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Em “Exposta”, poeta Marina Vergueiro se debruça sobre sexualidade, gordofobia e HIV/aids

Genilson Coutinho,
07/11/2019 | 20h11

Agenciaaids

“Escrevo poesia há muito mais tempo do que eu vivo com HIV, mas estava no processo de colocar este livro pra fora quando descobri que eu vivia com o vírus. Infelizmente, fiquei durante 7 anos presa no estigma e no preconceito; eu não conseguia pensar na possibilidade de publicá-lo, até que o moralismo da sociedade atual me arrancou do armário”, conta Marina Vergueiro, poeta paulistana de 36 anos que lança sua primeira coletânea poética em dezembro de 2019, contando com a direção de arte e diagramação da artista plástica Drika Prates.

O projeto iniciou como um livro de poesias, Exposta transformou-se ao incorporar rodas de
bate-papo em comunidades vulneráveis sobre saúde e sexualidade como uma ferramenta para ajudar no processo de libertação das opressões e amarras sociais dos corpos que habitam todos os espectros do feminino e não-binários. “Corpos esses que, ao serem cotidianamente invisibilizados pela sociedade, são privados de direitos básicos das seres humanas como saúde e dignidade”, explica a poeta.

Para contribuir, basta acessar a página do Kickante e escolher uma das recompensas artísticas produzidas pro mulheres. Contribuições de todos os valores irão financiar as recompensas sociais nas comunidades vulneráveis.

“Durante meu processo de aceitação do corpo, da sexualidade, da vivência com o HIV, eu busquei coragem e força nas mulheres que cruzaram meus caminhos e devo a cada uma delas a auto-estima reconstruída e a audácia de publicar meus versos mais íntimos num grito de libertação. As rodas de conversa sobre Saúde e Sexualidade são uma maneira de retribuir às mulheres o tanto que me ensinaram e me empoderaram”.

Sobre Marina

Arriscando-se na poesia desde a infância, Marina é frequentadora assídua dos saraus que se espalham pela cidade de São Paulo e, embora tenha poesias publicadas em diversas antologias, não se sentia a vontade para tocar em determinados assuntos que lhe eram tão cruciais e sensíveis por medo e insegurança causados pelos estigma que ainda circundam o imaginário coletivo em relação ao HIV/aids, mesmo após 30 anos de epidemia.

Ao decidir publicar “Exposta”, Marina quis dar voz não somente a si mesma, mas a todas as mulheres gordas e/ou que vivem com HIV e são sexualmente ativas, sejam elas bissexuais, lésbicas, hétero, trans ou não-binárias … “Existem milhões de mulheres que estão expostas ao redor de nós, mas ao mesmo tempo, tão caladas, tão oprimidas, e já estamos em 2019, isso é inadmissível!”

O contexto social e político dos tempos atuais a fizeram sentir a urgência de retomar este projeto engavetado há 7 anos e falar sim sobre o HIV, mas também sobre gordofobia, sexualidade, romances, reflexões sobre a morte, renascimento, exorcismo, espiritualidade e o dia dia básico de uma mulher latino-americana branca de classe média. Gorda. Com HIV. Sem vergonha na cara. Cheia de amor. Pronta pra Paz!

Em suas poesias, Marina discorre sobre as vezes que se apaixonou por uma mulher, por um homem, tantas vezes que se apaixonou por si mesma e outras em que se desapaixonou completamente pela vida. “Exposta é meu processo de transformação pessoal e reconstrução constante atravessada por todas as pessoas que me sensibilizaram e de alguma maneira deixaram suas marcas em mim, da Cooperifa aos espaços de cultura mainstream, do feminismo negro ao movimento trans, da América do Sul pra onde o vento levar… Parir Exposta é um manifesto de libertação pessoal, social e sexual, um processo que é fruto do empoderamento construído de maneira coletiva com cada mulher com quem tive a oportunidade de cruzar caminhos, compartilhar emoções e aprendizados ao longo da minha vida. Muito respeito e gratidão a todas essas mulheres, somos únicas e todas em uma só!”.

Através de financiamento coletivo no site Kickante, o Projeto Exposta consiste na publicação do livro de poesias com tiragem de 1000 exemplares e a realização de 10 Oficinas de Saúde e Sexualidade em 10 comunidades vulneráveis distintas na cidade de São Paulo ao longo do ano de 2020, nas quais serão propostas discussões sobre temas que atravessam os corpos femininos e não binários, estimulando a reflexão e o empoderamento através do autocuidado e sororidade. Nesses eventos, serão doados 100 livros e 100 gravuras, sorteados entre as participantes.

O site oferece também a possibilidade de apoio com recompensas exclusivas produzidas por artistas feministas que vão desde gravuras a vulvas de cerâmica e poesia com cerveja com a autora. As categorias foram nomeadas com as mais variadas maneiras de se referir às pepekas, como Xoxota e Capô de Fusca.