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Doc-Expõe comemora seus 21 anos com café da manhã e debate sobre cultura

Genilson Coutinho,
17/05/2017 | 00h05

Legenda: Angela Petitinga, Fernando Guerreiro e Fabiana Pimentel | Foto: Genilson Coutinho

Rodeados pelos ares do Memorial A Casa do Rio Vermelho, onde viveram os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, os sócios da Doc-Expõe, Angela e João Paulo Petitinga, comemoraram o aniversário de 21 anos da empresa na manhã desta terça-feira, 16, com a realização do seu primeiro Café Cultural.

Com o tema Como Um Equipamento Cultural Pode Revitalizar um Espaço Urbano, o café contou com a participação da gestora cultural Fabiana Pimentel, Diretora Executiva da Orquestra Sinfônica da Bahia, e do diretor e produtor Fernando Guerreiro, que se juntaram a Angela para discutir um pouco sobre o cenário da cultura em Salvador hoje, seus equipamentos e a valorização da ocupação dos espaços com a cultura.

Em um primeiro momento, Angela apresentou, em vídeo, um pouco da história da Doc-Expõe – sua criação, há 21 anos, e as principais frentes de trabalho, com gestão documental e de equipamentos culturais. Em sua fala, a museóloga destacou ainda os espaços que hoje contam com a gestão da empresa, como o próprio Memorial A Casa do Rio Vermelho e os Fortes São Diogo e Santa Maria, todos os três geridos em parceria com a Prefeitura de Salvador.

Em seguida, Fabiana Pimentel iniciou o debate falando sobre sua experiência de pesquisa sobre gestão de cultura e a relação dos equipamentos com a identidade territorial. Durante o Café Cultural, ela compartilhou com os convidados um pouco da sua experiência acadêmica na área.

Assim, Fabiana abordou a importância dos equipamentos culturais, das suas múltiplas possibilidades e de como eles, muitas vezes, acabam sendo negligenciados. “Cheguei a um pensamento da necessidade de articular a gestão desses equipamentos com a identidade dos lugares onde eles atuam”, explicou a gestora. Fabiana abordou ainda a proximidade entre a identidade de um lugar e o seu patrimônio histórico, sua memória, e como, em sua pesquisa, faz o esforço de ligar esse patrimônio justamente à identidade do espaço.

Como exemplo, Fabiana Pimentel falou de uma de suas viagens de pesquisa, em que visitou Bogotá, capital da Colômbia, para conhecer equipamentos culturais que tinham a preocupação em evidenciar essa relação. “Lá, pesquisei uma rede de equipamentos culturais que começaram a atuar cooperativamente em torno do território”, disse, ressaltando a importância da ocupação dos espaços com cultura e os benefícios que isso traz para o convívio social.

Logo depois, foi a vez de Fernando Guerreiro abordar um pouco do que é trabalhar com cultura em Salvador. “Sou muito amigo de Angela e João, parceiro de trabalho da gestão pública”, comentou. “‘Aceitei de imediato o convite e quero começar dizendo que é muito importante que a gente se preocupe com a memória. Nós vivemos em um país que, infelizmente, a memória é sempre relegada ao segundo plano. Isso causa, obviamente, uma ausência de identidade”.

“A gente tem uma dificuldade muito grande em associar memória a uma coisa dinâmica”, continuou Guerreiro. “Acabamos abandonando conquistas que foram importantíssimas”. Segundo o diretor, um dos pontos mais importantes da preservação do passado e da história é o reconhecimento das ações e ideias implantadas anteriormente.

“A dinâmica da memória é muito importante, acho o trabalho da Doc-Expõe importantíssimo nesse sentido de tentar trazer uma dinâmica para o patrimônio, a lembrança e, principalmente, chegar para um público que é muito avesso a isso, que é hoje o público jovem”, opinou. Assim, Guerreiro evidenciou o papel positivo de dialogar com os mais jovens a partir da internet e das redes sociais e de atraí-los para dentro dos equipamentos culturais.

O debate contou com a presença de amigos e convidados da Doc-Expõe, como Maria João, neta de Jorge Amado e Zélia Gattai, e Marcelo Cunha, museólogo e professor da Universidade Federal da Bahia. João Amado Filho, o Jonga, também neto do casal de escritores, aproveitou a ocasião para destacar o trabalho da Doc-Expõe na gestão do Memorial A Casa do Rio Vermelho em parceria com a Prefeitura de Salvador.

“Queria falar um pouquinho da história da minha família com a Doc-Expõe”, iniciou. Ele, que conheceu Angela Petitinga pouco depois da morte do avô, em 2003, conta que a ideia de transformar a casa em um memorial era para fazer do espaço uma “casa viva”, algo que pudesse perpetuar a vida e a obra de Zélia e Jorge Amado.

Assim, a família preparou o espaço para justamente “servir à comunidade”, lembrou Jonga. “Desde então, a Doc-Expõe tem andado lado a lado com minha família. Mesmo nos 11 anos em que ficamos com essa casa completamente fechada, sem nenhuma perspectiva. Ainda assim tive a Doc-Expõe do meu lado. Sou muito grato por conta de todos esses anos em que vivemos juntos. Fica o meu agradecimento”.

Jonga acrescentou ainda a importância de um espaço como o Memorial A Casa do Rio Vermelho que, mesmo no período em que esteve fechado, recebia a atenção dos vizinhos e de turistas. “Muitas vezes, quando eu estava aqui, o segurança me chamava e eu deixava as pessoas entrarem para conhecer a casa. Antes de tudo, foi um pedido do bairro para a gente”.

Antonio Barreto Júnior, Diretor de Turismo na Secretaria de Turismo, também esteve presente e evidenciou como o Memorial é uma referência nacional e internacional hoje em “projeto e modelo que deu certo no ponto de vista de manutenção e parceria público-privado”.

A Doc-Expõe segue o ano de 2017 com novos projetos, como a montagem da exposição do Espaço da Indústria na FIEB, que tem inauguração prevista para o dia 25 de maio (quinta-feira).

Sobre a Doc-Expõe

Há 21 anos no mercado, a Doc-Expõe trabalha com gestão cultural e documental. À frente com os sócios Angela e João Paulo Petitinga, a empresa começou seu trabalho com gestão museológica e documental em maio de 1996 e, desde então, tem atuado ativamente nas duas frentes.