Comportamento

Social

Eleições 2016: O dia da escolha

Dra. Bethânia Ferreira,
01/10/2016 | 10h10

Domingo é dia de eleição. Eu gosto de eleições, gosto de ver programa político e de ler a plataforma de alguns políticos. Infelizmente não consigo ler de todos os candidatos. Alguns nem sequer possuem plataformas inteligíveis, muitos nem possuem espaço para publicá-las – o que é incomum com as redes sociais – e outros optam por escrever meia dúzia de palavras bonitas que, na prática, não dizem nada ou são promessas de concretização impossível.

Domingo é dia de escolha. Acredito que algumas coisas devem ser consideradas no momento em que deposito meu voto, minha confiança em alguém. A política eleitoral não é uma coisa tão simples, como dois e dois são quatro. A política vai além da simpatia por um candidato, por seu histórico ou porque ele apresentou um projeto de lei interessante. Não acredito que seja viável analisarmos esses pontos de forma isolada.

É evidente que algumas análises devem ser feitas. Posso entender como importante e pertinente o projeto de lei apresentado por um candidato, mas posso votar em outro. Projetos importantes não são capazes de alterar o cenário político no qual cada candidato se insere. Explico melhor: candidatas/os/xs fazem parte de grupos políticos, e não basta analisar o/a/x candidato/a/x isoladamente, fazendo parte de um grupo conservador e reacionário. Não importa se ele defende a causa LGBTI – certamente ele não terá espaço para fazer muitas coisas e não vai se colocar contra o seu grupo. Pode ter as melhores intenções, mas será difícil concretizá-las de forma incisiva e definitiva.

Por outro lado, posso compreender que um projeto de lei bem-intencionado é capaz de gerar mais frutos concretos que uma luta abstrata e por isso posso apoiar, votar e lutar por um político que, acredito, defenderá minha causa, independentemente do seu círculo político. Quando conheço a história de luta do/a/x candidato/a/x, consigo entender que esse voto é válido, legítimo e que representa a minha causa.

Outra análise importante é que os grupos tradicionalmente excluídos, minorias e grupos vulneráveis devem compreender que estamos todos no mesmo barco. Eventuais desencontros entre os movimentos sociais devem ser superados neste momento. Todos estão na mesma condição, quando a disputa se efetiva entre políticos conservadores vs. políticos defensores dos direitos humanos. E essa dicotomia está presente com muita força nestas eleições.

Já escolheu seu candidato LGBT? Conheça os candidatos

Vivemos um momento muito difícil para os direitos humanos no Brasil, para todos os grupos. Vivemos uma onda conservadora, alavancada, em parte, por grupos religiosos que estão inseridos na política, mas também promovida por grupos conservadores que não aceitam o direito à diversidade, rejeitam o diferente. Este momento crítico nos leva a pensar em como reorganizar nossas lutas, em como nos aproximarmos mais das massas.

O discurso dos conservadores – acredito que por uma defesa natural do indivíduo – adere com muita facilidade em parte da massa excluída. Essa necessidade de participar e de se integrar dos ideais tradicionalmente impostos gera uma série de distorções de representatividade do povo brasileiro. Negros representam um pouco mais 50% da população, segundo divulgação do IBGE de 2014, mas temos somente 20% dos deputados que se declaram negros ou pardos, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral. E o que falar do número de deputados LGBTI? Temos somente um deputado federal assumidamente gay, Jean Wyllys. E mulheres?

Isso é um problema grave: falta de representatividade. Eu sou mulher, cis, hetero, branca e eu posso lutar – e luto – pelas causas da população LGBTI, da comunidade negra, pela liberdade religiosa, mas eu não sei o que é sofrer na pele o preconceito, o racismo, a discriminação e a intolerância. Precisamos de mais representantes reais do povo brasileiro ocupando os espaços públicos. Ao ver a votação do impedimento pelo Congresso Nacional, eu posso afirmar: os deputados brasileiros em nada representam a população brasileira em suas especificidades.

Algumas plataforma na rede de computadores ajudam a identificar o comprometimento de cada deputado. Vale conferir plataformas como “Me representa” e “Cidade 50-50”, que podem auxiliar nesse processo de escolha.

Já escolheu seu candidato LGBT? Conheça os candidatos

Domingo é dia de votação. Portanto, analise cada detalhe, a representatividade, a história, o círculo político em que cada candidato/a/x está inserido e conheça suas propostas. A vida é feita nas cidades, escolher prefeita/o/x e vereadores/as/xs com reponsabilidade é o primeiro passo para termos uma vida melhor.