Delgada Patrícia Nuno fala da relação da Polícia e a Mídia

Genilson Coutinho,
06/07/2012 | 11h07

Ás três horas da manhã encontram-se reunidos na sala do Serviço de Inteligência da Delegacia Territorial que atende a uma área com alto índice de violência, doze investigadores de polícia e um delegado, todos protegidos com os seus coletes anti balísticos, pistolas em punho fartamente municiadas, material recentemente adquirido pela Secretaria da Segurança Pública. Em frente à Unidade, três viaturas novinhas estacionadas, aguardando os guerreiros da tropa que estão prontos para partir para campo, no afã de realizar um bom trabalho, com prisões, apreensão de armas e drogas. Afinal, com isso sonhávamos quando prestamos concurso para a Polícia Civil: a busca da verdade, o desvendar dos mistérios, e elucidação dos mais complicados casos que afetam a tranquilidade da população! Tecnicamente falando, comprovação da materialidade e identificação da autoria dos fatos delituosos.

Em cima da mesa do delegado, além da pizza com guaraná que agrada ao paladar e promove integração e harmonia da equipe, a arma mais poderosa: a informação.

A Polícia não pode correr o risco de trabalhar à base do improviso, lançando-se a ermo, atirando no escuro, pronta para ser devorada pelo universo do crime que se encontra aparelhado e muito bem organizado desde um pequeno núcleo, uma singela comunidade na beira da praia , colônia de pescadores da Gamboa de Baixo, até o um morro estrangeiro, do Alemão. Às cegas, somos alvos.

Sem informação, não podemos dar o primeiro passo! Não há o que fazer a não ser manter nos registros policiais mais uma ocorrência, que vai engrossar a estatística dos fatos noticiados e não elucidados. E com tantos casos sem solução, a credibilidade da Instituição escoa pelo ralo do esgoto.

E o povo, coitado, grita desesperado e busca socorro na imprensa, registrando o seu BO nos mais populares programas de denúncias, porque ali tem quem faça ecoar o seu problema; porque ali quando se abre o bocão a terra estremece e a engrenagem do sistema começa a funcionar. E é um tal de liga daqui, chama à responsabilidade os de lá, repita-se os de lá, porque a culpa é sempre dos outros; movem-se os pauzinhos, chamam a Polícia, a SUCOM, o Ministerio Publico, qualquer órgão que seja realmente competente, até que os dali parem de falar, de soltar chispas de críticas que podem incendiar toda uma gestão, com direito a identificação e escrache público do Judas. Pronto, tudo resolvido, a paz volta a reinar.

Na faculdade de Direito aprendi que o que não está nos autos não existe, será que não queriam dizer que o que não está na TV, radio e jornais não existe?

Mas de nada adianta o microfone ou o vozeirão, se a arma poderosa não se fizer presente na imprensa também: informação! Aí está a zona de intercessão entre a Polícia e a mídia!

Sim, porque sem essa ferramenta não se escreve o primeiro parágrafo de uma matéria, a não ser que se tenha uma imaginação muito fértil e nenhuma responsabilidade.

Mas sem responsabilidade não vale. É o mesmo que prender um inocente, e o pior é que a em se tratando da mídia, saltam-se todas as etapas do processo e condena-se no primeiro flash. O sujeito que tem a sua cara estampada na tela nunca mais tem sossego, fica marcado, porque a mídia estabelece as verdades absolutas, que são reverberadas entre aqueles que nada tinham a dizer, mesmo porque pensar dá trabalho, ter opinião é privilegio de poucos e está em extinção, então passam a repetir. E uma mentira repetida mil vezes, como diz o meu pai, vira verdade.

A Polícia e a mídia andam pegadas. De mãos dadas caminham em direção ao dever para com a sociedade, na elucidação dos fatos, no compromisso com a verdade.

Compromisso com a verdade é respeito para com as pessoas, para com a sociedade e principalmente para consigo mesmo, enquanto profissional. Compromisso com a verdade é não se deixar iludir pela fama, pela vaidade. É colocar Deus no coração, ter humildade, e vencer a tentação de ostentar poder, por vaidade.

Informação confere poder, muito poder. Por isso a terra estremece quando se chama a Polícia, ou quando se grita ao microfone. Mas sem responsabilidade, nem a Polícia nem a mídia se sustentam, porque a base, a fundação, aquela estrutura que fica debaixo do chão, com importância muitas vezes esquecida pelas pessoas, chama-se credibilidade, sem o que, meus caros, todo o conceito e respeito escoam pelo ralo do esgoto, eu digo mais uma vez.

Acontece que ninguém consegue repetir uma mentira mil vezes, porque as versões mudam a cada instante quando o fato não existiu. Assim, não há mentira que consiga virar verdade. Cada vez que se conta o mesmo conto se altera um ponto.

Então parabéns aos meus queridos colegas, profissionais de segurança que realizam um trabalho sério e honesto! Parabéns aos meus amigos comunicadores, que têm no compromisso com a verdade o sustentáculo do seu sucesso.

Vamos enaltecer a boa Polícia e a boa mídia.

E nesse caminho, nada mais resta a dizer senão, muita paz a todos vocês.