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Enquanto as ‘divas gays’ Ivete, Claudia e Preta Gil seguem caladas, Marília Mendonça declara apoio ao movimento #EleNão

Genilson Coutinho,
25/09/2018 | 17h09

Foto: Thiago Duran/AgNews

Por Elder Luan

Marília Mendonça é de longe a maior artista feminina que temos atualmente no país. Em nível de reprodução nas rádios ela bate em qualquer outra Anitta, sendo a brasileira melhor colocada no Ranking Anual da Connect Mix. Ciumeira, último single lançado por Marília, está há algumas semanas no topo das paradas e coleciona cerca de 500 mil reproduções POR DIA. Só em nível de comparação: “Um Sinal”, último single de Ivete Sangalo tem 4.244.143 milhões de execuções no Spotify, Ciumeira tem o triplo dessas reproduções (14.617.969).

Ao contrário de Anitta, Cláudia Leitte e Ivete Sangalo, que tem alicerçado suas carreiras em cima do Pink Money LGBT, especialmente das Gays que bancam as festas fechadas e os blocos de carnaval, Marília tem um público bem mais amplo entre os seus 12,7 milhões de seguidores, que é o público majoritário que consome sertanejo – ritmo que domina todas as paradas no Brasil atualmente, seja na rádio, YouTube, Apps de música, shows ou televisão.
No último domingo Marília fez algo bastante corajoso. Mobilizada por Maria Gadú, ela postou em sua conta do instagram um vídeo apoiando a hastag #EleNão e convocando as mulheres do país a aderirem a mobilização no dia 29/09.

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O vídeo ficou disponível por 17 horas. Esse foi o tempo suficiente pra Marília ser atacada das mais variadas formas. Pra sua família ser atacada. Pra sua mãe ser ameaçada. Pra o império que ela e a voz dela construíram nesses dois anos começar a desmoronar.

Marília foi corajosa demais. Falou de sua trajetória e do quanto foi difícil construir o que construiu sendo uma mulher que canta sertanejo. Falou que essa candidatura não a representava justamente por isso, por que no modelo de sociedade que esse senhor acredita não há espaço para outras Marílias.
Ao contrário das Divas Gays, Marília nunca se colocou enquanto representante de nenhuma minoria ou movimento, e sequer atribuía para si à identificação de feminista. Sempre foi lida como uma “mulher empoderada” devido as letras de suas músicas, por construir o que construiu no universo sertanejo, e por causa de várias declarações que confrontavam esse ideal de subalternização das mulheres.

O fascismo a brasileira calou Marília Mendonça ontem, mas não conseguirá calar as tantas vozes que ela ajudou a ecoar, e que ecoarão com muito mais força dia 29/09 na Marcha das Mulheres que acontecerá em todo o Brasil. Era um vídeo de 1 minuto que ficou apenas 17 horas no ar, mas que não será esquecido nos próximos anos.

Enquanto vozes como a de Marília são caladas. O silencio de
Ivete SangaloClaudia LeittePreta Gil, entre outras, continua ensurdecedor, alimentando aqueles que nos silenciam.

*Elder Luan – Graduado em História e doutorando do Programa de Pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Gênero, Mulheres e Feminismo.