Enciclopédia Sapatão da Casa 1 – trajetórias das mulheres lésbicas do Brasil

Genilson Coutinho,
27/08/2021 | 10h08
Foto: Divulgação

A Enciclopédia Sapatão da Casa 1 foi inaugurada em uma data marcante para a militância LGBT+ no Brasil: 19 de agosto, dia em que, em 1989, houve o levante do Ferro’s Bar, motivado pela proibição da circulação do jornal “ChanacomChana”. O país vivia a ditadura militar e militantes lésbicas, com o apoio de grupos feministas, se uniram no famoso bar localizado no centro de São Paulo para reivindicar direitos de igualdade e civilidade. Até hoje, neste dia é comemorado o Dia Nacional do Orgulho Lésbico.

Para feitura da enciclopédia, que já pode ser consultada em enciclopediasapatao.casaum.org , a Casa 1 buscou perfilar figuras que trouxessem pluralidade para o projeto, abordando as infinitas possibilidades de existir enquanto mulher lésbica e jogar os holofotes para essas vivências, sempre com um cuidado em pensar os recortes de raça, classe e outros marcadores importantes na constituição das identidades.

“Mulheres lésbicas, assim como outras minorias, também precisam se ver representadas e especialmente em contextos positivos. É muito comum que lésbicas cresçam em ambientes lesbofóbicos. A Enciclopédia Sapatão é para mostrar para estas pessoas que existe a possibilidade de uma existência feliz e plena enquanto lésbica”, explica Thays Eloy, redatora da Casa 1 e uma das criadoras do projeto.
Os perfis são divididos por categorias, que englobam as áreas de atuação das mulheres perfiladas, que variam desde atrizes de teatro a profissionais de saúde e educação, com destaque também para militantes de causas como pessoas com deficiência, além de ativistas do movimento negro. Após o lançamento, a ideia é expandir a base de dados para contar a história do maior número de mulheres possível. “Também não nos consideramos detentoras exclusivas do conhecimento e acreditamos na soma dos saberes e esforços, por isso deixamos aqui as portas abertas para quem desejar inserir biografadas na nossa enciclopédia”, afirma o manifesto de apresentação , assinado pelas mulheres lésbicas da Casa 1.

COMO PARTICIPAR?

Qualquer pessoa pode enviar sugestões de mulheres lésbicas que poderiam entrar na Enciclopédia. Para isso basta enviar o perfil (com um texto entre mil e dois mil caracteres) e uma imagem na melhor resolução possível para o e-mail enciclopediasapatao@casaum.org

A partir desse contato por email, a equipe de comunicação da Casa 1 realizará a manutenção e atualização do site, para que as histórias de muitas mulheres sejam registradas pelo projeto. Para além de seu papel documental, o site também pode funcionar como uma fonte de pesquisa para pessoas que queiram contratar, se inspirar e acompanhar o trabalho das mulheres perfiladas.

Mulheres lésbicas e invisibilidade

Se em meados de 2010 os movimentos ativistas LGBT+ passaram a grafar a sigla da comunidade iniciando com a letra L, o apagamento histórico que lésbicas enfrentam segue existindo, inclusive nos espaços feministas.

Mulheres lésbicas protagonizaram episódios importantes para ambos os movimentos, como a revolta do Ferro’s Bar em 1989, motivada pela proibição da circulação do jornal “ChanacomChana” e o Seminário Nacional de Lésbicas, em 1996 e ainda assim suas pautas seguem sistematicamente invisibilizadas.
Vale ressaltar que o movimento lésbico também se organizou ao longo das décadas no Brasil, como no Grupo de Ação Lésbico-Feminista fundado em 1979, que viria a se tornar o Galf- Grupo Ação Lésbica Feminista no ano seguinte.

A Casa 1 é uma organização localizada no centro de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Sua estrutura é orgânica e está em constante ampliação, sempre explorando as interseccionalidade do universo plural da diversidade.

O trabalho engloba três frentes de atuação: a república de acolhida para pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsas de casa por suas orientações afetivas sexuais e identidades de gênero; o Galpão Casa 1, centro cultural que conta com atividades culturais e educativas, que tem como foco constituir uma programação gratuita, inclusiva e de qualidade para seus diversos públicos. Já o terceiro eixo é a Clínica Social Casa 1, que conta com atendimentos psicoterápicos, atendimentos médicos pontuais e terapias complementares, sempre com uma perspectivas humanizadas e com foco na promoção de saúde mental, em especial da comunidade LGBT.