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Coletivo Motirõ celebraram mês do Meio aAmbiente com artes em Salvador

Genilson Coutinho,
09/06/2019 | 11h06

Gamba

Incrustada entre o mar e a Avenida Contorno, ao lado do Museu de Arte Moderna da Bahia, a comunidade do Solar do Unhão é privilegiada com o visual da Baía de Todos os Santos. Mas como beleza nunca é demais, o projeto Unhão das Artes está promovendo intervenções artísticas que têm alegrado ainda mais os olhos dos moradores e visitantes. E quem está à frente das intervenções, sob a orientação de artistas mobilizados pelo Coletivo Motirõ, são os jovens da comunidade. Na última sexta (8) eles trabalharam na pintura de painéis no acesso à comunidade utilizando técnicas de pintura, grafite, stencil e mosaico e ainda levaram um grupo de visitantes para conhecer a exposição fotográfica ao ar livre que retrata mulheres da comunidade.

O projeto Unhão das Artes, do coletivo Motirõ, foi um dos 11 selecionados pelo edital Casa Cidades na Região Metropolitana de Salvador, com financiamento do Fundo Socioambiental Casa, Fundo Socioambiental Caixa, apoio da Fundação OAK e articulação local do Gambá. O projeto propõe a valorização de espaços comunitários – escassos por lá – através do artivismo (arte+ativismo). A via que liga o museu à comunidade é um desses locais e era lá que, na última sexta, o estudante do ensino médio Cleiton Santana do Nascimento pintava uma composição com flores e cores fortes. “Tô fazendo um desenho aqui que tem a ver com a natureza, gosto muito de flor. Eu aprendo com o Zaca algumas técnicas como o degradê. Estamos fazendo o painel para colorir o bairro e deixar com mais vida”, explica.

Zaca é o artista plástico Zacarias Oliveira, integrante do Motirõ. Ele tem instruído jovens locais com técnicas de pintura, cenografia e mosaico que, além do aprendizado e da transformação de espaços, já se tornam também possibilidade de geração de renda. Enquanto assessora o trabalho coletivo nos painéis ele aponta para Cléber e conta que seu trabalho já vai além do Solar do Unhão. “Ele é um assistente, está se desenvolvendo e fazendo telas, já com propostas comerciais. Ele tá se descobrindo e tendo oportunidades”.

Para Zaca, o importante nas intervenções realizadas na comunidade é deixá-la com a cara dos moradores. “Queremos que eles se identifiquem. Não quero, como artista, impor um trabalho, fazer uma obra abstrata porque eu gosto. O espaço é deles e queremos que eles se vejam, eles saem, eles entram, eles cuidam da comunidade”, explica. Nesse espírito estava sendo refeito um painel muito apreciado na comunidade e que se tornou cenário de fotos para turistas também. No painel, grandes asas de anjo são retratadas próximas ao cenário familiar dos arcos que sustentam a Avenida Contorno no acesso à comunidade. A mesma lógica guiou também a recuperação da escadaria da comunidade que foi adornada em mosaico com o tema Freefire, o jogo online preferido dos adolescentes da área. A atividade aconteceu em novembro e também faz parte do projeto Unhão das Artes.

Exposição Fotográfica ao ar livre

Os jovens reunidos jogando na escadaria do Free Fire são os únicos personagens masculinos infiltrados na exposição fotográfica “Mulheres da Comunidade”, do fotógrafo italiano Antonello Veneri, disposta nos muros e casas da comunidade. Com a maioria das famílias sendo chefiadas por mulheres, a exposição é uma justa homenagem às forças femininas da comunidade. “O pessoal passa e gosta de se ver retratado”, conta Javier Angonoa, coordenador do projeto. Os retratos das mulheres mais velhas se enraízam nas paredes e muros. Seus rostos contam a história da comunidade e convivem com retratos de jovens e crianças que apontam para o futuro do Solar do Unhão.