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Comprimido azul está freando HIV de Sidney a São Francisco

Genilson Coutinho,
01/09/2017 | 15h09

Truvada: pela 1ª vez, mais da metade das pessoas que vivem com HIV está em tratamento para suprimir o vírus (JB Reed/Bloomberg)

Exame 

Kyle, de 29 anos, originário de Sidney, nunca conheceu uma época em que o HIV não fosse uma ameaça persistente e perniciosa — até começar a tomar um comprimido para evitá-lo.

O comprimido antiviral azul e ovalado, conhecido como Truvada, que Kyle toma diariamente, é objeto de um estudo no estado australiano de Nova Gales do Sul que, em menos de um ano, ajudou a reduzir o número de novos casos do vírus da imunodeficiência humana (HIV, na sigla em inglês), causador da AIDS, entre homens gays e bissexuais aos níveis mais baixos desde 1985.

“É bom fazer parte disso”, disse Kyle, um assistente de varejo que entrou em um programa chamado profilaxia pré-exposição (PrPE) em janeiro para diminuir o medo de ser infectado pelo HIV durante o sexo nas ocasiões em que não usa preservativo. “Eu me sinto muito mais seguro.”

Trinta e seis anos depois que uma rara infecção pulmonar em homens gays de Los Angeles anunciou o começo da epidemia de AIDS na América do Norte, a doença fatal está recuando firmemente em todo o mundo.

Pela primeira vez, mais da metade das pessoas que vivem com HIV está em tratamento para suprimir o vírus, que evita os sintomas e previne a transmissão. E milhares de pessoas estão usando o Truvada, da Gilead Sciences, no teste de PrPE que está limitando a propagação em comunidades de Londres a São Francisco.

A PrPE reduz o risco de transmissão do HIV durante o sexo em mais de 90 por cento caso o comprimido — uma combinação de dose fixa das drogas tenofovir disoproxil e emtricitabina — seja tomado diariamente.

Em um momento em que versões genéricas mais baratas do Truvada produzidas por Mylan, Cipla e Teva Pharmaceutical Industries estão se tornando mais amplamente disponíveis, médicos e pesquisadores de saúde pública estão testando sua capacidade de reduzir a incidência do HIV no mundo em desenvolvimento, especialmente na África subsaariana, onde a doença é transmitida principalmente pelo sexo heterossexual.

Os diagnósticos de HIV no centro de saúde sexual mais movimentado do Reino Unido — a clínica 56 Dean Street, no Soho de Londres — caíram 42 por cento no ano passado, e em São Francisco foram reduzidos pela metade desde que a PrPE foi aprovada pela Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês), em julho de 2012. 

A Gilead calcula que 136.000 pessoas tomavam o Truvada como PrPE no fim do segundo trimestre, contra entre 60.000 e 70.000 um ano antes.

O número ainda representa uma fração do 1,2 milhão de adultos norte-americanos sob risco significativo de se tornarem soropositivos, que, segundo os pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, são candidatos ao regime.

O tratamento preventivo atualmente representa cerca de metade das vendas do comprimido nos EUA, disse o gerente de operações da Gilead, Kevin Young, em julho. As vendas do medicamento, iniciadas há 13 anos, chegaram a US$ 3,57 bilhões em 2016 e responderam por quase 12 por cento da receita da empresa com sede em Foster City, Califórnia.