Literatura

Com beijo gay na capa, roteirista Felipe Cabral lança seu primeiro romance juvenil LGBTQIA+

Redação,
11/11/2021 | 10h11
(Foto: Divulgação)

No que depender de “O primeiro beijo de Romeu”, romance de estreia de Felipe Cabral que será lançado em 16 de novembro pela Galera Record, os matizes que colorem a bandeira e o universo LGBTQIA+ serão potencializados. Inspirado nos acontecimentos da Bienal do Livro do Rio de 2019, onde houve uma tentativa de censura por parte do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, a publicação narra as vivências de Romeu que, prestes a dar seu primeiro beijo, tem sua vida virada de cabeça para baixo. Além de ser arrancado do armário para toda a escola, ele descobre que o livro que seu pai lançaria na Bienal do Rio acaba de ser censurado pelo prefeito da cidade.

“A história nasceu ali. Um mês depois da Bienal, eu já tinha toda a premissa do livro na cabeça. É uma releitura, uma livre interpretação dos fatos, uma ficção, mas que escrevo contagiado pelas minhas lembranças. Um dos desafios da escrita, inclusive, foi justamente transmitir a sensação de estar no meio daquele furacão. Celebrávamos os 50 anos da Revolta de Stonewall e eu me senti no meio de uma revolução dos livros”, pontua Felipe que, naquela edição da Bienal, foi mediador e curador de duas mesas sobre a literatura LGBTQIA+ na Arena #SemFiltro.

Discutindo, entre outras coisas, a LGBTfobia, a liberdade de expressão e as novas composições familiares, o livro conta com orelha assinada por Jean Wyllys e realiza um marco: pela primeira vez, uma obra young adult nacional publicada por uma grande editora mostra um beijo entre dois garotos na capa, numa ilustração elaborada pelo artista Johncito. A escolha preconiza uma mudança no meio editorial, abrindo espaço para novas abordagens nas histórias LGBTQIA+.

“Até minha adolescência, nunca havia lido um gibi sequer que tivesse um personagem gay com o qual eu pudesse me identificar. Só aos 20 anos, quando me aceitei gay, fui atrás de um livro onde pudesse me enxergar – e não existiam muitas opções. É inegável que houve um avanço nesta literatura. Em 2017, resolvi criar o canal ‘Eu Leio LGBT’ justamente para mostrar que já existiam histórias onde estamos presentes. Mas é importante frisar que ainda existe uma carência de histórias que abarquem as outras letrinhas da nossa sigla”, aponta Felipe.

A ausência de referências ao longo da vida transformou o jovem autor num entusiasta e precursor em evidenciar o afeto LGBTQIA+ na TV. Como colaborador de Rosane Svartman e Paulo Halm, Felipe escreveu o primeiro beijo gay de uma novela das 19h na TV Globo em “Bom Sucesso”. Um pouco antes, porém, realizou o mesmo feito na quarta temporada de “Vai Que Cola”, do Multishow, com o primeiro beijo do personagem Ferdinando (Marcus Majella) em seu flerte, e na série “Quero ser solteira”, também exibida pelo canal pago, onde escreveu seu primeiro beijo gay na TV, em 2012. Sabendo que nem tudo na vida gay são doces beijos, na novela “Totalmente Demais” também escreveu uma sequência contra a homofobia.

“É muito importante que nossos beijos sejam cada vez mais comuns na indústria cultural. As novelas, filmes, peças e livros constroem o imaginário de uma sociedade e podem derrubar preconceitos através da arte. Quanto mais beijos forem exibidos, menos tabus eles serão”, Felipe comenta.

Dentre as circunstâncias de seu primeiro romance, o autor destaca o processo de auto aceitação de Romeu e as relações familiares como as mais emocionantes. “Romeu começa o livro – e isso não é spoiler – sendo tirado do armário à força para toda escola. De uma hora para outra, seus medos e inseguranças vêm à tona da pior forma possível. Mas quando eu escolho esse menino como protagonista, eu quero mostrar que ele não está sozinho”, pondera o autor, que espalhou 182 títulos de livros com protagonismo LGBTQIA+ pelo texto como forma de homenagear essa literatura.

Em sua jornada de aceitação, Romeu contará com Valentim e Samuel, seus pais. “Esses dois pais, com seus quase 40 anos, adotaram esse menino e vão fazer de tudo para que ele seja feliz. Quero reforçar que toda família merece ser respeitada e ter seus direitos garantidos. É nesse núcleo familiar que está o coração da minha história”, adianta Felipe, para quem o livro é esperançoso e otimista, mesmo apresentando temas sérios e relevantes.

“Eu desejo que o meu leitor termine ‘O primeiro beijo de Romeu’ e fique com vontade de ir atrás de outros livros com personagens LGBTQIA+. Que tenha coragem para ser quem ele é. Muito já foi conquistado, mas é preciso ir além: dar espaço para histórias com personagens negros, contratar autores negros, valorizar a literatura nacional, ampliar essa representatividade dentro da própria sigla LGBTQIA+. Eu sou otimista e acredito que estamos num bom caminho”, finaliza.

SERVIÇO:

“O PRIMEIRO BEIJO DE ROMEU”

Felipe Cabral

Editora Galeria Record

R$ 49,90

Páginas: 434

Gênero: Ficção, Infantojuvenil e Jovem Adulto

Lançamento: 16 de novembro

ASPAS:

“Se todos os garotos tivessem a chance de ler a história de Romeu ainda na adolescência, milhares de armários estariam vazios.”

Stefano Volp, autor de “Homens pretos (não) choram”

“Leve e profundo ao mesmo tempo, tão bem-humorado quanto sério, Felipe faz um golaço e esfrega na cara de todo mundo o que já devia ser óbvio: amor é para ser celebrado. Sempre.”

Thalita Rebouças, escritora

“Nesta estreia brilhante, Felipe usa sua multifacetada forma de contar histórias para criar um livro que abraça, enxuga as lágrimas e se mostra orgulhosamente para o mundo.”

Vinícius Grossos, autor de “Feitos de Sol”

“Com sua estreia na literatura jovem adulta, Felipe Cabral coloca na página toda a sua sensibilidade! Divertido, político e atual, ‘O Primeiro Beijo de Romeu’ é um corajoso ato de resistência e, principalmente, celebração dos afetos e existências LGBTQIA+.”

Juan Jullian, autor de “Querido Ex”

“O primeiro beijo de Romeu – primeiro romance de Felipe Cabral – não é só mais uma história de amor para LGBTs. Experiente em tramas de telenovelas bem como em diálogos precisos de peças teatrais, o escritor nos dá uma história que emociona e edifica espiritualmente um leitor ou leitora de qualquer orientação sexual e/ou identidade de gênero. O primeiro beijo de Romeu tem a mesma força de falar para todos os públicos que se viu no filme campeão de bilheteria e vencedor do Oscar O segredo de Brokeback Mountain. Sua capa é mais uma homenagem aos resistentes da bienal do que uma restrição de seu público leitor. Esta é uma história de amor para todas, todos e todes. É uma ampliação da literatura de Felipe Cabral, uma luz a mais na constelação de suas criações, que ajuda a afastar para cada vez mais longe a sombra da intolerância e da homofobia.”

Jean Wyllys, escritor e jornalista

SOBRE FELIPE CABRAL:

Ator, autor, roteirista, diretor artístico do FESTU (Festival de Teatro Universitário) e criador do canal “Eu Leio LGBT”, Felipe Cabral dirige seu fazer artístico tendo como gesto recorrente naturalizar a vivência e o afeto LGBTQIA+ na sociedade. No teatro, estreou em 2019 com o texto “40 anos esta noite”, montagem dirigida por Bruce Gomlevsky que, após três temporadas cariocas e uma paulistana no 27º Festival Mix Brasil, virou livro pela Editora Giostri e recebeu as indicações nas categorias de Melhor Autor e Melhor Ator no “Prêmio do Humor”, idealizado por Fabio Porchat. Com os seis curtas-metragens temáticos que escreveu – “Gaydar” (2012), “Rótulo” (2013), “Aceito” (2014), “Você” (2017), “Meu Preço” (2019) e “Simples Assim” (2021), Felipe participou de mais de 150 festivais nacionais e internacionais, acumulando mais de 25 prêmios. Em 2012, com Gabriel Falcão, deu o seu primeiro beijo gay em cena em “Gaydar”, o que aconteceria novamente em “Aceito” (2014), numa cena com Jefferson Schroeder. Na série “Quero Ser Solteira” (MultiShow, 2012), escreveu e protagonizou com o ator Eduardo Rios seu primeiro beijo gay para a TV. Na 4ª temporada do humorístico “Vai Que Cola” (MultiShow, 2017), fez o mesmo pelo personagem Ferdinando (Marcus Majella), que beijou o bombeiro Rômulo (Lucas Malvacini). Em 2017 ainda comprou os direitos e encenou “O filho do presidente” (“Now or later”, de Christopher Shinn), e também fez sua primeira curadoria e mediação de mesas LGBTQIA+ na Arena #SemFiltro na Bienal do Livro do RJ. Repetiu o feito na edição de 2019 da feira literária, marcada pelo tom político dos protestos em razão da tentativa de censura pelo prefeito Marcelo Crivella. Como fiel colaborador das novelas de Rosane Svartman e Paulo Halm, em “Totalmente Demais” (TV Globo, 2015) foi o responsável pelas cenas do personagem Max (Pablo Sanábio), incluindo as cenas em que o personagem sofreu homofobia. Na trama de “Bom Sucesso” (TV Globo, 2019) veio a oportunidade de escrever a cena do primeiro beijo gay das novelas das 19h da TV Globo, realizado pelos personagens Pablo Sanchez (Rafael Infante) e Willian (Diego Montez). Em 2020, pelo canal Eu Leio LGBT, elaborou ações artísticas e realizou uma série de lives com temas pertinentes ao universo LGBTQIA+, recebendo convidados significativos da literatura para o movimento, como Jean Wyllys, Amara Moira e Natália Borges Polesso, entre outros. Na 20ª Bienal do Livro do Rio, em dezembro, estará pela terceira vez como mediador e curador de mesas sobre a literatura LGBTQIA+.