Notícias

Comunidade LGBTQIA+ lamenta morte de Martinha

Genilson Coutinho,
17/09/2020 | 21h09

A travesti Martinha faleceu na última quarta-feira (16), vítima da Covid-19, e deixou a comunidade LGBTQIA+ triste com a partida de uma das mais antigas e conhecidas travesti baiana.

Martinha nasceu em Salvador, no dia 26 de março de 1956. Moradora do Maciel Pelourinho, aos 12 anos começou a se prostituir. “Eu não tive outra chance, ia para a escola e era chamado de viadinho, efeminado, um dia não voltei mais lá. Eu via as travestis lindas, e então decidi que queria ser como elas e a partir daí comecei a tomar hormônios e apareceram os clientes”. Fotos tiradas pelo GGB no início dos anos 80 comprovam que Martinha foi uma mulher belíssima.

Mesmo diante das dificuldades físicas, financeiras e sociais, Martinha se considerava uma “sobrevivente”. Ela sofreu tortura policial durante a ditadura e foi presa muitas vezes pela extinta Delegacia de Jogos e Costumes, detenções que aconteciam só por andar na rua vestida de mulher. Na custódia da polícia ela e outros gays e travestis eram obrigados a fazer a faxina da delegacia e muitas vezes delegados de outras delegacias mandavam buscar as travestis para fazer faxina de outras unidades.

Em uma das entrevistas para o Dois Terços, ela revelou que a polícia tocava o terror na Av. Carlos Gomes e colocava as travestis na cadeia sem previsão de saída, mas elas sempre davam um jeito de sair.

“Eles nos prendiam por dias e o único jeito de sair era colocar a gilete na boca. Quando os policiais viam o sangue ficavam desesperados e nos libertava”, contou Martinha.

“Martinha fez e fará parte de todas nós. Quem esteve com ela ou não, no passado ou no delicioso presente, sentia sua grande energia. Minha companheira de cigarros, risos e tosses. Em 2012 ela esteve felicíssima no Seminário do Fórum em Ilhéus. Martinha tem história importante e só quem a ouvia ouviu o que se passou em outros tempos, ditadura inclusive. Em paz a gente se despede”, lamentou a militante Milena Passos.