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Coletivo De Transs Pra Frente promove debate sobre serviços de saúde para comunidade trans em Salvador

Genilson Coutinho,
03/08/2017 | 11h08

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Falta de cobertura e acolhimento, discriminação, assédio, invasão de privacidade e falta de capacitação dos profissionais de saúde são alguns dos obstáculos que formam a realidade de pessoas trans e travestis. Neste sentido, o Coletivo De Transs Pra Frente promove na próxima quarta-feira, 9, no Teatro Gregório de Mattos, um debate aberto a todos os profissionais da saúde da Bahia, buscando aproximar o campo das necessidades reais da comunidade trans e travesti, e da discussão a nível internacional sobre a despatologização das identidades de gênero.

Segundo a pesquisadora e referência no debate sobre saúde trans, Viviane Vergueiro, “não é possível pensar a despatologização de pessoas trans e travestis sem pensar nas violências, exotificações e apagamentos delas na saúde integral e suas relações com a linguagem utilizada na Classificação Internacional de Doenças (CID) para nos descrever”.

Para ilustrar a questão, no contexto brasileiro são poucos e ineficientes os serviços específicos — localizados em aproximadamente 5 cidades no país –, e a maioria dos profissionais de saúde não sabem e/ou não querem atender esta população, o que torna as violências algo comum no atendimento. Em Salvador, a população trans e travesti aguarda, sob situações de vulnerabilidade e violação de direitos, pelo início dos atendimentos do Ambulatório Trans do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes). O serviço, cadastrado junto ao Ministério da Saúde, teve liberação para instalação em setembro de 2016, mas até hoje não há previsão para a abertura.

Nesse sentido, Viviane aponta que “o coletivo De Transs pra Frente quer convidar diálogos sobre as estratégias de visibilização das violências que acontecem conosco no âmbito da saúde, para que possamos demandar justiça, reparação e transformações nos serviços, assim como lutar para que tenhamos acesso digno à nossa saúde integral, o que inclui (mas não se limita) a saúde específica (terapias hormonais e procedimentos cirúrgicos, por exemplo)”.

O ideal, de acordo com as Portarias nº 1.707 e nº 457 do Ministério da Saúde, de agosto de 2008, e ampliadas pela Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013, é que o Processo Transexualizador fosse realizado pelo SUS com garantia de “atendimento integral de saúde a pessoas trans, incluindo acolhimento e acesso com respeito aos serviços do SUS, desde o uso do nome social, passando pelo acesso a hormonioterapia, até a cirurgia de adequação à identidade de gênero e social”.

Viviane Vergueiro ainda diz que relacionar as dificuldades do acesso à saúde com a patologização das identidades trans como transtorno mental, pode ajudar na compreensão da relação dos profissionais com as pessoas assistidas. “Entender a patologização é compreender melhor as relações de poder que fazem as pessoas trans e travestis serem invisíveis e marginais nos currículos educacionais (gerais e na saúde), nas instituições de ensino e de atenção à saúde, e também nos relacionamentos (violentos, não raro) destas pessoas com profissionais de saúde”.

Para dialogar sobre estes conflitos, a mesa do próximo De Transs Pra Frente terá como tema a “Despatologização trans e travesti: autonomia, cuidado, conhecimento”. Para pensar o assunto no campo prático, do acesso à saúde, também serão discutidos elementos da próxima revisão do Código Internacional de Doenças (CID), como a retirada das identidades trans da seção de transtornos da identidade sexual (F64 — Transtornos da identidade sexual), e sua relação com os direitos das pessoas trans e travestis à saúde, bem-estar e à identidade.

A mesa contará com a mediação da psicóloga Bila Brandão, psicóloga clínica; e participação de Carlos Porcino, transativista, psicóloga voluntária na ATRAS e doutoranda pela UFBA; Fernando Meira, médico de família e articulador do Transaúde; e Viviane Vergueiro, ativista transfeminista e pesquisadora do CuS-UFBA. A abertura fica por conta da cantora Yuretta Sant’Anna, que apresentará um pocket show.

SERVIÇO:

O que: 14ª edição do De Transs Pra Frente – Despatologização trans e travesti.

Quando: 9 de agosto de 2017.

Onde: Teatro Gregório de Mattos.

Quanto: Pague quanto puder.