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Coletivos de periferia inauguram a Casa do Museu Popular da Bahia

Redação,
28/06/2022 | 21h06
(Foto: Tiago Caldas)

Na data em que se comemoram os festejos da Independência da Bahia, a Casa do Museu Popular da Bahia será inaugurada no bairro de Fazenda Grande do Retiro pelos coletivos A Pombagem e Arte Marginal Salvador. Também funcionará como um museu comunitário e um centro de referência em estudos de Artes de Rua, Educação Patrimonial e Museologia Popular.

A ideia da Casa vem no sentido de satisfazer às demandas de ambos coletivos, principalmente a necessidade de prosseguir com as investigações em torno do que seus membros chamam de arte-educação patrimonial. De acordo com Janete Brito e Fabricio Brito, mãe e filho que encabeçam a ideia, ser arte-educador patrimonial é usar a arte-educação como expediente metodológico para valorizar e potencializar o patrimônio cultural. Em outras palavras, é articular arte, educação e patrimônio em prol do desenvolvimento da comunidade. 

Com base na afirmação de que “a rua é o museu do povo”, a Casa se colocará para além de um espaço de conservação, guarda e exposição de objetos ou peças mnemônicas. Em vez disso, numa perspectiva de museu vivo, comunitário e popular, a Casa promoverá, através de seus coletivos residentes, ações culturais e educativas em ruas e praças do bairro de Fazenda Grande do Retiro, dialogando com os diversos patrimônios culturais da comunidade.

O bairro de Fazenda Grande do Retiro tem histórias incríveis, e uma delas é bastante inspiradora: a Festa do Lixo. Considerada um patrimônio cultural da comunidade, a Festa do Lixo remonta ao dia 2 de julho de 1975, data em que os moradores locais, num gesto considerado de Independência, reuniram-se para recolher o lixo das ruas e o abandonaram diante da Imprensa Oficial do Estado da Bahia, localizada no mesmo bairro. 

A Festa durou entre 1975 e 1985 e acontecia sempre na data de comemoração da Independência da Bahia. Além de denunciar o descaso da prefeitura em relação à coleta de lixo, os festeiros se manifestavam dançando, cantando e protestando pelo fim da ditadura civil-militar no país. Inspirada nessa memória de luta e resistência, a Casa será inaugurada, no próximo 2 de julho, com uma roda de conversa sobre a Festa do Lixo enquanto patrimônio cultural. 

A Casa do Museu Popular da Bahia também será um espaço de pesquisa, pois, além das atividades estritamente artístico-culturais, promoverá encontros e seminários sobre museologia popular e novas possibilidades de musealização. Segundo mãe e filho, esta empreitada permitirá que as experiências museais em ruas e praças públicas, realizadas há mais de 10 anos pelo Grupo de Arte Popular A Pombagem e pelo Arte Marginal Salvador, constituam objeto de reflexões mais aprofundadas sobre o tema.

No segundo ano de pandemia, os coletivos residentes iniciaram uma campanha virtual pelo instagram para mobilizar colaboradores em prol da inauguração da Casa. Através de doação pelo pix as pessoas foram apoiando e se tornando uma base fundamental para ajudar nas demandas do espaço. Com a campanha foi possível pagar algumas contas de água e luz, além de adquirir dois bonecos gigantes. Tem ocorrido doações de todo tipo: instrumentos musicais, tecidos e adereços, bebedouro, uma mala de brinquedos etc. Para fazer parte dessa rede de colaboradores, basta entrar em contato através do @apombagem e @artemarginalssa ou doar pelo pix janjansilvabrito@hotmail.com

Sobre os coletivos:

O Grupo de Arte Popular A Pombagem surgiu em 2009 na periferia de Salvador, mais especificamente nas ruas e praças dos bairros de Fazenda Grande do Retiro e São Caetano. Os pombos, como são chamados os membros do coletivo, escreviam poesias que refletiam os dramas sociais de suas comunidades. Com o passar do tempo as poesias dos pombos foram se transformando em dramaturgias para espetáculos de teatro de rua. Atualmente, o grupo tem se dedicado ao espetáculo “O Museu é a Rua”, que é resultado de investigações estéticas e poéticas em torno da questão museal. 

O Arte Marginal Salvador é um coletivo formado por artistas visuais que se auto-intitulam marginais. São fotógrafos, pintores, performers e grafiteiros que realizam ações culturais nas praças e ruas da cidade, principalmente nos bairros periféricos. Com mais de 10 anos de existência e trabalho continuado, o coletivo acumula bastante experiência na área museal, tendo participado de algumas edições da Semana Nacional de Museus. O trabalho atual do Arte Marginal Salvador consiste na realização de uma intervenção urbana intitulada “A Rua é o Museu do Povo”.

A programação da inauguração da Casa terá o seguinte formato: às 8 horas da manhã começará o mutirão de limpeza do espaço com artistas dos coletivos residentes e agentes locais envolvidos no processo; às 12 horas acontecerá o almoço comunitário; às 14 horas será iniciada a roda de conversa sobre a Festa do Lixo enquanto patrimônio cultural; às 16 horas será o momento do sarau de poesias. A Casa do Museu Popular da Bahia está localizada na Rua Melo Morais Filho, nº 331, no bairro de Fazenda Grande do Retiro, Salvador-Ba.