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Dupla lésbica de hip-hop combate homofobia com música em Havana

Genilson Coutinho,
18/03/2016 | 17h03

A transexual Wendy Iriepa em carro dos anos 50 logo após seu casamento em Havana, em 2011

De acordo com Odaymara Cuesta, da Krudas Cubensi, uma banda cubana de hip-hop formada por lésbicas, há uma pessoa homossexual em cada família de Cuba.

Mas muita coisa precisa mudar em Cuba antes que seus cidadãos lésbicos, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) possam expor suas verdadeiras identidades sem medo de discriminação, em um país no passado notoriamente hostil a eles, disse Cuesta.

“Cuba é um país muito misógino, e é difícil ser uma pessoa lésbica ou gay aqui”, disse Cuesta à Fundação Thomson Reuters, em entrevista por telefone, de Havana.

“Ainda que a nova geração seja mais aberta e tolerante, precisamos nos educar melhor sobre os relacionamentos homossexuais e os direitos dos LGBT”, ela acrescentou.

Nos primeiros anos da revolução iniciada em 1959, a homossexualidade era vista como contrarrevolucionária, e os líderes socialistas de Cuba enviavam homossexuais a campos de trabalho para reeducação.

Mas os direitos dos homossexuais fizeram grandes avanços no país nos últimos anos. Em 2010, o ex-presidente Fidel Castro disse lamentar a discriminação sofrida pelos homossexuais cubanos depois de sua revolução, afirmando que ela foi “uma grande injustiça”.

Sua sobrinha Mariela Castro, filha de Raúl Castro, esteve na vanguarda da luta pelos direitos dos homossexuais e no ano passado liderou ativistas em um casamento em massa simbólico, para promover a aceitação dos cubanos gays e transexuais.

Em 2014, a Assembleia Nacional cubana aprovou uma lei trabalhista que proíbe a discriminação por orientação sexual, e cirurgias gratuitas de mudanças de sexo estão disponíveis desde 2008.

Para Cuesta e Olivia Prendes, do Krudas Cubensi, a música é outra maneira de promover os direitos dos homossexuais.

Mariela Castro, filha de Raúl Castro, em marcha contra a homofobia em Havana, em 2013

“A música é uma ferramenta muito importante para educar o nosso povo e informá-los sobre quem somos e o que fazemos”, disse Prendes. “Por meio da música, lutamos pelos nossos direitos”. Prendes disse que quando a banda lançou seu primeiro álbum, em 2003, a comunidade do hip-hop em Cuba ficou chocada, porque era a primeira vez que alguém falava de lésbicas ou de feminismo.

“A comunidade do hip-hop é em geral heterossexual e se concentra em questões sociais”, ela disse. “Os héteros de Cuba não compreendem que pessoas como nós existem”.

Prendes admitiu que, para ela e Cuesta, que agora dividem seu tempo entre Cuba e os Estados Unidos, a fama tornou mais fácil ser gay.

“A maioria das pessoas nos conhecem, nos admiram e sentem curiosidade sobre quem somos”, ela disse.

Mas, nas cidades menores e no campo, os cubanos que se identificam como homossexuais não tratam abertamente de sua sexualidade, disse Prendes.

“Não é fácil ser abertamente homossexual, e muitas pessoas vivem no armário”, ela disse. “A realidade privou nosso pessoal do orgulho e da liberação sexual. O discurso do ódio é onipresente”.

Prendes disse esperar que mais amantes da música cubanos mudem suas atitudes para com os LGBT por ouvirem a música de sua banda.

“Continuamos a lutar por nossos direitos, ainda estamos lutando pela igualdade no casamento, pelos direitos iguais para os LGBT”, ela disse.

Na América Latina, a Argentina e o Uruguai legalizaram o casamento homossexual, e o mesmo se aplica à Cidade do México, mas em Cuba o casamento gay continua a ser um objetivo distante.

Da fundação Thomson Reuters, em Londres

Tradução de PAULO MIGLIACCI