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‘Comecei meus shows na boate Caverna Prive, na Carlos Gomes’, diz Fabiane Galvão

Redação,
29/01/2021 | 08h01
Foto: Genilson Coutinho

Aos 13 anos, ela já dava seus primeiros passos no mundo das artes por meio da dança, mas foi nos áureos anos 80 e 90 que Fabiane Galvão, hoje plena aos 52 anos, tinha seu primeiro contato com o universo da arte transformista. Fabiane conta que começou a frequentar as boates LGBTQ de Salvador, na famosa Carlos Gomes ou CG como era popularmente conhecida pela comunidade LGBTQ, e foi nessas idas e vindas que se apaixonou pela arte, dando início aos shows na Boate Caverna Prive, no subsolo de um prédio na CG. Dali para frente ela não deixou mais esse universo glamouroso e infelizmente de baixos cachês.

A estrela revela que, quem a incentivou foi Dion Santiago, uma das divas e referência na arte transformista na capital baiana, madrinha de muitas artistas do transformismo baiano. “Sou eternamente grata a Dion, foi ela que acreditou e me incentivou a seguir em frente nesta paixão, que tem um mix de luxo e desvalorização, ainda com alguns casos de falta de respeito por nós, artistas. Tem horas que penso que estou nos anos 90, pois os empresários continuam nos pagando cachês baixos, em lugares com estrutura zero. Os tempos são outros, mas eles continuam com o mesmo pensamento”, conta Galvão.

A sua paixão pelo palco, a fez conquistar outros espaços como a BoateIce Kiss, dos empresários Jorge e Antônio, que a princípio nasceu com a proposta de um restaurante, e que no decorrer do tempo se transformou numa das boates mais movimentadas e de grandes espetáculos transformistas, a 50 metros do saudoso do Cine Bahia. Mas quem pensa que a estrela de cabelos longos e naturais parou apenas nestes dois locais se enganou, Fabiane fez shows em todos os clubes e bares da cena LGBTQ, e sempre foi motivo de comentário por sua vitalidade e elasticidade, sendo até chamada de mulher elástico. E foi neste turbilhão de arte e desafio de sobreviver, que Fabiane conquistou seu lugar e fez história nestes longos anos de carreira.

Especial: espaços que deixaram saudade na comunidade LGBT de Salvador

Sobre como é ser artista em tempos de internet, e dessa nova geração de artistas, Fabiane que não tem nenhuma rede social, conta que é difícil se manter no mercado, não apenas pelo surgimento natural de outras artistas, mas sim por falta de espaço para artistas como ela, que chegou à casa dos 50 anos e que são esquecidas pelos empresários. “Não é fácil viver de arte aos 50 e concorrer com a vitalidade e talento das novas artistas. Sou pouco requisitada para shows e eventos, hoje vivo e pago minhas contas com dinheiro que ganho como diarista, se não fosse este trabalho não sei como seria. É muito complicado você viver ou tentar viver de arte, principalmente a minha arte, todo mundo acha maravilhoso o glamour, mas não imagina o quanto gastamos para chegar diva no palco, com números novos, ótimos figurinos e no final da noite receber 50 ou 70 reais de pagamento. Que preço tem nossa arte?” questiona a transformista.

Fabiane recorda também da sua estreia no teatro, com o espetáculo “Sou Transformista. Mereço Respeito”, idealizado pelo site Dois Terços, que conquistou o público e mexeu com a cena. Realizado no ano de 2011, foi a primeira vez que um grupo de artistas transformistas saiam dos guetos e dos horários da madrugada para o horário nobre dos teatros de Salvador, estampando as principais capas dos jornais, sites e programas de televisão. “Sinto uma saudade sem tamanho dos nossos encontros no camarim e da alegria de estar em um espaço novo e cheio de pessoas que nunca tinha visto um show meu e das minhas amigas, e que saiam de lá sempre felizes. Viver essa experiência é algo que vou levar para o resto da vida, e guardar nas minhas memórias, o quanto somos capazes em nome da arte”, pontuou Fabiane.    

Perguntamos se pararia e ela revela: “Jamais, pois a arte mora em mim e enquanto tiver oportunidade e convites estarei no palco, pronta para mostrar o que sei fazer, pois a vida muda e muda a gente”, sintetiza ela