Documentário sobre trajetória de escritora lésbica perseguida pela ditadura será lançado no próximo sábado 12, em São Paulo

Genilson Coutinho,
10/10/2013 | 16h10


Estreia no próximo dia 12 de outubro, no Cine Livraria Cultura, em São Paulo, o documentário“Cassandra Rios: a Safo de Perdizes”, dirigido por Hanna Korich e selecionado em concurso do ProAC (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

O filme retrata a trajetória da escritora Cassandra Rios, perseguida pela ditadura militar, sob alegação de pornografia, e traz depoimentos de pessoas que, de alguma forma, fizeram parte da vida da autora, como a sobrinha Liz Rios, a atriz Nicole Puzzi, a escritora Lúcia Facco, o editor Maxim Behar, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, Dr. Martim Sampaio, entre outras personalidades.

Além da exibição do documentário, haverá uma conversa com a participação do editor-chefe da Revista da Cultura, Sergio Miguez, da escritora Lúcia Facco, da atriz Nicole Puzzi e da cantora, compositora e instrumentista Laura Finocchiaro, responsável pela trilha sonora de “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes”.

“Será a oportunidade de apresentar a Cassandra ao público e falar sobre a vida e obra dessa verdadeira escritora, que foi pioneira para as lésbicas brasileiras”, diz a realizadora Hanna Korich.

Sobre o documentário
O projeto de “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” nasceu do desejo de não apenas relembrar a trajetória de Cassandra Rios, mas também apresentá-la às gerações atuais. “Cassandra foi a primeira autora a abordar o lesbianismo de forma aberta na literatura brasileira, tendo começado a publicar em 1948, e a primeira também – espantosamente – a falar da mulher como um ser sexual, que tinha desejo”, conta Hanna.

Para a realizadora, o documentário é dirigido “a todos os jovens que nunca ouviram falar dela e também aos mais velhos, que lembram mas faz tempo que não pensam nela”. “Está mais do que na hora de começarem a repensar a contribuição heroica que essa mulher fez ao movimento LGBT e à literatura em geral”, defende.

Outro importante aspecto abordado no documentário é o fato de Cassandra Rios ter sido perseguida durante a ditadura militar. Como destaca Hanna Korich, “Cassandra Rios foi a escritora brasileira mais censurada pela ditadura, com 36 livros apreendidos, o que levou à sua bancarrota e ao fechamento de sua livraria”. A realizadora acrescenta que Cassandra não teve apoio nem mesmo dos intelectuais. “Ela teve o apoio de poucos, como Jô Soares, que a entrevistou em 1990, e de Jorge Amado, que a considerava ótima escritora”, revela Hanna.

 

Bestseller absoluta nas décadas de 60 e 70, com mais de um milhão de exemplares vendidos de uma obra, Cassandra Rios faleceu em São Paulo, aos 69 anos de idade, em 8 de março de 2002. “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” traz à tona a audácia da escritora durante os anos de chumbo e sua importância para a literatura brasileira.

Um dos depoimentos mais emblemáticos é o da sobrinha de Cassandra, Liz Rios, que revela que a censura teve um impacto enorme sobre a carreira da paulistana, autora de títulos como “A Tara”, “Tessa, a Gata”, “Volúpia do pecado”, “A paranoica”, entre outros.

Importante também é a entrevista com o advogado e representante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Dr. Martim Sampaio, que declara que já enviou ofícios às comissões da verdade denunciando as perseguições descabidas à Cassandra, e o depoimento de Eliane Robert Moraes, professora de Literatura Brasileira da USP, crítica literária e escritora, que entrevistou Cassandra para uma revista feminista, a “Mulherio”, e conta que ficou impressionada com a ousadia e amargura da autora.
Poemas musicados
Para a trilha sonora original, Hanna Korich convidou a cantora e compositora Laura Finocchiaro. Sobre a contribuição de Finocchiaro ao documentário, a realizadora diz: “Laura Finocchiaro é lésbica assumida, musicista de primeira linha, tem contribuído para o movimento das lésbicas no Brasil e gostou de vários poemas da Cassandra.”

“Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” teve exibição inaugural na Casa das Rosas, em São Paulo, no dia 31 de agosto, em homenagem ao Dia da Visibilidade Lésbica.
Sobre Hanna Korich
Paulistana, advogada e graduada em Comunicação Social com especialização em Rádio/TV pela Faap, fez parte do Conselho de Atenção à Diversidade Sexual do município de São Paulo representando as lésbicas. Em 2008, junto com Laura Bacellar criou a primeira e única editora lésbica da América Latina – Editora Brejeira Malagueta www.editoramalagueta.com.br. Escreveu junto com Laura Bacellar e Lúcia Facco o livro Frente e Verso, visões da lesbianidade, publicado pela Editora Malagueta em 2011. Foi colunista do site Dykerama, apresentadora, produtora e roteirista do programa de TV por internet As Brejeiras.

Sobre Cassandra Rios
Cassandra Rios, nascida Odete Rios em 3 de outubro de 1932 no bairro de Perdizes, São Paulo, foi sem dúvida a escritora mais importante para a literatura lésbica no Brasil. Autora muitíssimo lida, responsável por sucessos de público mais expressivos que os livros de Jorge Amado, chegou a vender mais de um milhão de exemplares nas décadas de 1960 e 1970.

Retratou as lésbicas, o submundo homossexual em São Paulo e os dramas vividos por quem pertencia às minorias. Muitos de seus livros foram considerados pornográficos, tendo 36 (entre seus mais de 60 títulos publicados) sido censurados pela ditadura militar e recolhidos da praça.

Seus livros estão fora de catálogo, havendo apenas quatro títulos acessíveis no mercado, e sua carreira de desafios é desconhecida das gerações mais jovens.

Serviço:
Lançamento do documentário “Cassandra Rios: A Safo de Perdizes”
Quando: Sábado, 12 de outubro de 2013
Horário: 11h
Local: Cine Livraria Cultura – Avenida Paulista, 2073, sala 2
Quanto: Entrada gratuita