Dia dos Pais, Paternidade Gay e Família

Genilson Coutinho,
10/08/2013 | 23h08

Por Toni Reis

Com a aproximação do Dia dos Pais que será comemorado no próximo domingo, 11 de agosto, e tendo em vista que agora já sou papai, recebi muitos pedidos de entrevistas. Fiquei surpreso e fui estudar um pouco sobre o assunto. Também fiquei surpreso em saber que o dia foi criado muito anterior à nossa era atual. Diferente das demais datas comemorativas que foram criadas muitas vezes para ajudar o comércio, o Dia dos Pais é comemorado desde há 4 mil anos na antiga Babilônia.

A primeira vez que ouvi a palavra papai do nosso filho Alyson, as lágrimas não foram contidas. Chorei. E realmente é um sentimento indescritível. Hoje ele me chama de Papai e chama meu marido David de Dad, que significa papai em inglês. Quando ele chama David de papai sinto um tiquinho de ciúme. Nada que abale a relação, mas sinto.

A figura do pai ou da mãe na vida de uma criança ou de um adolescente contribuirá com a formação e/ou deformação da sua personalidade e a acompanhará ao longo de toda sua vida. Com a palavra, um dos maiores especialistas do comportamento humano, o pai da psicanálise que explica quase tudo, o Freud, ainda que eu tenha algumas ressalvas a seu respeito: “Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai ou uma mãe.”

Fica claro que a figura do pai e da mãe é de grande importância no crescimento e desenvolvimento de um ser humano. David e eu não descuidamos nenhuma semana de visitar ou contatar a escola, verificar a lição de casa, participar da vida do Alyson, sempre criando-o para a autonomia. Afinal chegará o dia que ele falará “Adeus papais, estou indo embora.” Isto já dá um aperto no coração.

Eu mesmo não tive o prazer e a satisfação de conviver com meu velho querido pai, que morreu quando eu tinha um ano de idade. Fui criado por uma mãe maravilhosa que me deu todo o amor, carinho, proteção e exemplo que uma pessoa precisava. “Bingo!”, diz aquele preconceituoso: “Tá aí a causa da homossexualidade dele.” Errou! Meus outros irmãos, que foram criados da mesma forma pela minha mãe, pelo que sei nenhum deles é praticante da homossexualidade.

Neste sentido, acho que esta história de pai gay, mãe lésbica, pai ou mãe hétero… é tudo igual. O que precisamos e ter a responsabilidade da criação, a dedicação e o amor. É isto, independente da orientação sexual e da identidade de gênero.

David e eu estamos criando o Alyson de forma muito tranquila, sempre dando amor, exemplo e dedicação, caráter e atitude, preparando-o para viver em sociedade.

Nunca pensamos em barriga de aluguel ou inseminação artificial, como está em voga, inclusive na atual novela das nove “Amor à vida”. Sempre achamos que há muitas crianças nos abrigos, inclusive aquelas que não preencham o critério mais procurado: serem recém-nascidas, meninas e brancas.

 

Antes de adotarmos nosso filho, lemos muitos livros, manuais, teses e fizemos vários cursos sobre adoção e adoção tardia. Mas o que está nos ensinando mesmo é a convivência diária.

Tudo é defesa de tese, desde a higiene, a forma que senta à mesa, a rotina do estudo, um dia com mais afeto, outro com mais firmeza. Estamos chegando a uma forma de convivência harmônica.

Neste sentido, vamos constituindo uma família, dentro do conceito de que família são pessoas que se amam, se cuidam e têm responsabilidade.

Viva o dia dos pais, das mães e das pessoas responsáveis, independente de qualquer característica.

Toni Reis, 49 anos, é doutor em educação, secretário de educação da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e diretor-executivo do Grupo Dignidade