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Empoderamento feminino e música marcaram a Noite da Beleza Negra, em Salvador; veja as fotos

Genilson Coutinho,
06/02/2017 | 11h02

A 38ª Edição da Beleza Negra 2017 atraiu uma multidão de famosos e anônimos para a Senzala do Barro Preto, sede do Bloco Ilê, no Bairro da Liberdade, em Salvador, a noite foi de uma disputa acirrada entre as 15 candidatas, que sonhavam com o título de Deusa do Ébano. Os discursos de Rita Batista, Vilma Reis, Wanda Chase e Mãe Jaciara pediram respeitos e valorização da mulher, o fim da violência contra as mulheres e cadeia para os agressores. Os pedidos foram aprovados pela multidão que lotava a Senzala do Barro Preto.


A jornalista Rita Batista ressaltou a crescente onda violência e a situação das meninas e mulheres negras que são violentadas diariamente e que na fase de viver a infância estão se tornando mães em razão dos estrupos.
“No decorrer das nossas vidas, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres será vítima de estupro ou tentativa de estupro, segundo a ONU. E de acordo com o ministério da saúde, os partos de mães crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos representam quase 30% do total dos partos feitos em nosso País. Em sua maioria nos hospitais públicos, sem direito a acompanhamento, às vezes sem direito a anestesia, pedindo que façamos silêncio para aguentar a dor caladas, pois: “Na hora de fazer você não gritou, não foi?” Quase 40% dessas meninas entre 10 e 15 anos, que estão parindo agora, estão aqui por perto, num desses hospitais, são meninas nordestinas, delas 69% se declaram pretas ou pardas, e 85% não completaram nem o ensino médio. E eu, Rita Batista, mulher negra, jornalista, não devo acreditar que ninguém se importa com isso!”


A noite foi de muita música, com Larissa Luz, Dani Nascimento e a Banda do Ilê, que não deixou ninguém parado durante o intervalo da contagem dos votos e após os desfiles individuais das candidatas. E após show, a professora de dança Gisele Santos Soares, de 24 anos, moradora do bairro de Itapuã foi anunciada como ganhadora do título de Deusa do Ébano. Quando coroada a professora ressaltou a importância ancestral de participar e ganhar o concurso. O título ‘Deusa do Ébano’ significa representatividade, elevação de autoestima, de beleza. “É trazer representatividade para essas mulheres negras que não conseguem se ver atualmente na sociedade. Existe um padrão estético na sociedade, então quando você vê uma deusa negra, isso traz um incentivo para essas mulheres se enxergarem como belas também”, afirmou.

Gisele recebe das mãos do diretor Elisio Lopes o troféu

Suana Emile Góis de Jesus conquistou o segundo lugar

uliana da Silva Conceição conquistou o terceiro lugar


Já era madrugada quando a cantora Daniela Mercury adentrou o palco, transformando a noite em um grande carnaval, trazendo os grandes sucessos, acompanhada das dançarinas do Ilê. O concurso provou ainda mais a sua força e o quanto encanta os baianos e turistas que compareceram para celebrar a força e a beleza da mulher negra.
Neste ano a vencedora do concurso recebeu a premiação das mãos do diretor Elísio Lopes, que assinou a direção da 38º concurso, e não escondeu a honra e a emoção. As candidatas Suana Emile Góis de Jesus e Juliana da Silva Conceição ficaram respectivamente em segundo e terceiro lugar.

Gisele Santos Soares, 24 anos
Mãe de uma menina linda de 10 meses chamada Ayomí Zuhri, professora de balé clássico e dança afro e atuante em projetos comunitários, Gisele estreou no concurso da Deusa do Ébano com o pé direito, sendo eleita a Rainha do Ilê. Influenciada pela família desde de pequena, Gisele sempre foi encantada pelo Ilê. “Isso aqui não é só um concurso de beleza, é de ancestralidade, de força, identidade e afirmação. Confesso que não esperava ser eleita no meu primeiro ano, estou muito feliz”, conta a Rainha.


Focada em conquistar o título, a morada do bairro de Itapuã conta que assistiu vídeos das antigas rainhas e ensaiou durante bastante tempo, mesmo com uma filha recém nascida, para se preparar para grande noite. “Desde os três meses que dou aula com minha filha grudada comigo no sling”, revela a Deusa. “A dança afro, pelo fato de eu ser uma mulher negra, me representa muito e eu busco essa representatividade para ela”, completa.

Gisele tem no seu currículo o título de Rainha Mirim do bloco afro Malê de Balê e Princesa do Okambi, e garante que, para conquistar o coração dos jurados no concurso da Deusa do Ébano, o seu diferencial foi a simplicidade, o amor pela família e ser ela mesma durante toda a apresentação.

Fotos: Genilson Coutinho

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