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Danuza Leão: “Quem não tem amigo gay não sabe o que está perdendo”

Genilson Coutinho,
09/03/2015 | 10h03

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Por Danuza Leão

Você tem um amigo gay? não? Pois não sabe o que está perdendo. Só para começar, gays são divertidos, bem informados, dispostos a tudo e alegram nossa vida. Há os que se dedicam à cultura, outros à moda/beleza e, dificilmente, você encontrará um burro ou ignorante. Como se diz, bicha burra nasce homem. Além disso, são sensíveis e, quando amigos mesmo, pode contar com eles para qualquer coisa. Em poucos minutos a encaixam numa ala do Salgueiro, levam a uma feijoada ou descolam a melhor mesa na estreia do show do momento. Se for preciso, arranjam umas pestanas postiças, um camafeu na casa da avó, um xale espanhol ou um boá de plumas vermelhas num piscar de olhos.

Estão sempre alegres, claro. Difícil encontrar um gay triste ou amargo. Quando acontece, se trancam em casa e ouvem Dalva de Oliveira. Não que sejam doces – isso não. Costumam ser ácidos e até cáusticos, o que faz deles personalidades bastante interessantes. Por um extraordinário acaso do destino, acham tempo para tudo – desde que sejam atividades agradáveis e, se possível, glamourosas, tais como almoços, jantares, viagens, celebrações. Não nasceram para a depressão.

São cheios de variados dons. De um cacho de banana, dois abacaxis e meia dúzia de laranja, fazem um centro de mesa que poderia aparecer em revista internacional. Outros têm talento para tudo que diz respeito à beleza e, em 15 minutos, “montam” qualquer mulher. Basta terem à mão dois lenços, um vidro de purpurina e um estojinho de maquiagem para fazerem de você uma princesa sem gastar um só real. Já nascem donos de um dom criativo e, sem esforço, transformam um clima lúgubre em festa de altíssimo astral.

Festa, aliás, é do que mais gostam, e quem poderia imaginar uma sem vários deles? Antes que me esqueça, adoram um candelabro. Do Brasil às Filipinas, do Alasca às Ilhas Canárias, têm suas deusas, que veneram. São eternos apaixonados por Marilyn Monroe, Marlene Dietrich, Carmen Miranda, Bethânia, Emilinha, Maria Callas, Maysa, Judy Garland, a maravilhosa Dalva, de quem conhecem de cor todas as letras de todas as músicas, e a maior das musas: Sarita Montiel. Viram La Violetera milhares de vezes e jamais perderam um concurso de Miss Brasil, desde Martha Rocha. Sabem com precisão em que ano cada uma foi eleita, de que estado era e quem ficou em segundo lugar, sem falar qual foi eleita Miss Universo e como estavam vestidas.

Eles nos entendem, ah, como nos entendem. Quando uma mulher começa a se queixar de um homem, das indelicadezas de que são capazes, quem melhor para compreender? Quem melhor para aconselhar e nos obrigar a botar salto alto, rímel e ir à luta? “Sofrer por homem, minha filha? Xô.” E, quando o marido chega falando do mercado à aliança do PT com o PMDB, que vontade de ser casada com um gay. Um meio gay, digamos.

Nos gays se pode confiar. Mas, por mais que a adorem, você sempre corre o risco de virar as costas e pintar um comentário do tipo: “Nossa, a amiga engordou!” – mas com o maior carinho. Pensando bem, dá para confiar em alguém de verdade? Ninguém neste mundo tem a memória prodigiosa deles. Lembram do dia, mês e ano em que Rita Hayworth esteve no Brasil, dos detalhes do crime do Sacopã, do Carnaval que Gigi da Mangueira desfilou. E de tudo o que aconteceu na sua vida, até de coisas que você preferia esquecer, como sua data de nascimento. E nisso são implacáveis.

Texto originalmente publicado na revista M de Mulher.