sábados às 20h e domingo às 19h

Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia)

Exposição – 10 ANOS DA COMPANHIA TEATRAL ABDIAS NASCIMENTO (CAN)

Local: Teatro Vila Velha

Data: 21 de novembro, às 19h

FICHA TÉCNICA

FICHA TÉCNICA

Dramaturgia: Abdias Nascimento

Projeto, direção e encenação: Ângelo Flávio

Coreógrafo: Zebrinha

Assistente de Direção: Elinaldo Nascimento e Vanessa Damásio

Coordenação de Produção: George Bispo

Assistente de Produção:  Bianca Lessa e Marcelo Ricardo

Preparador Corporal: Arismar Adoté Jr.

Cenógrafo: Marcos Costa

Cenotécnico: Milton Santos e Yoshi Aguiar

Figurinista: Zuarte Júnior

Cabelo: Zuarte Jr

Maquiagem: Zuarte Jr e Elisia Santos

Acessórios: Zuarte Jr e Bia Lessa

Trilha Sonora: Maurício Lourenço

Colaboradores musicais: Elinaldo Nascimento e Daniel Vieira

Musicalidade da letra original do texto “Ponto de Yemanja”: Savannah Lima

Técnico de Som: Dj Jeferson Souza

Iluminador: Rivaldo Rios

Elenco:

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Cleiton Luz, Fernanda Silva, Jean Pedro, Marcos Dias, Mariana Borges, Pedro Albuquerque, Renan Motta, Savannah Lima, Sérgio Laurentino, Telma Souza e Zitta Carmo

Percussionista: Fernanda Silva, Jean Pedro

Assessora de Comunicação: Dayanne Pereira

Assistente de Comunicação: Rebeca Bastos

Programador Visual: Sidney Rocharte

Fotografia: Milla Cordeiro

Curadoria Exposição: Luis Augusto Sacramento e Ângelo Flávio

Realização: Companhia Teatral Abdias Nascimento e Caboclinho Produção Cultural e Artística Ltda

Agradecimentos: Érico José e Guilherme Duarte​