Documentário sobre trajetória de escritora lésbica perseguida pela ditadura será lançado no próximo sábado 12, em São Paulo
Estreia no próximo dia 12 de outubro, no Cine Livraria Cultura, em São Paulo, o documentário“Cassandra Rios: a Safo de Perdizes”, dirigido por Hanna Korich e selecionado em concurso do ProAC (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.
O filme retrata a trajetória da escritora Cassandra Rios, perseguida pela ditadura militar, sob alegação de pornografia, e traz depoimentos de pessoas que, de alguma forma, fizeram parte da vida da autora, como a sobrinha Liz Rios, a atriz Nicole Puzzi, a escritora Lúcia Facco, o editor Maxim Behar, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, Dr. Martim Sampaio, entre outras personalidades.
Além da exibição do documentário, haverá uma conversa com a participação do editor-chefe da Revista da Cultura, Sergio Miguez, da escritora Lúcia Facco, da atriz Nicole Puzzi e da cantora, compositora e instrumentista Laura Finocchiaro, responsável pela trilha sonora de “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes”.
“Será a oportunidade de apresentar a Cassandra ao público e falar sobre a vida e obra dessa verdadeira escritora, que foi pioneira para as lésbicas brasileiras”, diz a realizadora Hanna Korich.
Sobre o documentário
O projeto de “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” nasceu do desejo de não apenas relembrar a trajetória de Cassandra Rios, mas também apresentá-la às gerações atuais. “Cassandra foi a primeira autora a abordar o lesbianismo de forma aberta na literatura brasileira, tendo começado a publicar em 1948, e a primeira também – espantosamente – a falar da mulher como um ser sexual, que tinha desejo”, conta Hanna.
Para a realizadora, o documentário é dirigido “a todos os jovens que nunca ouviram falar dela e também aos mais velhos, que lembram mas faz tempo que não pensam nela”. “Está mais do que na hora de começarem a repensar a contribuição heroica que essa mulher fez ao movimento LGBT e à literatura em geral”, defende.
Outro importante aspecto abordado no documentário é o fato de Cassandra Rios ter sido perseguida durante a ditadura militar. Como destaca Hanna Korich, “Cassandra Rios foi a escritora brasileira mais censurada pela ditadura, com 36 livros apreendidos, o que levou à sua bancarrota e ao fechamento de sua livraria”. A realizadora acrescenta que Cassandra não teve apoio nem mesmo dos intelectuais. “Ela teve o apoio de poucos, como Jô Soares, que a entrevistou em 1990, e de Jorge Amado, que a considerava ótima escritora”, revela Hanna.
Bestseller absoluta nas décadas de 60 e 70, com mais de um milhão de exemplares vendidos de uma obra, Cassandra Rios faleceu em São Paulo, aos 69 anos de idade, em 8 de março de 2002. “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” traz à tona a audácia da escritora durante os anos de chumbo e sua importância para a literatura brasileira.
Um dos depoimentos mais emblemáticos é o da sobrinha de Cassandra, Liz Rios, que revela que a censura teve um impacto enorme sobre a carreira da paulistana, autora de títulos como “A Tara”, “Tessa, a Gata”, “Volúpia do pecado”, “A paranoica”, entre outros.
Importante também é a entrevista com o advogado e representante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Dr. Martim Sampaio, que declara que já enviou ofícios às comissões da verdade denunciando as perseguições descabidas à Cassandra, e o depoimento de Eliane Robert Moraes, professora de Literatura Brasileira da USP, crítica literária e escritora, que entrevistou Cassandra para uma revista feminista, a “Mulherio”, e conta que ficou impressionada com a ousadia e amargura da autora.
Poemas musicados
Para a trilha sonora original, Hanna Korich convidou a cantora e compositora Laura Finocchiaro. Sobre a contribuição de Finocchiaro ao documentário, a realizadora diz: “Laura Finocchiaro é lésbica assumida, musicista de primeira linha, tem contribuído para o movimento das lésbicas no Brasil e gostou de vários poemas da Cassandra.”
“Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” teve exibição inaugural na Casa das Rosas, em São Paulo, no dia 31 de agosto, em homenagem ao Dia da Visibilidade Lésbica.
Sobre Hanna Korich
Paulistana, advogada e graduada em Comunicação Social com especialização em Rádio/TV pela Faap, fez parte do Conselho de Atenção à Diversidade Sexual do município de São Paulo representando as lésbicas. Em 2008, junto com Laura Bacellar criou a primeira e única editora lésbica da América Latina – Editora Brejeira Malagueta www.editoramalagueta.com.br. Escreveu junto com Laura Bacellar e Lúcia Facco o livro Frente e Verso, visões da lesbianidade, publicado pela Editora Malagueta em 2011. Foi colunista do site Dykerama, apresentadora, produtora e roteirista do programa de TV por internet As Brejeiras.
Sobre Cassandra Rios
Cassandra Rios, nascida Odete Rios em 3 de outubro de 1932 no bairro de Perdizes, São Paulo, foi sem dúvida a escritora mais importante para a literatura lésbica no Brasil. Autora muitíssimo lida, responsável por sucessos de público mais expressivos que os livros de Jorge Amado, chegou a vender mais de um milhão de exemplares nas décadas de 1960 e 1970.
Retratou as lésbicas, o submundo homossexual em São Paulo e os dramas vividos por quem pertencia às minorias. Muitos de seus livros foram considerados pornográficos, tendo 36 (entre seus mais de 60 títulos publicados) sido censurados pela ditadura militar e recolhidos da praça.
Seus livros estão fora de catálogo, havendo apenas quatro títulos acessíveis no mercado, e sua carreira de desafios é desconhecida das gerações mais jovens.
Serviço:
Lançamento do documentário “Cassandra Rios: A Safo de Perdizes”
Quando: Sábado, 12 de outubro de 2013
Horário: 11h
Local: Cine Livraria Cultura – Avenida Paulista, 2073, sala 2
Quanto: Entrada gratuita