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Empreender é uma das válvulas de escape da população LGBT

Redação,
03/05/2018 | 17h05

Tempos de crise com gente ansiosa, querendo trabalhar, mas não necessariamente procurando emprego. Uma pesquisa realizada, em 2016, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) revelou que nunca se abriu tanta empresa no Brasil nos últimos anos. O estudo apontou, ainda, que a taxa de empreendedores é a maior em 14 anos. Com o objetivo de capacitar a população LGBT para a gestão do próprio negócio, a Micro Rainbow Internacional investe no fortalecimento de iniciativas empreendedoras, contribuindo para o crescimento pessoal e profissional de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

A ONG sediada em Londres é pioneira no trabalho de inclusão socioeconômica e auxilia pessoas LGBT de baixa renda a abrir seus próprios negócios e melhorar suas qualificações profissionais. A Micro Rainbow ofereceu, no Rio de Janeiro, o curso de empreendedorismo exclusivo para pessoas pertencentes à sigla. O curso representa o combate à estigmatização da população LGBT, que é vista, apenas, como profissional de beleza, do sexo e das artes. Na contramão desta perspectiva, este cenário vem mudando: como resultado do trabalho desenvolvido pela instituição, aconteceu, ontem (2), a formatura da 5ª turma do curso de empreendedores, na sede da OAB-RJ. A alegria e esperança tomaram conta do espaço. Susan Soares é designer de acessórios e dona da Suhka Ateliê. Ela acredita que a qualificação é parte importante para compreender a necessidade da saúde financeira da marca, além de melhor visualizar a atuação da empresa.

(Foto: Glauco Vital)

(Foto: Glauco Vital)

“Eu acho que sem esse curso, a minha marca andaria bem mais devagar. O primordial foi a consciência de empresa que eles me passaram. Hoje eu consigo enxergar as vantagens de ter um negócio legalizado. Um dos pilares do curso foi a parte financeira, que antes eu não conseguia visualizar, nem calcular o quanto eu recebia, por exemplo. Além do medo de empreender por ser lésbica e sofrer preconceito, eu tinha medo de não conseguir administrar as planilhas financeiras, mas, hoje, eu não consigo viver sem”, disse a artesã, que pretende expandir a loja para o ramo e-commerce.

O projeto já atendeu 200 pessoas LGBT em situação de vulnerabilidade na região metropolitana do Rio de Janeiro nos últimos 3 anos, com os cursos oferecidos em parceria com provedores de qualificação profissional nos setores de gastronomia, hotelaria e moda. Com esse aporte, a população LGBT melhorará, significativamente, seus meios de subsistência, encontrando oportunidades de trabalho e renda, especialmente, com a abertura e expansão de seus negócios em variados segmentos de mercado, como artes e artesanato, produção cultural, música, educação, fotografia, culinária, construção civil, entre outras. Haluxx Takuara, dono da Riot Drinks and Vegan Food, que inova em drinks com misturas de sabores e comida vegana, celebra a oportunidade de crescer junto com a sua marca.

“Eu sou vegano há sete anos e não achava nada na rua que pudesse me atender. Na verdade,  a alimentação vegana, hoje em dia, é algo muito segregado e elitizado. Eu já me incluo em uma população estigmatizada por ser um homem trans, então, eu realmente quis quebrar o estigma de que este tipo de alimentação é algo inacessível. Eu tento trazer meus produtos com um preço acessível para maximizar a mensagem da comida vegana e mostrar o ideal para as pessoas que ainda não conhecem. Com o curso, eu aprendi a confiar na minha capacidade de empreender e acreditar na minha imagem”, disse.

O projeto Micro Rainbow Brasil foi premiado no concurso Láurea CAF 2017 de melhores iniciativas de apoio ao microempreendedorismo brasileiro, promovido pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), em parceria com a Aliança Empreendedora. Acreditar que ter o seu próprio negócio pode ser uma saída para driblar o alto índice de desemprego que assola o país, atrelado às vantagens que o próprio negócio proporciona estão entre os principais motivos para que o número de empresas (formais ou informais) cresça. A possibilidade de iniciar um empreendimento, às vezes, se confunde com a necessidade de equidade do público LGBT no mercado de trabalho, que tem características conservadoras e que apresenta resistência à diversidade humana. Sonho para muitos, ou sinônimo de liberdade e conquista pessoal para tantos outros.